Ultima atualização 13 de novembro

Setor tem decréscimo médio geral de 0,2% até setembro

Resultado médio do mercado não reflete mais o dinamismo intrassetorial, contrastando com o crescimento acima de dois dígitos dos ramos Patrimonial Massificados, Transportes e Rural

A Susep divulgou os dados do mercado de seguros até setembro de 2018. Conforme esta Carta vem chamando a atenção, com o ciclo econômico ainda baixo, e considerando o novo padrão de concorrência e as diferentes preferências por proteção manifestadas pelos consumidores, o desempenho médio do setor segurador torna opaca a dinâmica intrassetorial. Ou seja, deixa de revelar o desempenho comparativo entre os dois grandes segmentos do mercado – Ramos Elementares e Coberturas de Pessoas – e entre os diversos ramos de seguros abrigados nesses grupos.

(Crédito: Divulgação Bradesco Saúde) Marcio Coriolano

Comparando-se os nove meses de 2018 com idêntico período do ano passado, o decréscimo médio geral do mercado foi de 0,9%. Entretanto, para adequada comparação, é preciso desconsiderar o DPVAT, já que teve tarifa reduzida por decisão dos órgãos reguladores. Retirado esse seguro, o decréscimo é de 0,2%, virtualmente um estado de estabilidade em termos nominais. Já ao serem segregados segmentos e ramos de seguros, tem-se um melhor quadro da resposta do setor segurador e das forças de distribuição de produtos às preferências de pessoas, famílias e empresas.

Assim, destacam-se os ramos de seguros com desempenho acima de dois dígitos, que são o seguro Rural e o seguro de Transportes (15,1%) e o ramo Patrimonial Massificados (14,4%). Perto de dois dígitos, figuram o seguro de Crédito e Garantias (9,8%), o seguro de Responsabilidade Civil e os Planos de Vida Risco, ambos com 9,5%.

Todos aqueles ramos do segmento de Ramos Elementares, e mais os de Vida Risco, parecem refletir o comportamento cauteloso de famílias e empresas de se colocarem ao abrigo da proteção securitária em momento de ameaças contra o patrimônio acumulado, ameaças do desemprego, garantias dos empréstimos tomados, bem como a resiliência de atividades econômicas contracíclicas, como a agroindústria e o carregamento de obras ainda da época do ciclo econômico alto.

Na outra ponta do desempenho, os Planos de Acumulação em Cobertura de Pessoas permanecem afetados pelo ambiente de volatilidade de ativos concorrentes. O decréscimo do VGBL já chegou a 9,4%, enquanto o PGBL viu reduzir a sua arrecadação em 2,2%, muito embora o patrimônio acumulado de ambos ainda seja superlativo. Pela sua magnitude na arrecadação global do setor segurador, são esses dois produtos de caráter previdenciários que influenciam a média negativa do mercado.

Como de praxe, alinham-se, abaixo, os gráficos de desempenho dos grandes segmentos dos seguros, desta vez em médias de 12 meses móveis. O que apenas referenda as diferentes contribuições das linhas de negócio dos seguros.

Marcio Coriolano, presidente da CNseg

Análise conjuntural

Os dados referentes ao desempenho do mercado de seguros regulado pela Susep em setembro passado continuaram sinalizando recuperação da atividade securitária em 2018. A arrecadação de seguros e aportes a planos de previdência e títulos de capitalização totalizaram R$ 18,7 bilhões nesse mês com variação negativa de 13,5% ante o mês anterior. Entretanto, tal resultado não deve preocupar, pois decorre de o mês de setembro ter tido 19 dias úteis contra 23 dias úteis em agosto (17,4% a menos). Desse modo, fazendo-se a conta da variação da arrecadação média por dia útil, verifica-se uma taxa positiva de 4,7% em setembro sobre agosto.

As comparações em 12 meses, em que se dilui a questão dos dias úteis mensais, confirmam a continuação do crescimento da arrecadação do grupo de ramos elementares, exceto DPVAT, e do grupo de planos de risco de cobertura de pessoas: no primeiro caso, no acumulado do ano até setembro frente ao mesmo período do ano anterior, a receita de prêmios subiu 8,7%; no segundo caso, houve acréscimo de 9,5%. No acumulado de 12 meses frente aos 12 meses precedentes, as taxas desses grupamentos de seguros foram, respectivamente, de 8% e 9,2%.

Essas taxas de expansão indicam forte crescimento da arrecadação em termos reais, isto é, descontada a inflação do período. De fato, em 2018, a inflação em 12 meses medida pelo IPCA tem girado em torno dos 4%, portanto, bem abaixo das taxas de crescimento de seguros referidas acima.
O lado problemático do mercado continua sendo o desempenho dos produtos com característica mista – financeira e securitária – como são os casos dos planos de acumulação VGBL, PGBL etc. e dos títulos de capitalização bem como, por decisão do CNSP, do seguro DPVAT.

Os planos de acumulação, responsáveis por mais de 40% da receita do mercado regulado pela Susep, tiveram queda da captação bruta de 8,8% e 8,9% respectivamente no acumulado do ano até setembro e no acumulado de 12 meses contra iguais períodos de anos anteriores. Os títulos de capitalização tiveram expansões inferiores à inflação nessas bases de comparação, 2,6% e 1,9%, respectivamente. Esses produtos, que cresceram aceleradamente em anos anteriores, parecem se ressentir de três fatores: a) o desemprego elevado que reduz a capacidade de poupança da população; b) as baixas taxas de juros, que induzem os poupadores a procurarem aplicações mais arriscadas e c) a preocupação com as altas taxas de administração que reduzem a rentabilidade de certos planos de acumulação.

Desagregando-se mais os dados, e no acumulado do ano, chamam atenção as expansões de 15,1% dos seguros de transportes, de 15,1% do seguro rural, de 9,8% dos seguros de crédito e garantia e de 8,9% dos seguros patrimoniais, este último o segundo componente mais importante do grupo de ramos elementares. Essas taxas são claramente indicadoras da retomada concomitante da atividade econômica.

O principal componente do grupo – os seguros de automóveis – manteve trajetória de recuperação com a receita crescendo 6,6% no acumulado de 2018 frente ao idêntico período de 2017. Note como principal fator causal o crescimento das vendas nominais no varejo de veículos, motos, partes e peças que o IBGE aferiu em cerca de 16% no mesmo período.

No que se refere aos planos de risco de seguros de pessoas, e nessa mesma base de comparação, continuaram notáveis as taxas de crescimento dos prêmios de seguro prestamista (+21,3%) e de seguros de vida (+8,5%). O caso do seguro prestamista é emblemático: de uma participação de apenas 3,7% no total da arrecadação de planos de risco de cobertura de pessoas em 2003 passou para quase 30% agora em 2018, indicativo da continuação do processo de inserção de camadas crescentes da população no mercado de consumo de massas, apesar da recessão. E a expectativa é de que, retomado o crescimento da economia, esse seguro acelere sua expansão, pois se tornou uma prática consolidada nas instituições de crédito e de consumo de bens duráveis.

No acumulado do ano até setembro, a sinistralidade em ramos elementares foi de 50,1% com queda absoluta de 3,2 p.p frente ao mesmo período de 2017. No grupo de planos de riscos de coberturas de pessoas, a sinistralidade foi de 25,6%, com queda absoluta 7,1 p.p na mesma base de comparação. Em ramos elementares, o índice de despesas de comercialização foi de 21,5% no acumulado do ano até setembro, caindo 1 p.p em termos absolutos ante o mesmo período de 2017. Em planos de risco de cobertura de pessoas, tal índice foi de 29,4%, com redução de 0,1 p.p em termos absolutos na mesma base de comparação.

No acumulado do ano até setembro de 2018 e no agregado das seguradoras, as despesas administrativas cresceram 3,3% ante igual período de 2017, o resultado financeiro caiu 15,2%, o resultado patrimonial aumentou 32% e o lucro líquido, 19,3%. A rentabilidade em 12 meses do patrimônio líquido agregado foi de 22,6%, superior aos 19,8% do mesmo período do ano anterior. Um excelente resultado.

No total da saúde suplementar (segmentos médico-hospitalar e odontológico), os últimos dados da ANS se referem a junho de 2018. Assim, no 1° semestre de 2018, a receita de contraprestações montou a R$ 96,9 bilhões, 10,3% acima do primeiro semestre de 2017. A sinistralidade caiu ligeiramente, de 82,6% no 1° semestre de 2017 para 81,7% no mesmo período de 2018.

Passadas as eleições, as atenções voltam-se para a política econômica e social que será implementada pelo novo governo. Até o momento, tudo indica que este terá como norte a responsabilidade fiscal e monetária, a retirada de gargalos regulamentares diversos que travam a economia e privatizações de estatais deficitárias. O futuro parece, portanto, promissor, mas grandes serão também os obstáculos políticos. De todo modo, como os números acima demonstram, o mercado segurador está em ótimas condições para aproveitar a retomada econômica que se espera à frente.

Lauro Faria, economista da Escola Nacional de Seguros

M.S.
Revista Apólice

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