Em menos de 15 dias, dois atentados terroristas no Reino Unido – um em Manchester, no concerto da cantora Ariana Grande, no dia 22 de maio, e outro em Londres, na London Bridge e no Borough Market, em 4 de junho – demonstraram a vulnerabilidade do Ocidente às ações de grupos radicais. Os impactos vão desde a interrupção de negócios e na cadeia de suprimentos até a perda de vidas humanas.
De acordo com a consultoria e corretora de seguros Aon, em 2016, houve um aumento de 14% no número de ataques terroristas em todo o mundo. Os países ocidentais registraram um aumento de 174% no número de ataques terroristas: em 2015, foram 35 ataques, em 2016, foram 96.
Segundo o consultor de Comércio e Investimentos Internacionais da Aon Brasil, Keith Martin, o nível de exposição ao risco de terrorismo aumentou no Reino Unido. “O Brexit enfraqueceu tanto o Reino Unido quanto a União Europeia e reduziu o poder de dissuasão de todos os países da região”, explica.
Os Mapas de Terrorismo e Violência Política 2017, divulgados pela Aon em abril deste ano, já colocavam o Reino Unido como um dos 20 países do mundo mais vulneráveis a ataques terroristas. “A ameaça está crescendo em todo o mundo”, diz Keith Martin. “Em 2015, 78 países estavam em uma situação de risco. De 2016 para cá, já são 87 países. Junto com os Estados Unidos, o Reino Unido registrou uma deterioração na capacidade de lidar com o terrorismo. Infelizmente, essa percepção está sendo confirmada pelos ataques recentes”, afirma.
Táticas terroristas
Além disso, as táticas terroristas estão mais diversificadas. De acordo com o especialista da Aon, o objetivo é causar o máximo de danos com o menor investimento possível. Para isso, os criminosos utilizam armas improvisadas ou feitas em casa. “No concerto em Manchester, o terrorista suicida explodiu uma bomba de pregos. Há uma certa complexidade envolvida na montagem desse dispositivo, mas os materiais não são difíceis de obter”, diz Keith Martin. “Já o ataque na Ponte de Londres poderia ser perpetuado por qualquer simpatizante da causa, sem muita preparação e sem nenhum grande investimento. Os criminosos utilizaram facas e uma van como armas”.
O uso de veículos em atentados terroristas é cada vez mais comum. Em 20 de dezembro de 2016, um homem utilizou um caminhão para matar 12 pessoas e ferir cerca de 48 em um mercado de Natal, em Berlim, na Alemanha. Até o momento, em 2017, essa é a forma mais letal de ataques contra países ocidentais: 54% de todos os atentados foram realizados utilizando veículos como armas. “Essa tática foi responsável por 52% das fatalidades registradas até o momento”, lamenta Keith Martin.
Ataques se espalham pelo mundo
Assim como nos dois atentados no Reino Unido, o Estado Islâmico também reivindicou a autoria do ataque na Alemanha. De acordo com o estudo da Aon, a ameaça do grupo está se espalhando pelo mundo. Em 2015, 19 países foram atacados pelo Estado Islâmico. Em 2016, foram 29. “Com sua propaganda de terror veiculada em redes sociais como o Telegram e o Twitter, o grupo vem obtendo sucesso em incitar a violência em regiões distantes da sua área de influência”, explica Martin.
A questão que se coloca é: como um ocidente desunido e enfraquecido pode lidar com ameaças crescentes de um grupo cada vez mais influente e poderoso? “Com a degradação da Síria e do Iraque, o Estado Islâmico continua a ampliar sua operação internacional”, afirma o especialista da Aon. “A tendência é que eles sigam inovando nas táticas e provocando danos cada vez maiores aos países que consideram inimigos. No Oriente Médio, drones estão sendo utilizados em atentados. Essa tática deve se espalhar para outras regiões”.
