Ultima atualização 08 de dezembro

Os bastidores da corretagem de seguros

Revista Apólice conversou com profissionais que revelaram os bastidores da atividade exercida por mais de 90 mil pessoas no Brasil

bastidores

Não são poucos os corretores de seguros que atuam no Brasil. De Norte a Sul, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), somam-se 96 mil profissionais – 38 mil deles abrigados no estado de São Paulo, segundo o Sincor-SP. Sensibilidade, persistência e atenção são algumas das características marcantes desta atividade. Isso sem contar a peculiaridade, considerando os termos e denominações próprias, que muitas vezes não são fáceis de serem esclarecidos aos leigos. Mas o que leva uma pessoa a seguir a profissão? “Em Ilhabela, onde atuo, havia uma carência de bons corretores. Muita gente fazia seguro fora da cidade por conta disso”, explica Daniela Rollo Imbriani, sócia da GG Corretor de Seguros, que exerce a corretagem há dois anos e meio.

Em outros casos, a sucessão empresarial fala mais alto. Ocupando a função desde 2009, Rafael Crisostomo Paes de Proença escolheu a profissão devido aos pais, que já trabalhavam na área desde o início dos anos 1990. “Hoje dou continuidade aos negócios”, revela o proprietário da Uniporto Corretora de Seguros. Pode ser ainda que a atividade já esteja no código genético do indivíduo, como aconteceu com Karina Hazan. “Quando pensei que estava seguindo a carreira de minha mãe, que é psicóloga, me deparei com a atividade exercida pelo meu pai”, declara a diretora administrativa da Potência Corretora de Seguros.

A executiva estudou Psicologia e se formou em Piscodrama. No entanto, as primeiras mudanças ocorreram em 2006, quando entrou para a corretora da família para trabalhar na área de Recursos Humanos, Seleção e Treinamento. Inicialmente, o objetivo era conhecer o mundo corporativo e exercera Psicologia Empresarial. “Não fazia ideia do que era uma corretora de seguros na prática, somente no inconsciente mesmo. Ou talvez soubesse muito mais do que poderia imaginar”, afirma. Para conduzir a gestão da companhia, tanto os seguros quanto a psicologia foram necessários. Depois de passar pelas áreas administrativa, comercial e financeira, em 2014 Karina estudou para ser uma corretora de seguros.

O que evoluiu

A categoria se deparou com uma longa caminhada para chegar ao patamar atual e, inclusive, conquistar direitos. Um dos mais recentes foi a inclusão dos corretores de seguros no SuperSimples, em agosto de 2014, requerimento antigo dos profissionais. Hoje, mais de 30 mil cor retoras fazem parte do sistema que, como o próprio nome remete, simplifica o pagamento de impostos aos corretores com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões.

Há de se considerar ainda a evolução da tecnologia, apontada por muitos como aliada do setor. Contudo, Karina faz algumas ressalvas. “Esta é uma profissão em que os corretores sempre tiveram que lutar muito para serem reconhecidos, mesmo quando a tecnologia não favorecia em nada”, afirma. “Lembro do meu pai contando como era emocionante fechar um negócio, levar pessoalmente a apólice de seguros na seguradora e protocolar o documento manualmente. Ele se sentia especial e importante na vida dos clientes,pois realmente sabia fazer a diferença no atendimento. Com o avanço tecnológico, perdemos esta intimidade nas relações humanas”, argumenta.

Mas nem tudo são críticas. O destaque fica para a evolução do portfólio de produtos, agora apresentado ao consumidor final de uma maneira bem ampla. No ramo de automóvel, por exemplo, há seguros de todas as
formas, medidas, conteúdos e preços, totalmente customizados às necessidades dos clientes. A executiva
da Potência Corretora de Seguros acredita que cada vez mais isto irá acontecer, tornando fundamental a aquisição de uma proteção.

“São tantas as opções existentes no mercado que somente um bom especialista está apto a entender o melhor produto para o seu cliente, no custo e no benefício. O mercado muda muito e as pessoas procuram o seguro à sua medida, de acordo com suas necessidades financeiras, econômicas, culturais e afetivas. Precisamos estar em constante aperfeiçoamento e abertos a entender a nova linguagem, recheada pelo público jovem e antenado no mundo”.

Valorização pelo cliente

O corretor de seguros vem sendo reconhecido pelo seu esforço e trabalho, mas, para os profissionais entrevistados pela Revista Apólice, não em sua totalidade. Karina Hazan, por exemplo, percebe uma desvalorização e falta de reconhecimento da importância do papel do corretor pelo cliente final. “Infelizmente nós mesmos somos responsáveis por isso”, diz.

É possível reverter este quadro, desde que os próprios corretores de seguros ensinem e eduquem os consumidores a entender a importância de estarem protegidos, mostrando que apenas a sua figura é capacitada para dar a consultoria ou até mesmo as orientações de como proceder em situações de risco. Para isso, é necessário criar um relacionamento verdadeiro, transparente e honesto.

“O que eu chamo de verdadeira preocupação com o outro, uma humanização que falta muito nas prestações de serviços nos dias de hoje. Os clientes buscam preços e nós temos a obrigação de mudar este cenário, com muito esforço, dedicação e conhecimento”, salienta Karina.

Rafael Proença, por sua vez, chama a atenção para “os dois lados da moeda”: os clientes que buscam o valor e procuram o corretor de seguros para ser o seu suporte, independente da seguradora contratada; e aqueles que realmente visam somente o preço, não valorizando o corretor como profissional adequado para atender às suas necessidades. “Muitas pessoas nem sabem que somos o intermediador entre a seguradora e o segurado”, pontua, assegurando que o maior desafio da profissão o que chama de banalização do setor feita pela própria classe “desunida”.

Marcando presença

Além de educar o mercado e fazer com que os corretores se valorizem enquanto profissionais, há o fato de que eles poderiam estar muito mais presentes na vida dos clientes, desde o nascimento de um filho, na aquisição de um bem material, na festa de casamento ou até mesmo em uma viagem de férias. Na visão de Karina, os corretores perdem muitas oportunidades de ser o profissional que auxilia, ajuda e acompanha as pessoas em todos os momentos da vida.

Outra ação importante seria ensinar sobre seguros em geral nas escolas para fortalecer a cultura do seguro no País. “A educação financeira e de seguros deveria ser aprendida nas escolas como uma forma de educar nossas crianças para o mundo, desde cedo entendendo a importância de adquirir uma proteção”, acredita a profissional.

O setor já começa a dar os primeiros passos neste sentido. O Sindseg MG/GO/ MT/DF, por exemplo, realiza o programa Educar para Proteger nas escolas púbicas das cidades em que atua. A ação busca despertar o interesse dos estudantes sobre a importância de pensar na própria segurança de forma preventiva e consciente. Para isso, agentes selecionados e treinados realizam oficinas pedagógicas aos estudantes.

Já Daniela Imbriani, da GG Corretor de Seguros, enxerga dois entraves. O primeiro é o conhecimento sobre
as regras e os produtos, o que exige o estudo e o aperfeiçoamento constante do corretor. O segundo é a questão comercial, em que o profissional de seguros tem que bater de porta em porta como qualquer outro profissional de vendas – nem todos os corretores contam com um tino comercial aflorado.

No entanto, ela garante que há solução para isso. “Para as corretoras, contratar corretores com esse perfil. Para os profissionais, fazer cursos para tentar melhorar. Mas o ideal é encontrar emprego em outra área
que não seja vendas”, finaliza a executiva.

Como surgiu a atividade

Estudos indicam que os primeiros indícios da atividade de corretagem de seguros surgiram na Babilônia, há 23 séculos a.C. Naquela época, os criadores de camelos receberiam outro animal caso perdessem o seu enquanto atravessassem o deserto. O acordo foi feito entre os próprios donos dos animais, que se juntariam para comprar outro camelo em caso de morte ou desaparecimento do mamífero. Também na Babilônia, os comerciantes que perdiam seu navio em razão das tempestades ganhavam uma nova embarcação. Isso foi possível graças ao Código de Hamurabi, promulgado pelo imperador homônimo, que possibilitou a criação de uma associação para que a atividade fosse exercida.

Lívia Sousa
Revista Apólice

*matéria originalmente publicada na edição 215 (outubro/2016)

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