Ultima atualização 26 de março

Edição 223

evento | oficinas do empreendedorismo

A transformação digital não pode ser vista como ameaça

Organizado pelo Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo, evento mostrou que as mudanças estão acontecendo rapidamente, mas ainda há tempo para os profissionais encararem a nova realidade

Kelly Lubiato

As palavras de ordem do momento são mudança, transição e disrupção. Diante de um cenário político adverso, cheio de incertezas, e de uma economia cambaleante, o Sincor-SP organizou um evento com o objetivo de esclarecer os desafios que se apresentam neste período para os corretores de seguros. As Oficinas do Empreendedorismo mostraram que será preciso mais do que novos conceitos para a renovação deste setor da economia.

O encontro, realizado em Mogi das Cruzes, envolveu as lideranças locais, como o prefeito Marcus Mello, que abriu as portas da cidade para os corretores de seguros. “Quando a política é bem feita, a gente consegue melhorar a cidade. Sempre apoiaremos todos os empreendedores. Há necessidade de apoiar, desburocratizar e entender o que se passa dos dois lados do balcão”, sentenciou, mostrando que é possível liderar uma cidade com bons índices sócio-econômicos.

Alexandre Camillo, presidente do Sincor-SP, ratificou que o empreendedorismo tem sido a principal bandeira do Sincor-SP, porque é indispensável trabalhar esta postura para a autonomia, sustentabilidade e avanços dos profissionais. “Trabalhando neste sentido, mesmo na adversidade, conseguimos manter o crescimento do setor”.

A melhor orientação é o exemplo. Esta é a melhor forma de educar. “Para fazer o profissional empreender, estimulamos os profissionais através de treinamento dos colaboradores, implantamos programas de gestão, com transparência financeira, novo conceito visual, reformulação de eventos e marca nacional única em certificação digital”, apresentou Camillo.

O presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros, Armando Vergilio dos Santos Junior, disse que é importante fazer uma prestação de contas quando encontra os pares da classe. “Talvez este seja o momento mais crítico da política brasileira. Temos que ajudar o país a retornar aos trilhos e melhorar a qualidade de vida da população. Geramos poupança interna e segurança para a sociedade”, destacou.

Vergilio fez questão de ressaltar que a principal missão dos corretores de seguros é cuidar das pessoas, de suas conquistas e de sua saúde. Porém, ele lembrou que o mercado de seguros é altamente regulado, porque ele trata da segurança e estabilidade da poupança popular. “O mercado de seguros não pode ser operado por qualquer pessoa. Ele tem que ser operado por pessoas que respeitem um marco regulatório específico”, sentenciou.

Em seu discurso, o objetivo foi mostrar que o corretor de seguros não é contra a inovação, mas que ela deve chegar ao mercado cercada por um conjunto de regras para não prejudicar o consumidor nem os corretores de seguros, que correspondem a 85% da distribuição comercial. Nesta mesma linha, o superintendente da Susep, Joaquim Mendanha de Ataídes, mostrou o trabalho da autarquia no sentido de punir a operação ilegal de proteção patrimonial. Ele destacou que já foram enviados mais de 140 processos para o Ministério Público contra as associações de proteção marginal, e que há mais 120 processos em andamento.

“O corretor é um empreendedor nato”, ressaltou o presidente da Escola Nacional de Seguros, Robert Bittar, acrescentando, entretanto, que ele precisa olhar para o futuro com determinação e planejamento para entender o próximo objetivo. “Isso é o que nós da Escola fazemos, estimular o empreendedorismo para o mercado de seguros. Vocês se diferenciam de qualquer parte do mundo porque fizeram isso por esforço próprio, sem nenhum tipo de estímulo.

Mudança, transição e disrupção

Na abertura das Oficinas do Empreendedorismo, o presidente do Sincor-SP fez uma prestação de contas sobre a atuação da entidade para os seus pares.

Entre as novidades, ele apresentou a Câmara de Medição e Conciliação do Sincor-SP, que é um marco de aproximação com a sociedade. “Acredito que ao longo deste ano nos formamos como uma liderança, criando legitimidade para representar a classe. Caminhamos neste sentido. Esta representatividade nos permite participar de entidades nacionais, como a Fenacor e o Ibracor”, informou, complementando que isso resulta em participação na decisão das questões que afetam a classe dos corretores de seguros.

 

especial futuro | transformação digital

Lançado o desafio

Não se trata de modismo: a ordem agora é inovar. Todas as indústrias, inclusive a de seguros, fazem movimentos para adaptarem-se às evoluções e não ficarem para trás

Lívia Sousa

Mobilidade, inovação, realidade aumentada, inteligência artificial, Internet das Coisas, cloud, aplicativos. O digital saiu da área de Tecnologia da Informação e invadiu os negócios, agora mais exigentes, participativos,independentes e focados nos projetos que impactam a experiência e o dia a dia do consumidor.

Cientes de que esse é um caminho sem volta, todos os segmentos passaram a olhar com mais cautela para a transformação digital. No entanto, precisam ter em mente que esse novo conceito é vasto e disruptivo. Isso significa que o fato de uma companhia contar com um aplicativo, por exemplo, não faz dela transformadora ou inovadora. Só se destaca quem realmente respira e vive a transformação digital, ultrapassando os desafios da implantação e atingindo a melhoria na experiência e percepção do cliente. “A empresa precisa mergulhar na mudança. Isso tem que partir dos líderes seniors. Sem o comprometimento deles o projeto está fadado ao fracasso”, destaca Demian Cury, head da vertical de seguros da Sonda, companhia latino americana de soluções e serviços de tecnologia.

O Brasil ainda está distante da maturidade digital em comparação com Estados Unidos e Europa. Não por falta de interesse, mas pela rigidez do órgão regulatório brasileiro, que exige análise criteriosa e cautela na implantação das otimizações. Com a entrada das fintechs, startups e conceitos como banco digital e blockchain, Cury acredita que o processo de maturidade tende a acelerar e, em um futuro próximo, pode inclusive fazer do Brasil um país referência na área tecnológica para a indústria financeira.

Proximidade com clientes e corretores

Algumas gigantes do setor já apresentam novidades na área de inovação e conexão do cliente e dos corretores de seguros. Uma delas é a SulAmérica, que tem a tecnologia da informação como principal viabilizadora das estratégias de negócios. A seguradora iniciou a jornada em 2013, intensificando esforços nos últimos dois anos, e hoje tem a transformação digital permeando todas as operações da empresa. “Investimos continuamente em inovação para garantir uma estrutura operacional eficiente e fundamentada em processos enxutos”, afirma o diretor de Tecnologia e Atendimento, Cristiano Barbieri.

Uma das principais estratégias nesse sentido foi a adoção, a partir de 2015, de uma plataforma que apoia a transformação digital com foco na promoção de uma relação ainda mais próxima com segurados e corretores. A ferramenta permite a implementação de um CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente, em português) norteado pela visão única do cliente ou corretor, além de possibilitar o desenvolvimento ágil, pela própria equipe da companhia, de aplicações customizadas ao negócio. Com essa implantação, a SulAmérica migrou de um conceito de contact center para core center, em que os atendentes passaram a ter papel mais consultivo.

Também fruto dessa estratégia, a multicanalidade é um dos pilares de atendimento da seguradora, que investe em tecnologia para colocar na camada digital, como os aplicativos móveis, as principais informações e serviços que o segurado precisa no dia a dia e em capacitação da equipe de atendimento telefônico e presencial para apoiá-lo em caso de dúvidas e situações mais complexas.

“Nosso objetivo é proporcionar a melhor experiência para o cliente, o corretor e demais públicos de interesse. Essa é uma estratégia de longo prazo, mas que já produz resultados, como altos índices de retenção e satisfação de clientes, além de novas vendas mesmo em um cenário desafiador”, acrescenta Barbieri.

Seguindo linha semelhante, com foco nos corretores e segurados, a Argo Seguros elegeu a tecnologia como pilar de um novo método de relacionamento desde o início de suas operações no Brasil, em 2012. Para isso, criou uma plataforma de distribuição de seguros com o objetivo de transformar a experiência de venda para corretores e segurados. “Os meios digitais possibilitam maior eficiência, pois geralmente as transações e gestão de carteiras estão disponíveis de forma mais ágil. Há uma redução de custos operacionais e os corretores, principalmente os menores, podem focar mais em vender”, explica Roberto Uhl, gerente de Canais Digitais. A ideia é expandir a ferramenta para as demais operações.

Ainda que o profissional espere ganhar mercado utilizando os meios digitais, é fundamental que ele busque especialização, visto que na internet a maneira de atrair e converter vendas é bem diferente de um modelo offline, como visitas, eventos ou relacionamento. Neste ponto, a venda online pode igualar pequenos e grandes corretores, mas ainda assim é necessário investimentos e qualificação. “As grandes empresas têm poder de fogo maior para prospectar segurados de forma online”, afirma o executivo, pontuando que a tecnologia é um meio de gerar valor para os segurados, corretores e parceiros, mas não é o fim em si mesmo. “É muito importante entender o que precisa ser feito para melhorar ou criar algo e ver o que a tecnologia oferece, e não pensar em adquirir uma tecnologia e depois ver como ela se encaixa na operação.”

Novo sistema de gestão

A arquitetura complexa, com sistemas diversificados e projetos independentes executados ao mesmo tempo no processo de integração das marcas, levou a Sompo Seguros a adotar a transformação digital. O processo exigiu investimentos significativos e anos de dedicação, mas trouxe resultados positivos. “Simplificamos o parque tecnológico, reduzindo o número de plataformas e integrações para múltiplas linhas de negócio. A partir da integração de sistemas, incremento de novos recursos e da mudança do nome e marca da companhia [que passou de Yasuda Marítima para Sompo Seguros], no ano passado, a empresa já ficou preparada para os passos que viriam a seguir”, afirma Wander Bringhenti, diretor de Tecnologia da Informação.

Toda a área comercial passou a trabalhar com a chamada nuvem, incluindo a matriz brasileira e as mais de 40 filiais distribuídas pelo país. Por meio desse recurso, a base de dados agora se encontra em uma única plataforma, em que o processo de solicitação e aprovação de contratos e negociações, gestão de visitas e resultados obtidos acontece digitalmente. Diretores, superintendentes, gerentes e executivos de contas estão integrados nessa plataforma.

“Com a nuvem, 90% dos agentes de campo utilizam a versão mobile da solução, o que resultou em um aumento de 36% na produtividade e um ganho médio de 43 minutos em cada visita. Aproximadamente 5,5 mil oportunidades de negócios foram concretizadas após identificados os potenciais por meio da base de dados integrada pela ferramenta”, declara Bringhenti, adiantando que a Sompo deve lançar aplicativos mobile para diversas linhas de operação e usar chatbot inteligente para atendimento e fechamento de negócios específicos.

Transparência e acessibilidade

Para conquistar a fidelidade de um cliente, é preciso investir na transparência das relações. E foi exatamente isso que o Grupo Bradesco Seguros fez. Dentro da estratégia de valorizar sua relação com o corretor, a companhia lançou, entre outras iniciativas, um aplicativo exclusivo para corretores, em que o profissional pode realizar a contratação de um seguro residencial pré-formatado.

“Alguns desses projetos levam de um a dois anos para serem concluídos e implantados, outros são mais rápidos, mas de um modo geral expressam o nosso compromisso com a inovação e são resultados de investimentos constantes”, pontua o diretor Alexandre Nogueira.

Outro papel importante da transformação digital é a inclusão. Por isso, o Grupo também lançou uma solução de acessibilidade. Patrocinado pela Bradesco Seguros, o aplicativo traduz textos e áudios em português, em tempo real, para a Língua Brasileira de Sinais, utilizada por deficientes auditivos. Na web, um recurso semelhante faz com que os textos das áreas mais importantes do portal Bradesco Seguros sejam convertidos automaticamente para libras.

“Nossos colaboradores é que fazem tudo isso acontecer. Não existe fórmula mágica, trata-se de investimento em desenvolvimento de novos produtos, no uso das novas tecnologias e na contínua busca por uma comunicação eficaz”, completa Nogueira.

Receptividade dos corretores

Já há um consenso entre os profissionais de que o mercado mudou e que a burocracia será cada vez menor na gestão dos seguros. Eles entendem que precisam se adaptar à nova realidade, em que os clientes exigem produtos personalizados e atendimento diferenciado. “O papel dos corretores está se transformando. Cada vez mais eles terão que ser consultores para prevenção de riscos em vez de um “pagador de sinistros”, diz Nadia Alencar, CIO da Axa.

A receptividade e o apoio do corretor de seguros têm sido essenciais para conduzir essas mudanças. Ela garante que os profissionais estão se integrando profundamente nos processos realizados pela seguradora. Vários produtos estão sendo desenvolvidos em parceria, adaptados às necessidades específicas do público de cada parceiro de negócios. “Esse trabalho é feito usando ferramentas sofisticadas de análise de dados”, afirma, completando que a Axa não espera resultados em curto prazo. “Entendemos que a inovação digital transformará profundamente a indústria de seguros.”

 

publicidade | bradesco seguros

A virada na comunicação com o consumidor

Grupo Segurador inova na interação com o segurado, utilizando linguagem simples e experiências do cotidiano de qualquer pessoa

Kelly Lubiato

A comunicação entre o mercado de seguros e o público exige mais que talento, uma grande dose de ousadia. O brasileiro ainda conhece pouco da importância do seguro em todos os momentos da sua vida, isto é, da proteção de seus bens materiais e o mais importante deles, a vida. Risco, a maioria deles previsíveis, é algo com o qual todos convivem, mas uma parcela significativa da população evita tocar no tema, ter consciência da importância do seguro e de estar protegido. Então, torna-se necessário alertar para a proteção, por exemplo, da saúde, da casa, do carro e da manutenção da qualidade vida e da vida ativa na longevidade.

A partir de pesquisas realizadas com segurados, fornecedores e colaboradores, incluindo os corretores, o Grupo Bradesco Seguros lançou a Campanha “Previstos”, em que alerta, de forma bem humorada, o comportamento do brasileiro para os riscos inerentes às situações do dia a dia, tendo como objetivo final fixar a nova assinatura: “Bradesco Seguros. Com Você. Sempre.”

“Nossa nova assinatura, “Com Você. Sempre.”, reforça o conceito de que a Bradesco Seguros dispõe de produtos e serviços para todos os tipos de risco e situações, que nos permitem estar próximos das pessoas, participando e amparando-as em todos os momentos da vida e sempre buscando resolver suas necessidades com prontidão e assertividade. A ideia central é mostrar que existe uma série de situações comuns à vida da grande maioria das pessoas, pelas quais eventualmente elas passaram ou passarão. Por isso, a importância de se planejar e de poder contar com a seguradora em todos os momentos”, ressalta Alexandre Nogueira, diretor do Grupo Bradesco Seguros.

O filme “Previstos”, de 45 segundos de duração, ilustra de forma bem-humorada e provocativa o novo conceito: cenas que retratam situações que ocorrem na vida da maioria das pessoas – o pedido de casamento, a gripe que chega e a aposentadoria que se aproxima. Os dois outros filmes da campanha, “Grávida” e “Dente de Leite”, ambos com 30 segundos de duração, trazem duas situações bem prováveis na vida de um casal: a gravidez que se anuncia e a necessidade de cuidados dentários com o filho pequeno.

Nogueira explica ainda que “a campanha baseia-se no tripé: seguro é necessário, ocorrências são previsíveis e a Bradesco Seguros é referência nesse setor, com soluções globais que atendem às necessidades de todos – pessoas físicas e corporações”.

Presença em todos os momentos

Com nova campanha, o Grupo Bradesco Seguros ressalta a importância dos seus produtos e serviços na vida das pessoas e o fato de estar sempre presente em todos os momentos do segurado oferecendo proteção aos bens materiais e o mais importante deles, a vida, em todas as cidades do país. A nova assinatura “Bradesco Seguros. Com você sempre.” é a síntese dessa comunicação ao mercado.

No primeiro trimestre de 2017, o Grupo Bradesco Seguros registrou faturamento de R$ 17,9 bilhões – evolução de 18,2% sobre o ano anterior. Há cerca de uma década, o Grupo Bradesco Seguros vem sustentando crescimento médio anual na casa de dois dígitos, mantendo market share em torno de 25%. Líder do mercado segurador nacional, seu volume de provisões técnicas atingiu R$ 229,4 bilhões em março de 2017.

 

especial futuro | riscos cibernéticos

Organizações em alerta

Os hackers estão cada vez mais especializados em enganar os usuários e as empresas devem esperar ataques cibernéticos mais críticos daqui em diante. Mas elas não precisam se tornar vítimas para a cibersegurança ser uma prioridade

Lívia Sousa

Apenas um vírus foi suficiente para atingir mais de 300 mil computadores em poucas horas. O megaciberataque WannaCry, ocorrido em maio, teve início na China e se espalhou por meio de uma falha do Windows, prejudicando grandes corporações e serviços públicos em 150 países. Na Espanha, por exemplo, a invasão aconteceu nas redes internas da empresa Telefónica e da seguradora Mapfre, que tiveram seus dados sequestrados pelos hackers. Órgãos públicos brasileiros como o Tribunal de Justiça de São Paulo, o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e o Ministério Público do Estado de São Paulo enfrentaram o mesmo problema. Para todas as vítimas, os cibercriminosos exigiram o pagamento de um resgate no valor de US$ 300 (cerca de R$ 950) em bitcoins por computador até uma data limite. Caso contrário, não teriam mais seus dados de volta.

Tão mal essas empresas se recuperaram do susto e foram surpreendidas por uma nova ameaça: o Petya, que no mês passado se utilizou da mesma vulnerabilidade do ataque anterior. Um dos países mais afetados foi a Ucrânia, onde aeroportos, bancos e empresas estatais de energia, telefonia e serviço postal deixaram de funcionar normalmente. Contudo, especialistas afirmam que este tipo de vírus pode ser ainda pior. Apesar de exigir o pagamento para a liberação dos dados, o Petya não tem capacidade para descriptografar os arquivos sequestrados. Trocando em miúdos, de nada adianta correr para pagar o resgate. As informações serão deletadas de qualquer maneira.

Vice-presidente para América Latina da empresa de cibersegurança Cipher, Paulo Roberto Bonucci lembra que as ameaças digitais evoluem rapidamente para ataques mais sofisticados que desafiam os sistemas de monitoramento e defesa. “Há uma mudança no perfil dos ataques, que antes visavam causar muito ‘barulho’ e pouco dano. Hoje os cibercriminosos desenvolvem malwares de assalto que tomam todo o globo rapidamente, além de estudar ambientes e usuários para desenvolver engenharia social, penetrar sistemas e redes, ficando invisíveis pelo maior tempo possível, para causar o maior dano possível quando contarem com os níveis de acesso correto aos dados que buscam”, explica. Os hackers devem continuar se aperfeiçoando e o executivo garante que o mercado deve esperar ataques mais críticos.

Ninguém escapa

Os cibercriminosos, que até então vislumbravam nas instituições financeiras a possibilidade de lucro, agora vêem a área da saúde como uma nova “mina de ouro”. Ao menos 16 hospitais públicos do Reino Unido tiveram o acesso aos prontuários bloqueado após serem afetados pelo WannaCry. Por aqui, duas unidades do Hospital do Câncer e a Santa Casa de Barretos, no interior de São Paulo, foram prejudicadas pelo Petya e obrigadas a suspender consultas. O motivo pela preferência? Segundo Bonucci, na última década os sistemas de diagnóstico e armazenamento de dados de pacientes foram integrados e interconectados. O problema é que esses dispositivos utilizam sistemas operacionais antiquados, que não são atualizados corretamente, abrindo assim brechas críticas de segurança. “Não é raro encontrar um equipamento de ultrassom operado por Windows XP conectado à rede central do centro médico, colocando todo o ambiente em risco”, atenta.

Estudos também indicam que no mercado negro a informação médica vale cerca de dez vezes mais que a informação bancária, justamente por ter longa vida útil. Isso não significa que outros setores serão deixados de lado com o tempo. Para cada segmento da indústria sempre haverá informações e riscos que serão mais importantes. Assim, toda organização estará exposta a ameaças cibernéticas, não importando seu tamanho nem o ramo de atuação.

“Crimes cibernéticos variam em escala, valores e empresas. Vão de prejuízos pequenos até valores milionários que poderão afetar o fluxo de caixa e, inclusive, comprometer a continuidade da companhia”, avalia Caio Timbó, diretor da corretora LTSeg. Neste cenário, as empresas correm o risco de perder a confiabilidade dos clientes, ativo intangível que pode levá-las a fechar as portas.

Como praticamente todas as companhias navegam em ambientes digitais, armazenando seus dados e dados de terceiros ou fazendo transações via internet, é imprescindível que o risco cibernético seja ao menos considerado nas suas operações. “As corporações precisam ter ciência de suas exposições e o potencial de prejuízo que um ciberataque possa causar aos negócios e clientes”, alerta Timbó. Sobre essa questão, os empresários parecem estar mais atentos. Em uma pesquisa global feita pela consultoria e corretora de seguros Aon, o risco cibernético é apontado como a quinta preocupação dos gestores de empresas públicas e privadas, ficando atrás apenas dos riscos de mudanças regulatórias, aumento da concorrência, desaceleração econômica e dano à reputação.

Apólice para um novo risco

O seguro para riscos cibernéticos já é uma realidade no mercado mundial e não se limita à proteção no ambiente digital. É uma solução abrangente para o gerenciamento da exposição cibernética de uma empresa e proporciona uma abordagem em todo o processo, desde a análise de risco e prevenção até a própria cobertura.

Estão cobertas reclamações de terceiros por perdas sofridas como resultado de um cyberevento e também prejuízos do próprio segurado, mediante casos específicos. Ao segurado, a cobertura aplica-se aos custos diretos de uma empresa para responder a uma falha de violação de privacidade ou segurança, tais como custos de notificação, de relações públicas incorridas para atenuar os danos à reputação da companhia, investigações forenses, reconstrução de dados que foram destruídos, custos referentes à extorsão pela internet por meio do ransonware e monitoramento de crédito ou identidade para as pessoas ou empresas que tiveram seus dados violados. A cobertura inclui ainda o reembolso por perda de receitas (lucros cessantes) e despesas operacionais de uma interrupção de rede, no caso de uma falha de segurança.

“O seguro pode ser contratado por empresas de qualquer setor ou tamanho, inclusive pelas pequenas e médias, alvo crescente de ataques de hackers”, afirma Julio Murta, gerente da Regional Minas Gerais/Centro-Oeste da Aig Brasil, lembrando que Goiás vem ganhando exposição a esse risco. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (SSPAP-GO) indicam que, em 2016, o estado somou 11 ocorrências de crimes cibernéticos – quase um crime por mês –, enquanto que nos últimos cinco anos foram registradas apenas duas.

Apesar da importância, um seguro funciona mais como uma camada de proteção do que uma “bala de prata” para se resolver todos os problemas decorridos de um ataque cibernético. Tanto é que para contratar a apólice é necessário que a empresa conte com procedimentos de gerenciamento de risco, como antivírus e firewall. Essas ferramentas são fundamentais em um cenário onde os ataques se apoiam no fator humano, aspecto mais fraco dos ambientes de tecnologia corporativa. A engenharia social se desenvolve a passos largos e os criminosos estão cada vez mais especializados em enganar o usuário.

“O recurso mais acessível é contar com backups, múltiplos e redundantes, para que qualquer incidente de segurança possa ser revertido com uma simples restauração dos equipamentos. O investimento em proteção de endpoints (computadores, celulares, tablets) com um software antivírus preferencialmente pago também é uma solução acessível”, explica Paulo Roberto Bonucci, da Cipher. Outros dois pontos importantes são não utilizar sistemas operacionais ou software pirata e manter todos eles atualizados com as últimas correções de segurança. “WannaCry e Petya exploraram uma falha corrigida há mais de seis meses pela Microsoft.”

Estamos no caminho certo?

No Brasil, líder da América Latina em origem de ataques cibernéticos, as discussões sobre o tema começam a ganhar força. Quando o primeiro seguro para riscos cibernéticos foi apresentado ao mercado nacional, em 2012, boa parte das empresas ainda não tinha um nível de maturidade para discutir o assunto. Agora o tema faz parte das pautas não só dos setores de Tecnologia da Informação, mas também do Conselho de Administração das grandes corporações.

Estima-se que há atualmente 40 apólices de seguros contratadas pelas empresas contra ataques de hackers. Hospitais, instituições financeiras, tecnologia, varejo, alimentos e bebidas estão entre os cinco segmentos que mais aderem aos seguros cibernéticos, aponta um estudo feito pela corretora Marsh. Mesmo assim, há uma enorme lacuna a ser preenchida. A falta de conhecimento sobre o tamanho e os impactos do risco cibernético ainda atrapalham o avanço do produto, que em mercados mais maduros já marca presença há alguns anos.

“O mercado americano deve fechar 2017 com mais de US$ 3 bilhões de prêmios e é mais desenvolvido do que o nosso. Lá existe uma lei específica que coloca inúmeros procedimentos obrigatórios, incluindo a notificação de toda a base de clientes em caso de vazamento de informação”, diz o gerente de Produtos Financeiros da Aon Brasil, Mauricio Bandeira.

Até o momento o Brasil não conta com uma legislação específica. Existem dois projetos de lei sobre dever de notificação que ainda precisam ser discutidos e votados, e que na visão do executivo são parecidos com a lei americana. “Ainda vivemos um momento educacional, de mostrar para as empresas que existe o produto. Assim que houver a promulgação da lei, o mercado deve mudar e as empresas vão começar a considerar o risco legal”, acredita.

Nesse contexto, o papel do mercado segurador é criar uma cultura de entendimento de riscos, além de desenvolver uma melhor gestão de riscos para que as empresas e os clientes entendam como a transferência de risco por meio de uma solução de seguro pode ajudá-las a restaurar suas operações no caso de um ataque. A Aon, por exemplo, realiza eventos, reuniões e aposta na divulgação de newsletters para levar a mensagem de que existe o seguro e quais são as coberturas oferecidas pelo produto. Já a AIG trabalha ajudando os clientes a compreender e gerenciar o risco de forma mais eficaz, oferecendo coberturas, ferramentas e um contínuo acesso às melhores práticas de avaliação e mitigação de possíveis vulnerabilidades.

Ainda que os corretores de seguro sejam o principal canal de venda deste seguro, Caio Timbó, da LTSeg, acredita que os próprios profissionais devem ter ciência de que um seguro cyber não se trata de um produto de prateleira. “Todos os potenciais clientes possuem suas necessidades particulares, exposições e sistemas de segurança particulares, e por suas particularidades, necessitam de um seguro feito sob medida. Cabe ao corretor elaborar ou apoiar o desenho deste seguro de modo que a apólice de seguro contemple os principais riscos da empresa e que, numa situação emergencial, ela tenha sua real utilidade colocada em prática.”

Uma apólice mal desenhada e com valores aquém da exposição da companhia pode vir a manchar não só o trabalho do corretor, mas também pôr em cheque toda a confiabilidade do produto de seguro e de toda a indústria que ele representa. Para ele, cabe às seguradoras estarem atentas aos movimentos de mercado, adequando seus produtos às novas necessidades das empresas, bem como às novas formas de crimes cibernéticos que estão em constante alteração.

Quem paga uma vez, paga de novo

Muitas empresas acionam o seguro somente depois de pagar o resgate exigido pelos hackers. Um grande erro, segundo especialistas, que não recomendam essa postura. Mesmo após o resgate, são grandes as chances do hacker ainda estar dentro da empresa, deixando de manipular um ransomware de um lado enquanto ataca a companhia por outro.

Gastos crescentes

Estima-se que as empresas no mundo todo terão perdas de US$ 2,1 trilhões com ataques cibernéticos até 2019, de acordo com um estudo da Marsh. A soma dos prejuízos nos próximos três anos será quase quatro vezes maior em relação aos valores das perdas que as companhias tiveram em 2015.

Segundo o documento, as contratações de seguros para proteções contra ataques cibernéticos já somam cerca de US$ 2 bilhões e podem chegar a US $ 20 bilhões até 2025. Os Estados Unidos continuam a ser o maior mercado de seguros cibernéticos, onde quase 20% de todas as organizações contam com seguro.

Com a ascensão dos ataques de hackers aos sistemas das empresas, alguns setores da economia ficaram mais expostos aos ciberataques. Com base na carteira de risco cibernético da multinacional americana Marsh, as indústrias de manufatura e de comunicação, mídia e tecnologia lideram a contratação desse seguro, com 63% e 41% das apólices, respectivamente.

Segurança cibernética nos carros inteligentes

Para diminuir os ataques de hackers aos veículos inteligentes, fabricantes e fornecedores de automóveis aumentarão os investimentos em segurança cibernética. A crescente implantação de recursos digitais nos veículos atuais levará a indústria automotiva a investir US$ 82,01 bilhões até 2020 em tecnologias avançadas, segundo um estudo realizado pela Irdeto, especialista em segurança de plataformas digitais, em parceria com a analista global Frost & Sullivan.

Um dos novos desafios do mercado automotivo é o aumento da conectividade no veículo (recursos digitais para entretenimento, telefonia celular, reconhecimento de voz, navegação). Embora essencial para satisfazer o consumidor, esta conectividade traz vulnerabilidades ao veículo, que podem ser exploradas por invasores cibernéticos. Os hackers podem acessar e controlar remotamente componentes do veículo, como travas, operações de inicialização e parada do motor, ou coletar dados do usuário pelo sistema a bordo.

 

especial futuro | realidade aumentada

Explorando novas tecnologias

Misturar o mundo virtual ao real traz experiências mais envolventes para o consumidor e funciona como um marketing inovador dentro de mercados competitivos como o de seguros

Lívia Sousa

As empresas estão se planejando para a transformação digital dos seus negócios. Novas tecnologias têm sido testadas e adotadas e processos de gestão da inovação acabam sendo incorporados nas grandes companhias. Entre as novas ferramentas está a realidade aumentada, que chegou para amplificar a percepção sensorial humana por meio de recursos computacionais. A ideia é sobrepor elementos virtuais tridimensionais sobre o ambiente real, que se posicionam e se comportam como se de fato fizessem parte daquele cenário.

Essa tecnologia ficou amplamente conhecida com o game Pokémon Go, que no mundo todo provocou uma verdadeira corrida na captura aos personagens. Mas a ferramenta não é tão recente quanto parece. Na área militar, há muito tempo os pilotos de caça utilizam a realidade aumentada para obter informações sobre o meio ambiente por meio de imagens projetadas no visor de seus capacetes.

Depois de permanecer um bom tempo restrito aos laboratórios de instituições de pesquisa devido aos custos de hardware e software necessários, a RA está cada vez mais disponível para a indústria. Como na área de marketing, em que é usada para promover novos produtos. Algumas aplicações para smartphones exibem modelos tridimensionais de produtos se
a câmera do aparelho for apontada para
um anúncio presente em revistas, jornais
ou outdoors.

Já em manufatura, em que as indústrias fabricam produtos antes da comercialização para determinar quais mudanças devem ser feitas e para verificar se ele atende às expectativas do mercado, a RA funciona como um o protótipo virtual alinhado com o ambiente no qual será utilizado. Isso reduz o tempo e o dinheiro que seriam desperdiçados caso as mudanças fossem aprovadas e exigissem a fabricação de um novo modelo.

“A realidade aumentada pode ser aplicada ainda na área educacional, permitindo que os alunos manipulem equipamentos, maquetes, animais e outros objetos de estudo como se eles estivessem em suas mesas. Um cenógrafo também pode criar a ilusão de objetos e personagens em uma peça de teatro”, diz Romero Tori, professor Associado III da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Em termos tecnológicos, ele explica que há três principais técnicas para se obter o efeito de realidade aumentada: por vídeo (celular, tablet ou tela de computador), por óculos (em que as imagens são geradas nas lentes, dando impressão que fazem parte do ambiente observado) e por projeção (que incidem imagens e alteram o ambiente). No entanto, novas técnicas devem surgir para se obter esse efeito.

E na área de seguros?

Para o mercado segurador, especificamente, existem pelo menos três frentes para a utilização de realidade aumentada. Uma delas, voltada ao consumidor, pode ser direcionada para motivar segurados atuais ou potenciais. A ação já é executada por uma seguradora alemã, que encomendou um aplicativo para smartphones e tablets que permite ao usuário apontar a câmera do aparelho para qualquer lugar em sua residência. Assim que a ferramenta detecta um objeto, gera uma simulação na tela mostrando os riscos de acidentes associados a ele. Este tipo de simulação pode levar o cliente a rever sua cobertura ou mesmo convencer um novo segurado a adquirir um plano.

Com relação ao profissional de seguro, a RA auxilia, em tempo real, na gravação e análise de atividades de campo, agilizando o atendimento ao cliente. Há aplicativos que permitem a inspeção precisa de danos em veículos, registrando imagens do carro danificado, calculando a extensão dos danos e até mesmo uma estimativa dos custos de reparo.

A realidade aumentada é adotada ainda no treinamento de funcionários de empresas seguradoras. Uma seguradora suíça investiu nisso e lançou, em 2015, um aplicativo que agiliza o treinamento de seus colaboradores. Durante as aulas de treinamento, os gerentes apontam seus smartphones para um cartaz ou um marcador, o que provoca a exibição de um vídeo, um curso de treinamento online ou alguma outra informação detalhada.

“Essa tecnologia, aliada a outras tendências da indústria seguradora como inteligência artificial, robotização (drones) e Internet das Coisas, tem potencial para ampliar exponencialmente o número de possibilidades, tanto para as seguradoras quanto para os segurados, de criarem produtos customizados e prêmios adequados ao risco real”, declara Carlos Eduardo Mazon, COO da Capgemini no Brasil, acrescentando que a expectativa da indústria é grande quanto a evolução dessa tecnologia e suas possibilidades.

Como começar

As companhias internacionais detectaram rapidamente os aspectos chaves da realidade aumentada para o setor: a possibilidade real da utilização de smartphones como dispositivos de RA de baixo custo, a crescente demanda por experiências mais envolventes para o consumidor, além da necessidade de técnicas de marketing inovadoras diante da grande competição e da redução de custos em treinamento.

Grande parte dos especialistas declara que entre as empresas brasileiras o desenvolvimento de aplicações de RA ainda é pequeno. Marcelo Knörich Zuffo, professor titular da Escola Politécnica da USP, discorda desta afirmação. “Na verdade o Brasil consome muito essas tecnologias. O problema é a alta incidência tributária sobre produtos industrializados importados, o que faz com que a tecnologia chegue muito cara por aqui”, alega, chamando atenção para que as companhias interessadas na RA pensem na gestão e na prevenção de riscos.

De fato, para alcançar o sucesso nessa empreitada, apenas aplicar a realidade aumentada não funciona. É requisito básico ter um plano de transformação digital elaborado. Isso significa possuir estratégias e modelos criados para aprender e empregar as novas tecnologias, através de processos estruturados de gestão da inovação, onde tentar, errar e aprender é o centro da estratégia.

“Os planos de transformação só se tornam efetivos com a mudança cultural da organização e o patrocínio amplo e compromissado dos principais executivos às iniciativas. A partir desse compromisso, ocorre o alinhamento dos diversos planos de negócios, como a estratégia de transformação, maximizando os resultados e reduzindo seu tempo de retorno”, pontua Carlos Eduardo Mazon, da Capgemini.

Mais uma vez, o setor financeiro, especialmente os grandes bancos de varejo, sai na frente quando se trata de maturidade digital no Brasil. Em um estudo feito pela própria Capgemini, o segmento aparece com um índice de 53% contra 40% em comparação com outras áreas. Mas o documento também traz boas perspectivas para o mercado segurador, indicando que a indústria de seguros está evoluindo neste aspecto, ainda que seja com passos mais lentos. “Isso é exatamente um espelho do que acontece também lá fora”, diz o COO.

Algumas empresas brasileiras já demonstram interesse pela tecnologia. Antonio Carlos Sementille, especialista em realidade virtual e realidade aumentada e professor adjunto do Departamento de Computação da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acredita que se essas companhias seguirem os exemplos que deram certo para as empresas internacionais, adaptando-os para o mercado nacional, estarão no caminho certo. Caso não saibam muito bem como iniciar na área, ele deixa a dica.

“Para essas seguradoras, seria interessante iniciarem com projetos de aplicação de realidade aumentada mais simples, como por exemplo voltados ao marketing. Aplicações deste tipo tendem a ser mais fáceis de serem implementadas e são destinadas ao consumidor final. Já as aplicações de RA capazes de detectar danos em veículos e calcular uma estimativa de custos de reparo são bem mais complexas e envolvem maior custo e tempo de desenvolvimento”, pontua.

 

especial futuro | peer to peer

Seguro compartilhado com retorno do prêmio

Sabemos que a economia compartilhada é uma realidade e ela já começa a mostrar sua face no mercado de seguros. Já existem experiências de seguro que colocam o mutualismo puro em primeiro lugar

Kelly Lubiato

Imagine um grupo de amigos que desejam adquirir um seguro residencial, mas estão com pouco dinheiro. Eles procuram um aplicativo de corretora de seguros que oferece o seguro online. Uma parte do prêmio do seguro é reservada para garantir o risco. Outra parte fica com a corretora para despesas administrativas e garantia de um fundo. Se não houver sinistro, ou apenas pequenos eventos, os membros do grupo recebem um retorno do valor investido no ano fiscal seguinte.

Quando acontece um sinistro o valor é retirado deste fundo formado com os depósitos dos consumidores, e o retorno financeiro diminui para todos. No caso de sinistros maiores, a seguradora cobre. Normalmente, a corretora contrata um seguro de stop-loss para o caso de ocorrerem vários sinistros maiores no grupo. Segundo a corretora alemã Friendsurance, que opera um aplicativo desde 2010, os clientes nunca pagam mais do que o que foi combinado no início. Na essência, é o mutualismo puro.

A Friendsurance é uma corretora de seguros independente que atua no mercado alemão. Segundo informações da empresa, o número de clientes já chega a seis dígitos (quantidade vaga) e mais de 70 parceiros nacionais de seguros, incluindo a AXA. A insurtech é financiada por investidores institucionais e privados, entre eles investidores de tecnologia Horizons Ventures, Ellerston Ventures, e.ventures e o Grupo de Startups Alemães, bem como o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Segunda Laura Neusser, executiva da corretora, este modelo de negócios pode ser replicado para qualquer mercado. “A empresa está expandindo sua operação para a Austrália, que será lançada em breve”. Entretanto, há que se ultrapassar as barreiras regulatórias para a efetiva operação. No Brasil, talvez esta realidade ainda demore um pouco para chegar.

Outra insurtech que atua neste modo de seguro peer to peer é a norte americana Lemonade, que atua basicamente com produtos de seguro residencial. “Nós tratamos o seu prêmio de seguro como seu dinheiro”, dizem em seu material de divulgação. 20% do prêmio é retido pela seguradora a título de taxa de administração e também para a compra de resseguro para a carteira.

A contratação do seguro é feita através do aplicativo, respondendo algumas perguntas sobre o imóvel e sua utilização. O pagamento é feito via cartão de crédito. A regulação do sinistro também é feita via aplicativo. O valor pago e não utilizado é destinado a instituições de caridade indicadas pelo segurado. O ticket deste produto é baixo, entre 5 e 25 dólares mensais.

Produto pode chegar ao Brasil?

A resposta para esta pergunta é bastante complexa. O investimento para a criação de um aplicativo nestes moldes é de alguns milhares de reais. A chegada de operadores internacionais por aqui também é pouco provável, principalmente em virtude dos marcos regulatórios brasileiros.

Joaquim Mendanha de Ataídes, superintendente da Susep, diz que a autarquia olha com preocupação a disruptura rápida sem a obediência à legislação que hoje vigora no mercado de seguros. “A Susep monitora estes movimentos da realidade digital para que ela venha melhorar a realidade do consumidor. Para as seguradoras isso pode significar um custo menor no produto, entretanto, sem deixar o consumidor com menos proteção”, avisou Mendanha.

A Susep participa de ações com a IAIS (International Association of Insurance Supervisors) e todos os países desenvolvidos analisam com cautela este tema. O superintendente adianta que “mudanças de marcos regulatórios poderão vir, porém, após as discussões necessárias para que elas sejam entendidas”.

Em um relatório divulgado em março de 2017, a IAIS alertou para as mudanças que estão por vir. “As inovações de empresas de tecnologia têm o potencial de mudar fundamentalmente a forma como o setor de seguros serve os segurados “, afirmou Victoria Saporta, presidente do Comitê Executivo da IAIS, acrescentando que “por causa do alcance e do ritmo de mudança, os supervisores de seguros devem estar atentos aos novos desenvolvimentos e fazer os ajustes necessários em suas práticas de supervisão e habilidades.”

Por aqui, os corretores de seguros ainda suspeitam de iniciativas disruptivas. O presidente da Fenacor, Armando Vergilio dos Santos, diz estar incomodado com a displicência em relação ao consumidor. “Ser disruptivo não pode significar ser desrespeitoso”, indignou-se.

Ele lembra ações do passado que tinham um viés de inovação mas que se mostraram verdadeiros desastres para os consumidores, como as pirâmides e as correntes financeiras. “Eu apoio tudo o que venha para melhorar e facilitar a vida dos consumidores. Porém devemos ficar atentos ao risco de prejudicar e causar danos”, preocupa-se Vergilio.

O corretor lembra que o mercado de seguros no mundo inteiro é altamente regulado por uma razão: para proteger os consumidores, pois se trata de poupança de longo prazo, proteção patrimonial, proteção à saúde, à estabilidade, segurança jurídica. “Temos que fazer um trabalho conjunto entre corretores, seguradores e a Susep para começar a pensar numa regulamentação do mercado eletrônico, digital, das insurtechs. Isso tem que ser disciplinado e estabelecido dentro da regra regulatória que for aprovada”, pontuou Vergilio.

Para que a legislação avance, o mercado precisa se posicionar. “Até agora não temos visão geral das coisas. Por hora, vemos ações isoladas. O mercado precisa entender o que está acontecendo e ver para que lado irá. A partir daí ele pode vir ao órgão regulador e solicitar para que as mudanças sejam feitas”, adianta Mendanha.

Desenvolvimento de Fintechs na indústria de seguros

A IAIS (Associação Internacional das Reguladoras de Seguros) analisou o impacto potencial das Fintechs com base em três cenários:

  • Os operadores históricos mantêm com sucesso o relacionamento com o cliente;
  • A fragmentação da cadeia de valor do seguro com os operadores históricos já não estão no controle;
  • Empresas de grande tecnologia que espreitam as seguradoras tradicionais.

Segundo o estudo, a FinTech pode perturbar o setor de seguros, reduzindo a competitividade do mercado em longo prazo. Ela pode fazer com que as seguradoras tradicionais saiam do mercado.

A singularidade dos produtos, que podem ser desenhados de acordo com a necessidade dos clientes, pode afetar a comparabilidade (preço) e a escolha do consumidor. Além disso, a FinTech pode aumentar o foco na melhoria da experiência do cliente e afetar o tratamento dos clientes, possivelmente criando problemas de acessibilidade de produtos de seguros ou mesmo aumento da exclusão financeira. Também pode criar problemas relacionados ao uso, propriedade e proteção de dados.

O relatório aponta para vários desafios para os supervisores de seguros, incluindo:

  • Equilibrar os riscos e os benefícios das inovações e criar um ambiente que promova a inovação através de abordagens, tais como bancos de dados regulamentares ou centros de inovação;
  • Avaliar e, se necessário, ajustar a estrutura de regulação;
  • Considerar a adequação dos requisitos de relatórios atuais nas tendências de monitoramento e a potencial acumulação de risco conectado às novas tecnologias;
  • Compreender como as inovações funcionam e são aplicadas para garantir a avaliação adequada de novos modelos de produtos e negócios.

O relatório contém um inventário de inovações financeiras como a Internet das coisas, a telemática, o uso de Big Data, a tecnologia de contabilidade distribuída, Blockchain, e os contratos inteligentes.

 

especial futuro | insurtechs

A ponte para novos clientes

As soluções tecnológicas voltadas ao mercado de seguros surgem cada vez mais diretas e focadas em experiências para o cliente

Amanda Cruz

Serviços com mais personalização e flexibilidade. Essa é a principal exigência dos millenials, a nova geração de clientes que busca soluções rápidas, que podem ser feitas pelo celular, on-demand e sem burocracias e exigências mirabolantes. Apesar de parecer complexa a aplicação de modelos assim no mercado segurador, eles já existem e têm funcionado muito bem.

Juliano Davoli, responsável pela área de seguros da Indra, acompanha essas evoluções e conta à Revista Apólice um pouco do que vê diariamente e do que foi apresentado no evento dig+in, realizado em Austin,  Texas, nos EUA, e que trata especificamente das evoluções e revoluções no setor. Ele afirma que “é visível o nível de engajamento para investir nas chamadas insurtechs – empresas focadas em prover tecnologia para os dilemas e anseios do mercado e que é possível enxergar um lema nessas iniciativas: a vontade de inovar precede o seguro e acompanha o cliente”.

Embora não seja fácil estar em dia com as necessidades dos millennials, são eles que têm ditado o comportamento de diversos mercados, exigindo a cada interação uma experiência melhor. Então, como ofertar para aquele cliente que, hoje, tem tudo na ponta do dedo? Como os corretores de seguros podem se transformar no intermediário ideal para estas pessoas que compram o que querem ou resolvem problemas sem contato humano? Esses são exemplos de como será a nova realidade do mercado, da cotação ao sinistro, que alguns profissionais se negam a ver. A tendência é que o que é ignorado hoje fique ainda mais forte amanhã. “Queremos as coisas sem demora e estamos acostumados a consegui-las”, sintetiza Kim Tyler, diretora associada – Serviços Financeiros e Tecnologia, de Kantar TNS Reino Unido. A executiva acredita que um dos grandes problemas do mercado de seguros é que ele baseou suas vendas projetando temor para o futuro, algo negativo. “Se somarmos a isso os baixos índices de compromisso por parte dos consumidores e a pouca inovação do setor, temos uma categoria de produto de crescimento complicado”, acredita. Ela acrescenta que o fundamental é que as seguradoras enxerguem além do medo e pensem como criar relações mais profundas e emocionais com os clientes.

Em maior ou menor escala, a inteligência artificial está presente nessas soluções. Da telemetria, mais difundida mundialmente, até carros autônomos há cada vez mais ideias para que haja menos etapas. “É o início de uma evolução que a gente não viu nos últimos tempos no mercado segurador. As empresas – mesmo as seguradoras – estão investindo muito em startups”, afirma Davoli.

As viagens também são um exemplo de como é possível flexibilizar para estar no lugar certo, na hora certa. A geolocalização pode indicar quando um potencial cliente de seguro viagem entrou no aeroporto. Ele vai viajar e ainda não contratou a proteção? Isso pode ser feito na hora e pode ser contratado para segurar o momento do voo ou toda a estadia.

Com isso, a dúvida que surge é: as pessoas não se sentirão desrespeitadas com essa utilização de seus dados? A resposta para os millennials é: se as informações forem usadas para que se tenha em troca uma experiência plena, não.

Uma pesquisa do Annenberg Center, sobre pessoas entre 18 e 34 anos, apontou os seguintes resultados: 70% dos millennials ficam, de fato, desconfortáveis com outras pessoas tendo acesso às suas informações pessoais. Por outro lado, 56% deles estão dispostos a compartilhar sua localização, por exemplo, para ter acesso a cupons de desconto em lojas. “As novas tecnologias e os estilos de vida rápidos fazem com que necessitemos que os seguros encontrem maneiras mais fáceis de ajudar a preparar-nos para prever e prevenir as incertezas da vida”, afirma Kim Tyler.

A visão no Brasil

Uma geração inteira que valoriza mais experiência do que reparos financeiros. Que prefere compartilhar um automóvel ao invés de possuí-lo. Embora os exemplos estejam muito mais no mercado internacional, o Brasil há muito deixou de receber as novidades com grande delay. Os clientes por aqui estão igualmente exigentes e desapegados. O canal corretor é bastante forte – e indispensável – por aqui, muito pela falta de cultura de proteção. A legislação é um tanto mais engessada que em outros lugares e muito ativa na regulamentação. Portanto, deverá partir de órgãos reguladores a decisão de flexibilizar ou não as regras de mercado. “Acho que a Susep também precisa evoluir a legislação para possibilitar o seguro micro, mais efêmero. Não querer segurar um carro por um ano, mas dar a certeza de que ao usar o carro é possível obter a cobertura”, opina o executivo da Indra. Ele ressalta que seguro sob demanda é algo muito interessante para o mercado e que não é preciso temer a economia compartilhada se for utilizar de mecanismos de localização que permitem saber com quem e onde está um bem segurado – seja uma bicicleta ou um apartamento no Airbnb.

A dica é parte essencial de qualquer evolução: abrir os olhos para oportunidades ao invés de ir de encontro a elas. “A ciência por trás do seguro vai continuar. As empresas sólidas do setor também. Os corretores continuarão tendo seu papel; essa não é uma profissão que vai morrer, mas vai mudar. Há um caminho a seguir e muitos seguros devem ser feitos com a presença deles como especialistas. Isso não muda”, justifica.

As insurtechs

Metromile: Seguro auto com apólices 100% baseadas em telemetria. Quando menos o segurado dirige, menos ele paga. Quanto melhor ele dirige, mais beneficiado é. A companhia ainda utiliza fatores como idade e gênero para ajudar na precificação, mas cada vez mais têm trabalhado para automatizar esses cálculos.

Trōv: Seguro sob demanda. Bens que fazem parte do estilo de vida das pessoas – seja por motivos de trabalho ou hobby – como bicicletas, câmera fotográficas, celulares, prancha de surf, instrumentos musicais, entre outros – podem ser importantes e caros mas, muitas vezes, acabam ficando sem seguro.

A Trōv também funciona por app e permite que o segurado faça o seguro minutos antes de sair de casa com seu bem de valor. A apólice pode ser feita para meses, dias ou até mesmo horas, de acordo com o que o segurado ache necessário.

Oscar Health: Seguro saúde simples. É isso que a companhia estadunidense promete. Com parcerias com hospitais e médicos de alta qualidade, eles aliam o atendimento de renome com acessibilidade.

É possível falar com profissionais de saúde ou pedir atendimento em casa, a qualquer momento, pelo app. Além de mais atividades na palma da mão, o sistema integra o banco de dados de seus beneficiários. Assim, todos os médicos que atendê-lo poderão ter acesso ao seu histórico.

Essas tecnologias, segundo a companhia, são utilizadas para cortar custos e tornar o plano mais acessível.

Lemonade: Com o slogan “esqueça tudo o que você sabe sobre seguros” a Lemonade tem uma proposta ousada. Tecnologicamente ela promete que o seguro seja feito em 90 segundos e que pelo menos 25% dos sinistros sejam pagos em 3 minutos. A cotação é feita por aplicativo de celular usando inteligência artificial. Além disso, o modus operandi da startup também é diferente do padrão de mercado: é possível até ter o dinheiro do prêmio de volta no modelo peer to peer.

Sharenjoy: Nesta startup espanhola é possível ver a importância do foco na experiência do cliente. Alguém compra um ingresso para o festival dos sonhos, mas por algum imprevisto fica impossibilitado de comparecer ao show. Contratando o seguro para seus ingressos, que é feito pela companhia em parceria com uma seguradora local, é possível ser ressarcido. Mas o grande diferencial está justamente no fato de que a indenização não é feita em dinheiro, mas em ingressos para outros festivais. Ele usa serviços de inteligência que traçam um perfil do cliente, mapeando as preferências e encontrando festivais similares para uma próxima data – com o valor limite de mil euros. O cliente pode, inclusive, dependendo da apólice contratada, conseguir ingressos para levar um acompanhante.

WelookGo: Uber das vistorias. É assim que a plataforma se intitula. O intuito da empresa é prestar serviço às pessoas que querem comprar um automóvel, mas não podem ir pessoalmente vistoriar e garantir que o anúncio é compatível com o bem. Com o app é possível solicitar profissionais que fazem esse serviço. Eles vão ao local, tiram fotos e colocam esses dados na nuvem. Assim como na Uber, o profissional deve se cadastrar para ser acionado e garantir que o comprador receba o que foi anunciado.

 

especial futuro | blockchain

A nova fase dos dados

A revolução nas transações ganha força e mais seguradoras estão apostando nessa integração para otimizar processos e combater fraudes

Amanda Cruz

Há pouco mais de 30 anos, se alguém perguntasse para que servia a internet seria difícil para quem não era expert no assunto responder. Com o passar dos anos, o mundo não só se acostumou com a troca de dados e informações como passou a uma relação que beira a dependência. E o que é blockchain, alguém saberia, hoje, responder? Quem faz essa provocação é Paschoal Baptista, sócio-líder de TI para Serviços Financeiros da Deloitte, que garante ainda que a tecnologia blockchain é a segunda fase da internet. “O blockchain veio para fazer a internet de valores. Ela vai viabilizar a mesma coisa que se fazia antes as transferências, porém, nesse caso, de ativos”, explica.

Assim como um livro-razão de contabilidade, o blockchain é um sistema capaz de unificar todas as transações feitas pelos membros de um mesmo negócio, garantir que as liquidações sejam feitas de forma objetiva e mitigando os riscos de fraude e diminuir processos de disputa em relação ao reconhecimento da transação.

Os recentes ataques cibernéticos – WannaCry e Petya levantaram uma questão: Como confiar em um sistema que irá armazenar dados preciosos, ainda mais os médicos?

Os executivos utilizam uma só rede, integrada, feita em uma rede privada da qual só os envolvidos têm acesso, facilitando a transparência nos acordos firmados. Caso algum deles sofra qualquer tipo de perda ou ataque de hacker, todo o conteúdo estará protegido, pois já estará compartilhado. Essa utilização está muito mais presente no mercado financeiro, mas já vem despertando o interesse do seguro. O mercado de saúde, dentro das operações de seguros, pode ser o melhor exemplo: clínicas, hospitais, médicos, laboratórios podem ter uma rede única de atendimento e prestação de serviços, onde armazena dados dos pacientes, podendo até mesmo auferir quais atendimentos foram prestados. “Certamente nós vamos ver uma redução de fraudes nesse cenário e isso é desejável a todos que estão no processo. Existe um caminho que certamente vai acontecer”, aposta Luiz Jeronymo, líder de blockchain da IBM Brasil.

Uso prático

A aplicação no mercado de seguros pode ser feita por conta dos processos de sinistros – do aviso ao pagamento; seguro paramétrico – utilizando uma base de dados com fontes confiáveis do tema do referido seguro, o sistema busca essas informações e faz por si só a análise da viabilidade ou não do pagamento da apólice. “Portanto, o mecanismo poderia criar regras de negócios que possam ser executadas automaticamente, armazená-las de forma que os seguros paramétricos pudessem ser executados quase instantaneamente”, explica Jeronymo. As resseguradoras também se beneficiariam, já que muitas vezes precisam interagir para que uma apólice seja negociada ou compartilhada e o contrato se estabeleça. O processo é globalizado, busca atender diferentes legislações e em tempo real. Esses são os chamados smartcontracts. “Também pode ser usada em atrasos de voo. Se um passageiro fez check-in e o sistema identifica que esse voo ainda não saiu, mas já se passou o tempo estabelecido de espera, ele já sabe, automaticamente, que há direito à indenização”, exemplifica Baptista.

“O mercado de seguros está mais aberto do que nunca”, acredita Elias Zoghbi, sócio-líder da área de Seguros da Deloitte. Inovações em modelos, utilização de internet das coisas, otimização de precificação e análise de risco, entre tantos outros fatores são o caminho para uma mudança efetiva no jeito de fazer negócios. “Esse é um conceito que muda a característica de como são os produtos de seguros atuais versus o que teremos no futuro. Assim como os carros autônomos estão mudando os riscos do seguro auto”, pontua Zoghbi.

Apesar das simpatia do mercado e do empenho, Zoghbi acredita que a personalização é que pode fazer a diferença nesse cenário. “A função do corretor [na conscientização] é muito importante, especialmente para manter no mercado as pessoas que não conhecem o seguro. Mas muitos dos que não têm apólices hoje teriam se isso fosse customizado. Quase não temos seguro até para automóvel, como podemos falar de vida e previdência, que tipo de produto a gente vai atender? Os produtos customizados são muito positivos lá fora, aconselha Elias Zoghbi.

 

especial futuro | drones

Desafios nos ares

O Brasil foi um dos primeiros países a criar uma legislação efetiva para utilização de aeronaves não tripuladas, mas ainda há muito que ser discutido – especialmente no mercado de seguros

Amanda Cruz

Os drones surgiram inicialmente com propósitos militares. Depois, tornaram-se objetos de lazer para entusiastas das aeronaves. Agora, cresce a utilização desses equipamentos em shows, manifestações, na área agrícola e até mesmo na vigilância. Por conta disso, a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil – regularizou a utilização dessas aeronaves não tripuladas no Brasil. A decisão foi aprovada no dia 2 de maio de 2017 e permitirá que drones sejam usados para viabilizar operações e respaldar a proteção da população. Os equipamentos foram separados em duas vertentes: RPA’s – aeronaves não tripuladas de uso comercial, experimental ou institucional e aeromodelos – aeronaves não tripuladas para recreação ou lazer.

Qualquer pessoa maior de 18 anos pode operar o aparelho no país, mas, para isso, precisará ter uma habilitação e respeitar normas de utilização – como operá-las apenas em áreas com, no mínimo, 30 metros horizontais de distância dos transeuntes não envolvidos na operação.

A Revista Apólice entrou em contato com a ANAC e a agência esclarece que o objetivo dessas regras é tornar viáveis as operações desses equipamentos, o que dá indícios de um mercado em expansão. Assim, a utilização comercial desses drones precisará ser revista. Ela está liberada, mas precisa seguir as regras. As aeronaves com mais de 250g podem voar apenas em áreas distantes de terceiros. Para os maiores, será necessário que as pessoas envolvidas assinem uma autorização concordando com o voo naquele local sob total responsabilidade do piloto operador e conforme regras de utilização do espaço aéreo do DECEA. Caso exista uma barreira de proteção entre o equipamento e as pessoas, a distância especificada não precisa ser observada. Portanto, shows, espetáculos e manifestações – que comumente têm usado esses meios para gravações – precisarão verificar se estão respeitando as normativas.

No mercado de seguros, essas aeronaves não tripuladas podem indicar dois tipos de oportunidades. Elas precisam de seguros, como qualquer outra, mas também podem ser utilizadas como auxiliares no setor.

Há documentos obrigatórios para atuar com drones. Além da habilitação, também é exigido um manual de voo, documento de avaliação de risco e apólice de seguro. “Algumas companhias já oferecem coberturas para falhas mecânicas e eletrônicas, perda de controle, pane elétrica e até mesmo perda total. O valor das indenizações às pessoas e bens no solo pode passar de R$ 200 mil”, afirma Márcio Régis Galvão, CEO, da Dron Drones Technologies.

Os produtos RETA (seguro obrigatório), Casco (danos físicos ao equipamento) e LUC (Responsabilidade Civil em excesso aos limites previstos no RETA) é o que há disponível hoje para cobrir esse mercado. “Eles são tipicamente oferecidos para a aviação geral em aeronaves tripuladas, foram adaptados para as necessidades específicas dos drones”, conta Daniela do Nascimento Murias, Aviation Manager Insurance da XL Catlin, que foi a primeira seguradora a oferecer cobertura para esses objetos.

Nesse sentido, as seguradoras têm o papel de desenvolver e verificar mecanismos necessários para alcançar essa que ainda é uma novidade tecnológica. “Os riscos podem até ser muito parecidos com os da aviação comum, mas como os equipamentos são muito mais leves e essa é uma tecnologia recente, ainda não se sabe exatamente como esses equipamentos podem ser melhor regulamentados”, acredita Luiz Ugeda, advogado da Geodireito.

“Além disso, as seguradoras trabalham, em todos os ramos, com bases de dados, estatísticas de ocorrências e volume, que ainda estão em desenvolvimento no caso dos drones”, pontua a Daniela.

O Brasil foi pioneiro em começar a estudar e divulgar uma regulamentação mais efetiva – ainda que ela deva sofrer muitas alterações ao longo do tempo. A Europa só cogita fazer algo semelhante em 2019. “Nós estamos pagando o preço do pioneirismo. Precisamos encontrar maneiras de destravar esses segmentos emergentes na sociedade aproveitando o potencial gigantesco”, completa Ugeda.

Utilização no mercado de seguros

Além das oportunidades de comercialização, os seguradores podem adaptar os drones a seus processos. A aeronave poderá precisar o tamanho do dano de uma enchente, por exemplo, ou acompanhar o segurado em caso de um sinistro de automóvel, fazer o reconhecimento de áreas de risco e de infraestrutura, ajudar no seguro rural com o mapeamento das produções – especialmente de grandes áreas -, entre outras vantagens. “Eles podem ser úteis de diversas formas, pois aplicados com um bom planejamento e adaptando-os aos processos já consolidados os drones conseguem gerar receita para as seguradoras”, aposta Galvão.

A executiva da XL Catlin destaca ainda o fato dos drones serem equipamentos muito versáteis e de custo relativamente baixo em relação às aeronaves convencionais. “Temos visto uma variedade crescente na utilização de drones, incluindo alguns usos particularmente interessantes ao mercado segurador: inspeções em locais de difícil acesso como oleodutos, represas, telhados/coberturas, mapeamento de áreas e apoio à segurança”, elenca Daniela.

Outras questões

Os riscos cibernéticos associados a esses equipamentos deverão emergir logo. A legislação para esses casos até está sendo analisada, mas ainda não é a preocupação principal. “O risco cibernético é uma coisa novíssima, não só no Brasil, mas no mundo. As discussões são mais embrionárias que a própria questão dos drones”, comenta o advogado Luiz Ugeda.

Na visão de Galvão, a FAA (Federal Aviation Administration) já está bem avançada nos estudos e projetos que envolvem a gestão e a segurança do tráfego aéreo com drones. “Especialistas analisaram as configurações dos controladores de voo de vários modelos e revelou fraquezas associadas aos links de telemetria (informações na tela) que transmitem dados através de frágeis conexões de porta serial. Já o link de dados que conecta os aparelhos com a estação base pode ser facilmente corrompido e invadido, permitindo que hackers assumam o controle total da aeronave. O que é um perigo para as operações de risco”, explica o executivo. Os fabricantes de drones estariam apostando em um modelo em que a segurança dependa da complexidade do sistema: acredita-se que o alto nível de dificuldade de se monitorar os sinais seja barreira suficiente para desencorajar a ação de hackers. Galvão afirma que é por isso que, em geral, as tecnologias empregadas pelos fabricantes não usam criptografia. A saída seria, justamente apostar nessa codificação. “A evolução da tecnologia dos drones oferece novas oportunidades para os hackers do mal. Resta agora esperar que os profissionais de segurança de dados estudem as melhores ações para combater essa ameaça potencial”, indica.

O risco cibernético é relativamente recente no mercado. Suas implicações e associações com as diversas indústrias, incluindo a aeronáutica, são objeto de estudo e estão em constante evolução. “A aviação é uma área particularmente sensível ao risco cibernético, não somente em relação aos drones, mas às aeronaves em geral. Certamente o mercado continuará se moldando às descobertas e conclusões dos estudos e discussões que vêm ocorrendo mundialmente a este respeito”, aposta Daniela.

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