Ultima atualização 09 de setembro

Empresas enfrentam mudanças na perda de responsabilidade civil no pós-pandemia

Segundo um relatório produzido pela AGCS, fatores como o aumento de litígio, reparações coletivas e decisões judiciais provavelmente terão impacto nas companhias

As exposições de responsabilidade civil para empresas em todo o mundo estão aumentando. Fatores como o aumento de litígio, reparações coletivas e grandes decisões judiciais, recalls frequentes nos setores automotivo e alimentício, movimentos e tumultos civis em um número crescente de países e preocupações ambientais provavelmente terão impacto nas empresas e suas seguradoras no futuro, tudo isso diante de uma pandemia global desafiadora, de acordo com um novo relatório da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS) que destaca cinco tendências para o setor.

“Os preços no mercado de seguros de responsabilidade civil podem ter mudado nos últimos meses, porém as tendências de inflação social e as grandes decisões judiciais se mantém nos Estados Unidos. Isto combinado com o aumento da exposição de empresas estrangeiras que fazem negócios nos EUA e um aumento de recalls de peças automotivas que estão pressionando as seguradoras de RC”, diz Ciara Brady, diretora Global de Responsabilidade Civil da companhia. “Adicione ainda o panorama econômico incerto, instabilidade política e impactos desconhecidos do coronavírus a isto e teremos um mercado desafiador tanto para clientes, corretores, quanto para seguradoras. No mesmo momento em que reagimos às novas tendências de perda na subscrição, a empresa permanece comprometida em apoiar os clientes com soluções para transferência de risco e capacidade de lidar com as exposições de RC de hoje”, afirma a executiva.

Inflação social nos EUA e aumento global das reparações coletivas

A inflação social é um fenômeno especialmente prevalecente nos EUA, impulsionada pelo crescente surgimento de financiadores de litígios, sinistros mais liberais para indenização de funcionários, bem como novos conceitos de delito e negligência. O valor médio dos 50 principais veredictos dos EUA de 2014 a 2018 quase dobrou de 28 milhões para 54 milhões de dólares.

O financiamento de litígios não está aumentando só nos EUA, mas também na Europa e em outras partes do mundo, contribuindo para uma tendência crescente de reparação coletiva, à medida que os obstáculos para os consumidores são reduzidos para embarcar em ações coletivas. Países que podem não estar historicamente associados a este aumento, como a Arábia Saudita e a África do Sul, são classificados como de “risco médio” para uma empresa enfrentar uma potencial ação coletiva nestas jurisdições, de acordo com o guia de países financiadores de litígios da seguradora.

Segundo os especialistas da empresa, é muito cedo para identificar uma tendência reversa, mas o fechamento de tribunais devido à pandemia de Covid-19 pode retardar a inflação social, uma vez que os requerentes percebem que pode levar anos até que seu caso seja julgado perante um júri e, portanto, podem estar mais dispostos a chegar a um acordo fora do tribunal.

Aumento dos custos de reparo e recall automotivo

Nos últimos anos tem havido um número crescente de recalls na indústria automotiva, tanto nos EUA quanto na Europa. Nos EUA, houveram 966 recalls de segurança que afetaram mais de 50 milhões de veículos em 2019, mais de dois por dia. Na Europa, o número de recalls atingiu 475 em 2019, sendo o maior número em um único ano em toda a década de 2010 e 11% a mais em relação ao ano anterior. Em muitos casos, os componentes podem ser produzidos por um dos poucos fornecedores que prestam serviços a toda a indústria, o que pode levar a uma acumulação de riscos, como resultado, os recalls se tornaram maiores e mais caros com o tempo.

A crescente complexidade da tecnologia é outro fator importante para as perdas da indústria, devido a fatores como o aumento do tempo e da mão-de-obra para fazer reparos, treinamento mais especializado para mecânicos e o aumento do preço das peças.

Riscos de segurança alimentar e recalls caros

Recalls de alimentos estão aumentando globalmente devido a fatores como manufatura global, menos fornecedores em cadeias de abastecimento complexas, maior controle regulatório, bem como melhor tecnologia, que permite uma maior rastreabilidade e detecção de patógenos. Os fabricantes precisam reconhecer estes fatores e ser diligentes sobre quem são seus fornecedores e realizar auditorias regulares. A pandemia de coronavírus pode ter um impacto significativo, trazendo desafios especiais, nos recalls de alimentos no futuro: Por um lado, os padrões de higiene aumentaram drasticamente, o que poderia reduzir os riscos de contaminação, que são uma das principais causas de recalls de alimentos e bebidas. Por outro lado, com novas operações, fábricas temporariamente fechadas ou reiniciando as atividades, equipes trabalhando remotamente, diminuição de vistorias regulares e cadeias de abastecimento inconstantes, a exposição ao risco também poderia aumentar, de acordo com os especialistas da companhia.

“Apesar da tendência crescente dos recalls alimentícios, não percebemos na América Latina o mesmo movimento na contratação de seguros com coberturas para este tipo de perdas”, afirma Juliana Alves, diretora Regional de Responsabilidade Civil AGCS Latam. “Grande parte dos segurados contrata a cobertura de recall como sub-limite e com escopo relativamente limitado”, diz.

É ainda raro encontrarmos no mercado latinoamericano, por exemplo, apólices de CPI (Contaminated Product Insurance) emitidas. Dessa maneira, nota-se a necessidade do desenvolvimento de uma cultura da proteção e o aumento da percepção do valor que o seguro agrega à marca.

Manifestações e movimentos civis ameaçam além dos danos físicos

Os protestos dos “coletes amarelos” na França, protestos no Chile, Hong Kong e Bolívia e, mais recentemente, os movimentos anti-racismo nos Estados Unidos são exemplos de alta visibilidade do crescimento das manifestações civis em todo o mundo: A violência política causa cada vez mais danos à propriedade, perturbação além de perda de atração e receitas para muitas empresas. Como exemplo, espera-se que os protestos decorrentes da morte de George Floyd em muitas cidades americanas tenham causado perdas de mais de US$ 1 bilhão. Há inúmeros sinistros de notificados relacionados a greves, manifestações e movimentos civis, bem como para cobertura de saques.

De acordo com especialistas da empresa, o surto de coronavírus pode ter reprimido temporariamente as manifestações civis em alguns países, mas as questões sociais subjacentes não foram resolvidas e outros protestos provavelmente ocorrerão em um futuro próximo.

Qualidade do ar interior após o coronavírus

Incidentes de poluição ambiental podem ter conseqüências prejudiciais para uma empresa. Dois riscos são particularmente importantes: a preocupação com a qualidade do ar interior com legionella e o crescimento de mofo e, em segundo lugar, o risco crescente de processos judiciais, multas e ações corretivas, à medida que cresce a conscientização pública sobre a poluição e o esgotamento de reservas naturais.

Os riscos de mofo e legionella aumentaram com o fechamento de edifícios comerciais e hotéis pelo coronavírus: Quando certos sistemas de qualidade do ar ou sistemas de água ficam inativos por um tempo, eles são mais suscetíveis à contaminação por bactérias. Além disso, o crescimento contínuo e não detectado de mofo pode resultar em gestores de imóveis atrasarem as manutenções ou reformas planejadas.

Principais causas de sinistros de responsabilidade civil e impactos potenciais do coronavírus

O relatório também analisa algumas das principais causas de sinistros de responsabilidade civil no setor de seguros nos últimos cinco anos – incidentes com produtos defeituosos representam metade do valor – e analisa como o surto de coronavírus já está impactando o setor de seguros.

Com mais pessoas em casa devido à pandemia e com o fechamento temporário de muitas lojas, aeroportos e empresas, as notificações de escorregões e quedas, que são uma das principais causas de responsabilidade civil, diminuíram. No entanto, o mercado pôde ver aumento nos sinistros de terceiros por ferimentos ou danos materiais decorrentes de falhas na não proteção contra o coronavírus, bem como ações de funcionários contra empregadores que não os protegeram adequadamente.

Responsabilidade civil de produto e sinistros de recall tendem a acompanhar a atividade econômica, de modo que poderia haver um impacto nestas áreas com a retração econômica. Entretanto, o reinício da produção após períodos de parada pode dar origem a incidentes de erro humano.

N.F.
Revista Apólice

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