Ultima atualização 07 de outubro

Como a Covid-19 está mudando as tendências de sinistros e exposição ao risco

Segundo um relatório realizado pela AGCS, o impacto da pandemia moldará as tendências de perdas futuras para as empresas a médio e longo prazo

A pandemia de Covid-19 é um dos maiores eventos de perdas da história, tanto para empresas como para seguradoras. Entretanto, não é apenas a magnitude das perdas que não tem precedentes. As tendências de sinistros e a exposição ao risco podem evoluir tanto a médio como a longo prazo como resultado da pandemia. Com a redução da atividade econômica durante as fases de lockdown, os sinistros tradicionais de Property e RC diminuíram, principalmente no setor de aviação e carga, como também em outros segmentos, que apresentaram uma queda nos acidentes de trabalho, nas estradas e em espaços públicos. É o que aponta o novo relatório “Covid-19: Mudando os Padrões de Sinistros” da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS).

“O surto de coronavírus reduziu o risco em algumas áreas e, ao mesmo tempo, o modificou e o acentuou em outras. As mudanças mais amplas na sociedade e na indústria trazidas e aceleradas pela pandemia provavelmente terão um impacto a longo prazo nos padrões de sinistros e nas tendências de perdas no setor de seguros corporativos”, diz Thomas Sepp, diretor de Sinistros da companhia. “A crescente dependência da tecnologia, a mudança para o trabalho remoto, a redução das viagens aéreas, a expansão da energia verde e da infra-estrutura e um repensar das cadeias de abastecimento globais moldarão as tendências de perdas futuras para as companhias e seus seguradores”.

As estimativas variam, mas atualmente espera-se que a indústria de seguros pague até US$ 110 bilhões de sinistros relacionados à pandemia em 2020, de acordo com a Lloyd’s. Só a seguradora reservou cerca de 488 milhões de euros (US$ 571 milhões), especialmente para o cancelamento de eventos ao vivo e a interrupção de produções cinematográficas na indústria do entretenimento.

Aumento e diminuição

“Temos visto sinistros em algumas linhas de negócios, tais como seguros de entretenimento, surgirem durante a Covid-19, enquanto os sinistros tradicionais de Property e RC caíram durante os períodos de fechamento”, diz o diretor Global de Sinistros da empresa, Philipp Cremer. “Ainda há um potencial de ocorrências à medida que fábricas e empresas reiniciam as atividades após um período de paralisação, além do padrão de desenvolvimento mais longo nos sinistros de terceiros das linhas de long-tail”.

Notificações de sinistros de acidentes automobilísticos, escorregões e quedas ou ferimentos no local de trabalho diminuíram à medida que mais pessoas ficavam em casa, e com o fechamento temporário de muitas lojas, aeroportos e empresas durante os lockdowns em todo o mundo. A seguradora também notou um impacto positivo na regulação de sinistros nos EUA devido à suspensão dos tribunais e julgamentos. Alguns requerentes têm sido mais abertos a negociar acordos fora dos tribunais em vez de esperar muito tempo até que seu caso seja agendado, uma tendência também destacada em outra recente publicação da companhia sobre tendências em perdas de responsabilidade civil. Em geral, é provável que a atividade de sinistros volte a crescer após a retomada da atividade econômica.

O relatório da empresa identifica o impacto da pandemia nas tendências de sinistros em diferentes linhas de seguros e como eles podem evoluir no futuro:

Property/Business Interruption

Sinistros de danos à propriedade não foram significativamente afetadas pela Covid-19, pois os causadores de perdas, como o clima, não estão correlacionados à pandemia. Entretanto, à medida que as linhas de produção reiniciam e aceleram (ramp up) suas atividades, isto pode exacerbar o risco de quebra e dano a máquinas ou até mesmo de incêndio e explosão. “O reinício de uma fábrica é um teste de estresse. Já vimos alguns sinistros relacionados com os ramp-ups nos últimos meses, e podem ocorrer mais”, diz Raymond Hogendoorn, diretor Global de Sinistros ShortTails da empresa. Além disso, com menos pessoas em uma instalação, inspeções e manutenções são muitas vezes postergadas ou, ainda, incidentes de perda, como incêndio ou vazamento de água, podem ser percebidos tarde demais, aumentando a gravidade dos danos.

A Covid-19 causou o fechamento e a interrupção de negócios globalmente, que muitas vezes podem não ser cobertas na ausência de danos físicos como gatilho da cobertura. No entanto, a pandemia teve impacto na liquidação de sinistros de interrupção de negócios (BI) padrão em diferentes maneiras. Quando um fornecedor automotivo dos Estados Unidos foi atingido por um tornado na primavera, a perda em BI resultante foi menor do que durante as operações normais.

Por outro lado, as medidas de contenção durante o lockdown podem levar a interrupções mais longas e caras, pois as restrições de acesso evitam uma mitigação eficaz de perdas e prolongam o período de retomada, como um incêndio e explosão em uma fábrica de produtos químicos na Coréia do Sul demonstraram.

Seguros de Responsabilidade Civil e Directors & Officers (D&O)

Até o momento a companhia tem visto apenas alguns sinistros de RC relacionado à Covid-19. Sinistros de RC são tipicamente de longo prazo, reportados tardiamente, de modo que a responsabilidade geral e os pedidos de indenização de funcionários relacionados à doença ainda podem acontecer. Vários surtos de coronavírus foram ligados a ambientes de alto risco, como academias, cassinos, casas de repouso, navios de cruzeiro ou fábricas de processamento de alimentos/carne.

Uma onda de insolvências, bem como de litígio conduzido por evento, poderiam ser fontes potenciais de sinistros de D&O. A pandemia poderia desencadear litígios contra empresas, seus diretores e executivos, se for percebido que a Diretoria não se preparou adequadamente para uma pandemia ou para períodos prolongados de renda reduzida.

Aviação

A indústria da aviação tem visto poucos sinistros diretamente relacionadas com a pandemia até o momento. Em um pequeno número de notificações de responsabilidade civil, os passageiros processaram as companhias aéreas por cancelamentos ou interrupções. Os acidentes com escorregões e quedas em aeroportos, usualmente as causas mais frequentes dos sinistros em aviação, diminuíram com a redução maciça do tráfego aéreo global, que caiu 94% em abril de 2020 (ano a ano).

“Embora uma grande parte da frota mundial de companhias aéreas tenha parado, a exposição a perdas não desaparece simplesmente. Ao contrário, elas mudam e podem criar novas acumulações de risco”, diz Joerg Ahrens, diretor Global de Sinistros Long-Tails na seguradora. Por exemplo, aeronaves em terra podem ser expostas a danos causados por furacões, tornados ou tempestades de granizo. O risco de manobras ou incidentes no solo também aumenta e pode resultar em sinistros mais custosos.

Tendências de sinistros em longo prazo

A Covid-19 está acelerando muitas tendências, tais como a crescente dependência da tecnologia e a crescente conscientização das vulnerabilidades das complexas cadeias globais de abastecimento. Espera-se que muitos negócios revejam suas cadeias e aumentem sua resiliência. Isto pode envolver alguma reformulação de áreas críticas de produção por causa da interrupção causada pela pandemia. Tal medida provavelmente afetaria a frequência de sinistros e os custos de quaisquer futuras interrupções de negócios.

Enquanto isso, o crescimento do teletrabalho significa que as empresas podem ter menos ativos imobiliários e menos colaboradores presencialmente no futuro, mas haveria uma mudança correspondente nos riscos cibernéticos e de remuneração de suas equipes. Durante a pandemia, as exposições ao risco cibernético aumentaram, com relatos sobre o aumento do número de ataques de ransomware e de comprometimento de e-mails comerciais. Até o momento a companhia viu apenas um pequeno número de sinistros cibernéticos relacionadas à Covid-19.

Regulação digital de sinistros

A Covid-19 também reforçou a necessidade de digitalização do tratamento dos sinistros. Inspeções e avaliações remotas de sinistros de tornados, inundações ou grandes acidentes agora são possíveis através de tecnologia de imagem, drones, satélites ou ferramentas como MirrorMe.

“Há apenas alguns anos, os processos eram em sua maioria manuais e feitos em papel. Muitas pessoas não imaginariam lidar com sinistros remotamente”, diz Cremer. “Agora a tecnologia desempenha um papel fundamental. A plataforma de sinistros baseada na nuvem da companhia passou no teste do coronavírus com nossos processos digitais, provando ser resistentes durante todo o lockdown. Isto, juntamente com uma abordagem fortemente colaborativa de nossos clientes e brokers, permitiu que nossas equipes atendessem o aumento de sinistros e prestassem serviços especializados sem interrupção enquanto trabalhavam remotamente”, ressalta o executivo.

N.F.
Revista Apólice

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