Ultima atualização 20 de maio

O impacto que o seguro educacional ainda não sentiu

Segundo dados da Susep, a carteira teve um ano de crescimento em 2020, apesar da pandemia. Entretanto, muitos alunos da rede privada caminham para a escola pública por falta de condições financeiras

EXCLUSIVO – De acordo com dados da Secretaria Estadual de Educação, 15.165 alunos foram transferidos da rede privada para a pública de ensino. As universidades experimentaram aumento na taxa de inadimplência na 11,8% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com informações do Instituto Semesp, que representa mantenedoras de instituições particulares. Assim, era de se esperar que o seguro educacional fosse atingido, entretanto, números da Susep mostram que o resultado de 2020 foi de R$ 45.610 mil em prêmios diretos, perante R$ 32.296 mil em 2019, representando um crescimento de 41,22%.

Poucas seguradoras operam este produto e as condições atuais não estimulam a entrada de novos atores. A Mapfre lidera este mercado e notou a adaptação das instituições de ensino à nova realidade. “Em um primeiro momento, com as restrições devido à pandemia e a necessidade de distanciamento social, assim como todas as incertezas da pandemia, muitas instituições ficaram apreensivas com a manutenção dos seus serviços e recursos financeiros devido à necessidade de adaptação para aulas virtuais, algo que não estava em seus planejamentos”, conta André Serebrinic, diretor de Vida e Previdência da Mapfre.

Levando em conta os novos desafios, as instituições inovaram em seu modelo de ensino, avançando para as aulas remotas, garantindo a permanência dos filhos nas escolas. O maior impacto aconteceu entre as escolas de educação infantil, cujos pais tinham enorme necessidade da atuação dos professores e cuidadores por conta da dificuldade do ensino a distância na primeira infância.

Serebrinic explica: “como o Seguro Educacional da Mapfre cobre também os eventos ocorridos com os segurados durante as aulas virtuais, percebemos que as escolas fizeram um grande esforço para manutenção dessa proteção”. Neste período, a seguradora buscou alternativas para a manutenção do seguro junto às escolas, com o intuito de continuar fornecendo essa proteção importante aos seus segurados e responsáveis financeiros.

Entretanto, há o problema da capacidade financeira para a contratação do seguro educacional. Ermerson Barbosa, diretor da Baroli Corretora, avalia que as escolas de educação infantil, mesmo tendo maior demanda são as que possuem menor potencial para aquisição de um seguro educacional, justamente por trabalharem com valores mais baixos e com menor potencial de caixa.

Barbosa acredita que este não seja um bom momento para falar sobre gastos adicionais. “Infelizmente, é assim que muitas instituições ainda enxergam o seguro educacional”, lamenta, acrescentando que como “pai, não vejo nesta despesa um custo adicional, mas as escolas não querem acrescer nenhum outro custo às suas despesas”. 

“A evasão escolar observada em 2020 de alunos das escolas particulares para as públicas gera impacto na diminuição dos volumes de prêmios, e não nas coberturas de seguro em si, assim como se observa uma redução das receitas das escolas privadas”, avalia Serenebric.

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Por outro lado, “o produto é de pouco conhecimento do público em geral e tem muita oportunidade de crescimento. Soma-se a isso o mercado de cursos de idiomas, profissionalizantes e superiores, que ainda são muito pouco atendidos”, avalia Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência.

Para ele, a pandemia acabou criando novas oportunidades de expansão. Na Bradesco, o crescimento do seguro educacional em 2020 foi 83%, bem acima do 41% consolidado pelo mercado. “Em momentos de instabilidade econômica, há uma preocupação maior com questões como o desemprego, somado ao risco de uma contaminação e morte em função da Covid-19”, pondera Castello. Da mesma forma como o seguro prestamista funciona como uma proteção para o tomador de crédito e para a instituição financeira, o seguro educacional é a proteção para os pais, alunos e escolas com o objetivo de garantir a continuidade da educação. O produto oferece confiança e auxilia na continuação dos estudos caso ocorra alguma eventualidade que venha afetar a capacidade de pagamento da mensalidade por parte do contratante.

Castello ressalta que, logo após o início da pandemia, houve um aumento exponencial da procura por seguro educacional por parte de grandes redes de ensino, inclusive de idiomas. “Atribuímos este efeito à pandemia, que afetou a renda de muitos brasileiros, principalmente aqueles autônomos. Na BVP conseguimos fechar novos contratos neste período. Acreditamos ser uma tendência e fazer parte da maior conscientização da necessidade de proteção para situações adversas e inesperadas”, avalia.

Senebrinic tem uma opinião semelhante. Para ele, a sensação de uma pandemia fora de controle trouxe preocupação aos pais (ou responsáveis financeiros) com relação à possibilidade de perderem a vida ou seus empregos e, diante disso, se questionarem sobre como manter seus filhos em uma escola particular nesse cenário de incertezas. “Isso tudo contribui com a percepção da população sobre importância de um seguro educacional que cobre os eventos dos segurados independentemente de estarem fisicamente nas escolas, o que permite a proteção também durante as aulas online e qualquer momento contemplado na cobertura”.

O corretor de seguros Emerson Barbosa, que é especialista em seguro educacional, afirma que a comercialização do seguro educacional ainda encontra obstáculos. “Eu conversei com mais de 100 mantenedores de escolas particulares, de vários níveis de ensino, e a maioria deles ainda acredita que o prêmio do seguro pode encarecer a sua operação”, lamenta, ao lembrar que por se tratar de profissionais ligados à educação espera-se que eles tenham maior preparo em relação à proteção de pais e alunos.

“Atrelada a toda essa situação, a Mapfre, acompanhando o cenário socioeconômico, buscou alternativas para a manutenção do seguro junto às escolas, com o intuito de continuar fornecendo essa proteção importante aos seus segurados e responsáveis financeiros”, antecipa Serebrinic. Castello, da Bradesco, ressalta que as escolas ficaram vazias, mas a grande maioria não teve as aulas suspensas. “Notamos interesse pela manutenção e disseminação do produto, uma vez que ele oferece proteção completa para a instituição pois cobre desemprego do responsável financeiro, tão sensibilizado durante este período crítico, e a morte, que tem crescido em função da pandemia”.

Perspectivas

Apesar dos resultados positivos apontados pelas estatísticas da Susep, para os corretores ouvidos pela reportagem, sediados em São Paulo, 2020 foi um ano muito ruim. Paulo , da Klima Corretora de Seguros, que detém a conta do Sindicato das Escolas de Ensino Particular de São Paulo, destaca que “muitas escolas fecharam e, muitas das que permaneceram abertas, cancelaram o seguro para reduzir custos”.

Serebrinic, da Mapfre, diz que a seguradora tem a expectativa para 2021 é de que o desempenho seja similar ao observado em 2020, ou seja, sem aumento significativo de sinistros, mas com o esforço das instituições de ensino em manter a proteção e nosso empenho conjunto em continuar fornecendo esse importante produto aos pais ou responsáveis financeiros. “Esperamos que o cenário pandêmico melhore, que possamos retornar ao normal, com a educação particular voltando a receber novos estudantes e que a proteção seja mantida pelas instituições que possuem o Seguro Educacional. Além disso, espera-se que outras escolas, que hoje não oferecem essa proteção, passem a oferecê-la, frente a sua importância em momentos desafiadores como o que estamos vivenciando”.

Um pequeno aumento das consultas sobre seguro educacional foi sentida por Emerson Barbosa a partir de setembro de 2020, por conta da inadimplência. “Neste momento, as escolas queriam comprar seguro para sinistro”, brinca. Porém, ele avalia que as escolas, quando tiverem algum oxigênio para respirar, possam raciocinar e ver que o seguro é uma ferramenta para se proteger deste mal. “Neste momento, não estamos colocando energia na comercialização deste produto”.

Mas Castello, da Bradesco Vida e Previdência, acredita que há uma oportunidade na abertura do diálogo trazida pela pandemia de uma maneira muito dura. “Temos que tentar comunicar, de uma maneira inovadora e criativa, os benefícios do seguro educacional e da proteção como um todo, desmitificando questões relacionadas ao produto. Afirmo que a ampliação do Seguro Educação é uma ferramenta importante para garantir a permanência de muitos estudantes brasileiros na escola, o que pode ter um poder transformacional no nível médio de educação do país”.

Para ele, as perspectivas da carteira são boas. “Acredito que exista uma propensão a um aumento da conscientização dos brasileiros sobre a relevância da educação financeira em geral e à necessidade de proteção. A vulnerabilidade ocasionada pela pandemia gerou um gatilho emocional na sociedade, no entanto, nós seguradoras temos a missão de ressaltar a necessidade de proteção a longo prazo, e um dos maiores desafios no ramo é a comunicação sobre as características do produto”, finaliza Castello.

Kelly Lubiato
Revista Apólice

* Matéria publicada originalmente na Edição 264

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