Ultima atualização 08 de dezembro

As mulheres avaliam o setor

Participação das mulheres no mercado de seguros saltou 8 pontos percentuais em 12 anos. Executivas analisam o impacto da presença feminina no segmento

mulheres

Elas são maioria da população brasileira, dos eleitores e cada vez mais ocupam cargos importantes no mercado de trabalho. Ao longo das últimas décadas, as mulheres se tornaram mais independentes, respeitadas e preparadas para conquistar espaço na sociedade e nas empresas. Essa tendência, que ganhou impulso principalmente no final dos anos 60, quando sua aprovação começou a ser marcante nas universidades e nos cursos técnicos, só tem crescido. E a busca por capacitação profissional, formação acadêmica e por oportunidades igualitárias aos homens continua sendo o caminho para atingir este cenário de mudança nas companhias.

Em algumas profissões, elas predominam em relação ao público masculino e, em outras, se tornaram famosas graças à competência e à disciplina. Mas é cada vez mais frequente vê-las assumindo cargos em áreas tradicionalmente ocupadas por eles. O mercado de seguros é uma dessas áreas: de acordo com o estudo Balanço Social, divulgado pela CNseg, entre 2000 e 2012 a participação das mulheres no setor saltou de 49% para 57%.

“No caso específico do mercado segurador, alguns fatores podem explicar o aumento da presença feminina nos postos de trabalho. As profundas transformações pelas quais o setor tem passado nos últimos anos proporcionaram um crescimento sustentável e superior ao de outros setores. Essas mudanças tornam o segmento cada vez mais atraente a uma nova geração de executivas que investiram em capacitação e buscam melhores salários e ambientes que possibilitem oseu crescimento profissional”, explica Fátima Lima, executiva de Sustentabilidade do Grupo BB e Mapfre.

Segundo ela, as empresas já perceberam que o crescimento sustentável do negócio passa, necessariamente, pela implementação de ações e processos que promovam a igualdade de gênero em seu quadro de colaboradores. E esse processo não envolve apenas a ampliação da presença feminina no mercado, mas também o desenvolvimento de mecanismos que permitam que as mulheres cresçam profissionalmente.

Nos seguros, elas também passaram a assumir papeis cruciais e cargos de chefia, como postos de CEO e o comando de grandes empresas. Mas apesar dos números animadores, ainda esbarram em desafios para assumir altos cargos. “São poucas as mulheres que ocupam cargo de alta direção no mercado segurador. Temos inúmeras delas no segmento em cargos gerenciais e diretoria, mas na alta cúpula são poucas as oportunidades”, diz Simone Favaro Martins, segunda vice-presidente Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sincor-SP).

Patricia Marzullo, diretora regional de Engenharia para a América do Sul da AGCS, também acredita que a presença de mulheres na liderança das empresas possa crescer. “Ainda que na AGCS a presença feminina em altos cargos seja bastante expressiva, em outras seguradoras e resseguradoras é mais frequente encontrarmos mais líderes homens”, declara ela, que foi a primeira executiva a ocupar este cargo na companhia.

Em resseguros, a igualdade já é bem expressiva, tanto em ocupação de cargos quanto em salários igualitários entre homens e mulheres. Mas em curto e longo prazo, a tendência é de que a presença de mulheres aumente ainda mais nas lideranças e suas participações no setor como um todo.

Em contrapartida, no setor de corretoras de seguros, muitas empresas são geridas com sucesso por mulheres. A quantidade de profissionais filiadas aos Sincors, inclusive, aumentou. Em São Paulo, por exemplo, o Sindicato conta com 2.009 associadas de um total de 8.549 corretoras profissionais de seguros, número que Simone considera relevante para o mercado.

Já os últimos registros do Sindicato dos Corretores de Seguros de Pernambuco (Sincor-PE) revelam que dos 1545 corretores de seguros cadastrados no Estado, 395 são mulheres. Ou seja, quase 30% do universo de negócios de seguros locais estão nas mãos do gênero feminino. A presidente da entidade, Claudia Candido, afirma que grande parte dessas profissionais pertence a famílias que atuam no segmento há décadas, mas a maioria é de jovens empreendedoras.

“Vejo com otimismo a presença feminina neste mercado, a curto e a longo prazo. A cada ano, cresce o número de mulheres que se ajustam no setor. Ontem éramos um traço nas estatísticas e hoje marcamos presença em mais de 30% do número de corretores cadastrados na Superintendência de Seguros Privados (Susep)”, diz Claudia, completando que as mulheres romperam a barreira dos preconceitos e estão oferecendo uma contribuição notável ao desenvolvimento político e econômico das nações modernas. “Esse processo é irreversível e a tendência é positiva”.

A visão feminina

A capacidade de liderar, inovar e realizar bons desempenhos de trabalho é indiferente ao gênero. Para Patricia, apesar de mulheres e homens possuírem o mesmo potencial nestas questões, um dos entraves que intimidam o crescimento delas no mercado securitário são as visões pré-estabelecidas.

“Ainda que não seja tão comum quanto no passado, muitos executivos encaram a mulher que ocupa ou está prestes a ocupar um cargo de liderança com julgamentos que não seriam feitos a um homem, como ‘será que ela dá conta?’, ‘tendo uma família, será que ela consegue se dedicar ao cargo e conciliar com a vida pessoal?’ ou ‘será que ela vai conseguir liderar uma equipe predominantemente masculina?”, lembra a executiva.

Algumas profissionais, no entanto, destacam que certas características femininas podem se sobressair neste segmento – como a atenção ao detalhe, a criatividade, o cuidado com a valorização do aspecto social que o seguro proporciona e a capacidade de se concentrar e executar tarefas simultâneas. “Ao mesmo tempo, enquanto se preocupa em fechar uma estratégia, a profissional ainda se preocupa com outros dois, três ou quatro deveres, o que é sempre uma vantagem em uma equipe”, afirma Patrícia. A mulher também tende a possuir uma sensibilidade maior, sem esquecer-se do profissionalismo, que engloba preocupações com o conforto no ambiente de trabalho e com seus colaboradores. Mas mesmo sendo uma vantagem mais atribuída às mulheres, há profissionais homens com estas mesmas preocupações.

Quanto à sua experiência na área, Patricia afirma não ter sentido diferença na tratativa do mercado. “Comecei trabalhando em uma corretora de seguros, que atendia uma das maiores construtoras do País, viajava muito por esses projetos e nunca tive problemas em obras ou nas reuniões que fazíamos, inclusive em cargos que ocupei depois, em outras companhias. Acredito que toda mulher consegue o que quer. Se ela quer investir na carreira e ainda ter sua família, ela consegue. Basta vontade e esforço”.

Já na opinião de Claudia, a disciplina e a serenidade são traços marcantes entre as corretoras de seguros e ajudam na hora em que determinam a cumprir uma meta e traçar um plano. Elas sabem enfrentar as dificuldades e até mesmo antevê-las do mesmo modo como vislumbram as saídas e as soluções. Além disso, são capazes de propor equações ajustadas a cada caso, o que facilita na hora de montar uma estratégia que deixe o cliente satisfeito com o seguro adquirido.

Para Solange Zaquem, diretora da regional Rio de Janeiro/Espírito Santo da SulAmérica, qualquer equipe de trabalho marcada pela diversidade, não apenas de gênero, mas também de perfis e interesses, é mais criativa e inovadora. “Sem a intenção de criar rótulos, já que cada indivíduo é único e pode contribuir de formas diferentes, posso dizer que, na área comercial, noto que as mulheres costumam apresentar uma facilidade fora do comum de gerar empatia em negociações e de adotar uma postura consultiva com o cliente”.

Produtos específicos

Uma pesquisa recente divulgada pelo IFC (Corporação Financeira Internacional, membro do World Bank Group) e desenvolvida pela Accenture em parceria com o IFC e o Grupo Axa, mostrou que elas movimentarão até US$ 1,7 trilhão no setor até 2030. Para aproveitar essa oportunidade de negócios, o mercado segurador tem investido em produtos e serviços voltados especificamente para mulheres.

“Esta ampla oferta de produtos voltados a públicos específicos é muito positiva e demonstra uma mudança de mentalidade das empresas. As companhias que atuam no mercado brasileiro já perceberam que, para crescer em um cenário cada vez mais competitivo, será necessário ampliar os investimentos em pesquisas que visem o desenvolvimento de produtos que atendam a demandas específicas de cada público”, explica Fátima Lima, do Grupo BB e Mapfre. Segundo ela, na prática, isso contribui para a modernização das apólices já consolidadas e permite que os clientes optem por proteções personalizadas.

Mais do que oferecer proteções exclusivas, a maior questão seria levar as necessidades deste público para dentro dos produtos já disponíveis no mercado. Solange acredita o processo envolvido no desenvolvimento do produto, ou seja, se o público-alvo foi ouvido com atenção e teve suas reais necessidades identificadas, é mais importante que o formato final do produto de seguro.

Neste cenário, discute-se também o preço estabelecido para o público feminino. As seguradoras europeias, por exemplo, passaram a comercializar seguros com o mesmo preço para homens e mulheres. No Brasil, algumas proteções contam com descontos para as clientes – como o seguro de automóvel, em que a principal variável que pode interferir no valor está no comportamento diante do volante. Dados de mercado apontam que, por aqui, as mulheres se envolvem menos em colisões do que os homens. Além disso, tendem a buscar alternativas como carona ou táxi quando não estão em condições de dirigir. Já os homens, principalmente os jovens, tendem a adotar uma postura diferente, segundo as mesmas pesquisas.

“Concordo que, havendo estudos estatísticos, comprovando diferenciais para a mulher, deva haver estas distinções. Com comprovação de que mulheres são mais cuidadosas no trânsito, defendo que deve haver um contrato diferenciado. No entanto, não concordo com um cenário no qual a mulher precisa pagar menos só pelo fato de ser mulher. Defendo a igualdade entre os gêneros, dentro e fora do mercado de trabalho”, frisa Patricia, da AGCS.

A superintendente comercial Varejo Minas Gerais da Tokio Marine, Andreia Padovani, entende que variáveis devem ser consideradas para uma boa subscrição. Se a premissa gênero puder contribuir positivamente para melhorar o resultado, seria adequado contemplar condições diferenciadas que sejam favoráveis a essa premissa. Mas de qualquer forma, os resultados podem ser distintos dependendo de locais e culturas diferentes e, desta forma, não é possível ter estereótipo, mas sim pautar essa medida em leitura de resultados.

Em contrapartida, Claudia Candido defende que não há como distinguir gêneros no mercado de seguros, embora sejam oferecidos produtos que eventualmente possam se identificar mais com o temperamento feminino e outros com o masculino. Para a executiva, o seguro é um instrumento de equilíbrio para as famílias, para as empresas e até para as nações. “Os conceitos modernos de seguros enxergam os gêneros dentro de uma mesma ótica de necessidades”, conclui.

Carteiras promissoras

A diversificação da carteira se faz necessária e exige que as profissionais atuantes no setor aprendam a lidar com esta questão e estejam aptas a comercializar todos os segmentos. “A capacidade da mulher lhe permite operar em todas as frentes que desejar”, destaca Andreia. “Entretanto, em virtude da sensibilidade feminina, penso que as carteiras mais promissoras sejam as de linha pessoal e/ou benefícios. Pelo cuidado de trabalhar se atentando ao detalhe, a mulher pode desenvolver carteiras que exijam mais atenção e criatividade, despertando as vantagens de seguros que venham ao encontro de atender as necessidades de todos os públicos”, explica.

Em resseguros, Patricia afirma ser difícil apontar uma área que seja mais promissora, já que todas têm presença forte de profissionais femininas. “Em minha área, que é de Engenharia, já se pode ver muitas mulheres ocupando cargos de Gerente de Projetos, por exemplo, que passam todo o período da obra trabalhando em canteiros de obras, uma área que culturalmente já é associada ao homem. Neste setor, depende mais de qual é a expertise da mulher e de suas escolhas do que uma tendência igualitária específica”, finaliza.

Produtos exclusivos

Elas estão mais dispostas a contratar seguros e, de olho nessa tendência, o mercado cria produtos exclusivos para as mulheres. Veja como funcionam algumas das proteções destinadas exclusivamente ao público feminino:

  • Seguro de Automóvel: geralmente as mulheres contam com algumas vantagens nesta carteira. Por serem mais cautelosas ao volante, registram menores taxas de sinistralidade e, por isso, recebem descontos no valor final do seguro. Para elas, são oferecidos ainda serviços adicionais:– assistência 24 horas;
    – motorista disponível caso a cliente não esteja em condições físicas ou psicológicas para dirigir;
    – táxi em caso de acidente ou pane;
    – acompanhante à delegacia em caso de roubo e furto do veículo;
    – desconto em estacionamentos e academias;
    – reparos em eletrodomésticos e serviços emergenciais à residência;
    – troca de pneus e auxílio reboque ilimitados;
    – consulta gratuita para pets;
    – cobertura para cadeira infantil;
    – leva e traz em caso de manutenção do veículo;
    – help desk para tablets, notebooks, smartphones e vídeo game;
    – Central de Relacionamento Exclusiva;
    – serviço de guincho em caso de pane sem limitação de número de eventos por vigência.
  • Seguro para Bolsas: indenização em caso de roubo ou furto qualificado da bolsa ou pasta, a fim de repor os itens perdidos como carteira, documentos, celular, óculos de sol ou de grau, cosméticos, perfume e chaves. Na maioria das vezes, o produto é comercializado por instituições financeiras e lojas de varejo.
  • Assistência à Mulher: conta com alguns dos serviços já oferecidos no seguro de automóvel (como socorro mecânico e reboque, troca de pneus e transportes emergenciais, e chamados residenciais como encanador, eletricista e chaveiro), mas também disponibiliza serviços específicos para a saúde e o bem-estar da mulher. Estão inclusas assistência nutricional e farmacêutica, delivery de medicamentos e descontos em compras de remédios e segunda opinião médica internacional.
  • Seguro de Vida: além das coberturas tradicionais (indenização por invalidez permanente total ou parcial por acidente, por morte natural ou acidental e seguro de assistência funeral), o seguro de vida voltado às mulheres cobre os custos em casos de diagnóstico de câncer de útero, ovário ou mama, capitais que variam de R$ 10 mil a 500 mil (dependendo da seguradora) e sorteios semanais ou mensais em dinheiro. Em caso de falecimento, há a assistência funeral, na qual a família recebe assistência integral e gratuita. Assim como nos serviços de assistência à mulher, oferece segunda opinião médica e assistência nutricional.
    Nesta carteira, algumas companhias disponibilizam ainda descontos em clínicas de estética e beleza, serviço de descarte ecológico a produtos que atingem o fim de sua vida útil, personal fitness e amparo em caso de problemas decorrentes de assalto, agressão, roubo ou furto envolvendo o segurado, seu automóvel ou residência. Além disso, estendem a cobertura de doenças graves como acidente vascular cerebral agudo, cirurgia coronariana tipo Bypass, infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal terminal, paralisia total e irreversível, perda total da audição, fala ou visão e transplante de órgãos.

Fontes: Ace Group, BB Seguros, BNP Paribas Cardif, Bradesco Seguros, Brasil Assistência, Mapfre, MetLife, Seguros Unimed e SulAmérica

Lívia Sousa

matéria veiculada originalmente na edição 208 – março/2016

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