Ultima atualização 13 de junho

Brasileiros não entendem como a previdência funciona

43% da população brasileira dizem que a reforma da previdência é necessária; em contrapartida, 38% dizem que não, e 19% não souberam responde à questão

O Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado pela FenaPrevi, debateu as principais mudanças que podem ocorrer a partir de uma eventual reforma previdenciária. Como a proposta ainda não foi aprovada, o Brasil possui uma idade mínima baixa para a aposentadoria (53 anos para homens e 48 anos para mulheres), o que preocupa líderes do setor.

Segundo dados da pesquisa FenaPrevi-Ipsos, 43% da população brasileira dizem que a reforma da previdência é necessária; em contrapartida, 38% dizem o contrário, e 19% não souberam responde à questão.

Edson Franco, presidente da FenaPrevi, acredita que a aceitação por boa parte da população ainda não aconteceu por uma questão de comunicação. “A pessoas estão infelizes com a atual situação econômica, além disso, não entendem como o sistema previdenciário funciona”, enfatizou. “Nesse modelo, gasta-se muito mais do que se arrecada. É uma bobagem acreditar que apenas com o fim da corrupção esse problema estaria resolvido. 19% das pessoas não souberam responder a uma questão básica”, disse o presidente.

Já Priscila Grecov, secretária adjunta de Política Microeconômica do Ministério da Fazenda, foi mais ponderada. Para ela, a previdência só sofrerá impacto após uma mudança no ensino. “Tudo passa pela educação financeira. Se um adolescente de 13 ou 14 anos aprender na escola que guardar dinheiro é importante para o futuro, quando for mais velho, vai entender também a necessidade de investir em um plano previdenciário”, explicou.

Edson Franco

Apenas em 2017, o déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ficou em R$ 182,4 bilhões, com a despesa com benefícios previdenciários chegando a 8,4% do PIB brasileiro. “O grande problema não vem da corrupção. Há um desequilíbrio estrutural causado pela demografia. As pessoas estão envelhecendo”, analisou Franco. “A população economicamente ativa sofre para pagar as contas dos aposentados. No Brasil, ainda há uma cultura de aposentadoria antes dos 60 anos, e isso não pode continuar assim”.

José Cechin, diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), disse que o sistema previdenciário deve ter uma mudança paramétrica. “Como podemos ter viabilidade política para aprovar uma reforma como essa? Estamos muito atrasados. Adotamos, nos últimos 20 anos, algumas medidas similares a de vários países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas nada que fosse suficiente para uma mudança significativa”.

Jovens aposentados

O estudo da FenaPrevi registrou que 48% dos brasileiros pretendem se aposentar antes dos 60 anos. Outro dado que chamou a atenção é que 17% dos entrevistados disseram não saber com qual idade se aposentar. “Em alguns países desenvolvidos, principalmente na Europa, as pessoas se aposentam após os 65 anos de idade. Aqui, elas querem começar a receber os benefícios da aposentadoria e continuar trabalhando, isso corrompe o sistema”, explicou o presidente da entidade.

Outra questão analisada por Franco foi a que ganhou força nas redes sociais ainda no começo desse ano, quando os internautas falavam que quem deveria pagar as dividas decorrentes da previdência eram as empresas endividadas. A CPI da Previdência concluiu em dezembro de 2017 que o valor devido por sonegadores chegava à casa dos R$ 450 bilhões. “Isso é uma falácia. Essas empresas, em boa parte, estão falidas e não têm como sanar essas dívidas. Mesmo que tivessem, apenas um ano de déficit seria pago, ou seja, em longo prazo, não haveria uma solução”, disse Franco.

“O déficit é quase insustentável, mas tenho uma visão otimista. Na previdência complementar fechada, por exemplo, teremos mais segurança quando a estabilidade econômica e política chegar. As eleições estão próximas e essa é a nossa chance. Já nos planos de previdência aberta, precisamos ter mais conversão nas rendas que são aplicadas em longo prazo, pois as pessoas acabam resgatando sua quantia rapidamente, o que fere o sistema. Nosso foco deve ser a conscientização do investidor”, explicou.

Para Cechin uma das falhas no sistema previdenciário está na relação de confiança das pessoas. “Ninguém confia no Governo. As pessoas têm receio de guardar dinheiro, primeiro porque não entendem bem quando e como vão conseguir ter a quantia em mãos novamente, segundo porque os escândalos de corrupção tiram toda a credibilidade dos mandatários”, disse. “Se eu não confio no sistema, eu burlo. Não vou querer contribuir e nem quero ter que esperar até os 83 anos para poder usufruir o que guardei com 30 ou 40”, explicou.

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA/USP), apontou os motivos que acabam piorando o sistema previdenciário brasileiro:“1º, as regras de previdência acabam sendo diferentes para o servidor público e para o trabalhador privado; 2º, ela é cara, pois o Governo tem que pagar para quem contribui e para quem não contribui com ela; 3º, as pessoas ficam discutindo o déficit, mas o problemas são os gastos, 13% do PIB são destinados apenas à aposentadoria”.

Previdência complementar

A pesquisa também concluiu que 62% dos homens acreditam ser necessário ter uma previdência privada e não depender apenas do suporte do Governo, já entre as mulheres, o número ficou em 58%. Entre os entrevistados das classes A e B, 71% alegaram ser necessário o plano privado, já na classe C o número foi de 61%, entre os representantes das classes D e E apenas 38% mostraram preocupação em ter um plano complementar.

“É interessante ver que, com base na classe e também com o grau de escolaridade, o interesse pelo assunto diminui”, disse Franco. O presidente continuou falando que a entidade (FenaPrevi) defende a reforma e quer que haja uma maior igualdade na divisão do sistema. “São três milhões de funcionários públicos contra 27 milhões do setor privado. Quem presta serviços ao Governo acaba se aposentando mais cedo e recebendo de quatro a cinco salários mínimos (em média), enquanto o trabalhador que não serve diretamente ao Estado acabada se aposentando com mais idade e recebendo um aporte que vai de um a três salários mínimos (em média). Assim, a conta nunca vai fechar”, alegou.

“O setor público, em especial, precisa ter maior contribuição e os gastos devem ser proporcionais ao setor privado. Precisamos olhar para a reforma da mesma forma que olhamos para o mercado de trabalho, pois são duas coisas que andam juntas”, explicou o professor Zylberstajn. “O mercado protege o trabalhador, há o seguro desemprego, aviso prévio, multas contra demissões. O desemprego é combatido e o trabalhador é instigado, de certo modo, a investir em si mesmo”.

Para Franco “o setor de previdência privada tem que apostar em uma melhor distribuição, pois grande parte desse sistema está nas mãos das redes bancárias, mas mais de 40% da população brasileira não é bancarizada”. O executivo acredita que por isso a figura do corretor é primordial para o fechamento desses negócios.

Maike Silva
Revista Apólice

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