Ultima atualização 05 de agosto

Motocicletas precisam de seguro

Alto índice de sinistros encarece o valor de prêmio da carteira e torna inviável a contratação de produtos para alguns modelos de motocicletas

Motocicletas precisam de seguro

Cortando as ruas dos grandes centros urbanos ou garantindo a mobilidade em pequenas cidades afastadas das capitais, a moto no Brasil representa 27% da frota nacional e é alternativa de renda para muitas pessoas, do moto táxi ao motoboy, passando pelos entregadores de pizza. É utilizada majoritariamente por pessoas mais novas e/ou com menor poder aquisitivo.

Há também quem use a moto só para lazer, como hobby. Nesses casos, o veículo costuma ser mais potente, feito para viagens na estrada, com um valor mais alto e adquirida por pessoas, geralmente, um pouco mais velhas.

Cláudia Rizzo, gerente executiva de Operações Varejo da MDS, explica que, de forma geral sempre existe dificuldade um pouco maior para se fazer um seguro e conseguir boas coberturas nos modelos individuais. “Isso acontece, justamente, por causa dessas diferenças de perfil, tanto da moto quanto do condutor”, explica. A executiva completa ainda que “sobre o seguro de moto, as pessoas que contratam, como são mais velhas, tendem a guardar a moto em casa, só usar em determinadas situações e a ter mais preocupação, tanto com segurança quanto com manutenção. De maneira geral, motos mais simples, com menos cilindradas, são de condutores mais jovens e despreparados”, afirma. Luis Rocha, sócio da Central Brag Corretora, percebe justamente essa movimentação. “Quem nos procura, via de regra, são os motociclistas e não motoqueiros que usam a moto para trabalhar. Para esses últimos, o seguro não compensa”, conta.

A falta de produtos específicos é ressaltada por José Ferreira, corretor da STA Seguros, assim como o declínio constante para esses riscos. “Motos de baixas cilindradas poderiam ter produtos voltados para elas com diferenciais de coberturas e assistência 24 horas”, aponta. Para o corretor, essa análise de perfil deveria ser mais aprofundada, e levar em consideração que mesmo aqueles que representam risco maior devem ter opções. Para isso, ele faz um comparativo com os produtos de seguro Auto voltado para jovens, que treinam, orientam e premiam quem tem bom desempenho ao volante.

A proteção existe, mas acaba ficando muito mais cara, chegando a custar a metade do valor da moto. Uma moto de 300 cilindradas tem como perfil de usuário jovens que a utilizam para trabalhar, o veículo é mais leve e mais ágil e custa, em média, R$ 16 mil, o prêmio do seguro para essas condições custará entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. Porém, com as mesmas cilindradas, uma scooter, que não tem tanta agilidade, com um perfil diferente de usuário, terá um seguro entre R$ 2,8 mil e R$ 3 mil. “No carro também é um pouco assim. Mas no seguro de motos isso se intensifica, pois a análise de perfil pode fazer com que o valor do prêmio aumente em 50%”, conta.

Algumas companhias se movimentam para tentar ser mais inclusiva com as questões, mas a sinistralidade dessa possível carteira acaba tornando essas investidas muito difíceis de serem colocadas em prática.

Pensando soluções

Se o intuito do seguro é ajudar as pessoas a proteger seus bens, aí está uma fatia do mercado que é um desafio, principalmente porque quem está sem proteção são pessoas de renda mais baixa. Utilizar ideias da carteira de automóvel, por exemplo, como o Seguro Auto Popular, pode ser uma alternativa, mas ainda precisa de muito estudo. “Também existe a possibilidade de, ao comprar a moto financiada, para não correr o risco de ficar sem o bem, o cliente contratar o seguro”, explica Luis Rocha. De maneira geral, há requisitos que devem ser cumpridos para viabilizar a contratação, como a instalação de rastreadores e mecanismos de segurança, visando equalizar o custo da proteção. Essas medidas disponíveis geralmente são de curto prazo, porque a questão de uso também implica em uma maior deterioração da moto. Para que valha à pena ter esses mecanismos, é preciso comprar a moto com intuito de que seja uma compra de vida longa.

Os sinistros de roubo, por exemplo, estão muito ligados ao tipo de moto e à finalidade. Motos mais leves, baratas e também as mais velozes são as preferidas para ladrões. As Harleys, por exemplo, são valiosas, principalmente por suas peças, mas acabam sendo menos visadas para roubo por chamarem muita atenção e seus sinistros são, na maioria das vezes, causados por quedas e avarias na funilaria. “Mas acontece um pouco de tudo. Se é modelo de linha, eles roubam para usar, se saiu de linha o roubo acontece por conta das peças. É bastante semelhante à motivação de furto de automóvel”, comenta Claudia.

É comum acreditar que as motos são também mais suscetíveis à ocorrência de fraudes, mas o índice nessa questão é bastante semelhante ao que ocorre com os carros. Os acidentes, sim, são mais preocupantes. Segundo dados da Seguradora Líder, que opera o Seguro DPVAT, as motos são responsáveis pela maior parte das indenizações: 76%, de janeiro a setembro de 2015, sendo a região Nordeste a que apresenta a maior frota de motocicletas: 45% do total da região, e o maior índice de indenizações por morte: 61% do que acontece nos nove estados.

Do ponto de vista técnico, o aumento contínuo da frota de motos, já que a participação nos emplacamentos, segundo dados da Fenabrave, foi de 14,47%, em junho de 2014, para 15,76%, em junho de 2015, pode ser promissor para o desenvolvimento dos estudos do mercado sobre o assunto.

Essa afirmação aparece também na procura dos seguros para as motos que têm mais facilidade de proteção. “A procura tem aumentado muito”, afirma Claudia, “o volume de venda de motos aumentou demais, enquanto o mercado de automóveis diminui. Vemos também o crescimento no interesse de novos perfis de pessoas, especialmente em São Paulo, mais cuidadosas, conscientes; muitas mulheres têm procurado por motos também. Isso certamente facilitará a venda porque perfis melhores acabam equilibrando a carteira”, aposta a executiva da MDS.

A legislação e processos de fiscalização podem impactar a carteira, quanto mais rígidos forem, maior será a preocupação e a possibilidade de ter seguro. Em diversos países, todos os veículos motorizados precisam de seguro obrigatório de responsabilidade civil. Apesar de não ser assim no Brasil, essa seria uma solução para fazer a carteira crescer.

O corretor Ferreira é mais otimista, tomando como base a quantidade de consultas que tem diariamente para o seguro de moto. Mesmo assim, acredita que apenas com um questionário mais específico de avaliação de risco e ampliação de aceitação, que venha a diminuir o preço, será possível tornar esse crescimento viável. “Só dessa maneira poderemos apresentar o melhor custo-benefício em relação aos produtos disponíveis”, finaliza.

Amanda Cruz
Revista Apólice

* matéria originalmente publicada na edição 209 (abril/2016)

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