Ultima atualização 26 de março

Edição 210

entrevista | Gustavo Cunha Mello

Mais gerenciamento de risco, por favor!

Gustavo Cunha Mello, corretor de seguros e especialista em gerenciamento de riscos, fala sobre os problemas que podem ocorrer quando este trabalho é deixado de lado

Kelly Lubiato

APÓLICE: Nas grandes obras no Brasil, falta gerenciamento de risco?
Gustavo Cunha Mello: Falta gerenciamento de risco no Brasil como um todo. As pessoas somente se lembram do risco depois de tomarem grandes prejuízos e é um problema cultural ainda.

APÓLICE: E as grandes obras?
Gustavo Cunha Mello: Mesmo supondo que não haja corrupção, o modelo de licitação, pela Lei 8.666, é melhor do que no passado, mas ainda não é o ideal. O órgão público cria um edital de licitação com um projeto. Muitas vezes, ele é quase arquitetônico. A preocupação é com a beleza e funcionalidade do equipamento, mas não está preocupado com detalhes da obra. Quando licitam isso, não exigem um padrão mínimo de qualidade. O projeto é mais robusto quando é pensado primeiro em sua estrutura, com uma licitação, e depois com outra licitação para a obra. Quando cai na mão do engenheiro que ganhou a licitação, ele tem que gerir com poucos recursos um projeto.

APÓLICE: Quais são os exemplos?
Gustavo Cunha Mello: O Maracanã foi reformado para a Copa e já apresenta diversos problemas em sua estrutura, como banheiros vazando, paredes com rachaduras, escadas problemáticas. Outro exemplo seria o Engenhão, que foi construído para os Jogos Panamericanos, na gestão do prefeito Cesar Maia. O maior estádio dos Jogos Panamericanos do Rio já foi fechado porque a sua torre e a cobertura poderiam desabar. Estes são exemplos de obras públicas realizadas sem a qualidade devida. Uma das razões é o modelo de licitação que é não é adequado, pois licita projeto e construção conjuntamente.

APÓLICE: Neste cenário, como entra o mercado de seguros?
Gustavo Cunha Mello: O mercado de seguros tem a visão de outra ponta do triângulo, pois são players diferentes: a seguradora, a empreiteira e o Poder Público. Este último deveria estar preocupado com a qualidade desta obra e o seu gerenciamento de risco. Há muitas obras que acabam matando pessoas. A obra do BRT (Trânsito Rápido por Ônibus), no Rio, simplesmente tirou uma faixa de circulação de carros e pintou o chão. Ninguém pensou que se está colocando um ônibus de alta velocidade, com risco de atropelar as pessoas. Não há preocupação em criar barreiras para que as pessoas não circulem próximas à pista. No Rio de Janeiro há, pelo menos, um acidente grave, com vítima, por mês. Foi uma construção não pensada. Na Avenida Rio Branco, também no Rio, está sendo construído o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), onde há grande fluxo de pessoas, sem nenhuma barreira, no fluxo e contra-fluxo. Não foi pensado no gerenciamento de risco para a população, que está acostumada com mão única de veículos.

APÓLICE: E sob a ótica da seguradora?
Gustavo Cunha Mello: A seguradora faz o gerenciamento de risco de sua carteira de seguro, pois ela está pensando no seu interesse, como empresa. Ela tem que prestar o serviço do seguro, dar cobertura aos sinistros que acontecerem, mas ela tem o objetivo de manter carteiras de seguro saudáveis, até para manter o mutualismo no seguro.

Neste gerenciamento de risco ela recebe o contrato de um projeto de engenharia para construir um estádio, por exemplo, e basicamente vai ver se há capacidade técnica e financeira para construir. Quem manda no seguro é o cronograma financeiro e o projeto. Ela vende a cobertura de erro de projeto para aquilo que está no papel. Ela não interfere na relação Poder Público/Empreiteira e apenas atende ao que foi contratado.

Se houve erro de projeto no caso da ciclovia Tim Maia, de ausência de projeção para o suporte de ondas fortes, para a seguradora não é erro de projeto, se isso não foi pedido.

APÓLICE: Só seria erro de projeto se estivesse no papel e a empreiteira não tivesse cumprido o projeto?
Gustavo Cunha Mello: Exatamente. Quando eu considero um projeto, é de acordo com aquilo que foi contratado. Se teve erros de cálculo de engenharia, erros de execução (cobertura básica de riscos de engenharia) e erros de projeto seria considerado que o sujeito não calculou direito as vigas, a amarração etc. Em parte, no final da história, nesta perícia pode ser que se encontre erro de todo mundo, inclusive da empresa que construiu (se a plataforma não fosse de concreto, mas de metal vazado talvez não tivesse sido levantada).

APÓLICE: Os gerentes de risco podem ser considerados uma espécie em extinção?
Gustavo Cunha Mello: Existem pouquíssimos destes profissionais, embora muita gente erradamente se julgue gerente de risco. Para isto, é preciso formação acadêmica própria e especialização. Outra questão é que os corretores podem contribuir, mas jamais assinar relatórios de gerenciamento de risco, e a mesma coisa para as seguradoras, pois poucos vistoriadores são gerentes de risco. Dizer que faz gerenciamento de risco quando você basicamente instala um rastreador em um caminhão, sem de fato ter a técnica, é perigoso.

As pessoas talvez não percebam que o gerenciamento de risco é uma metodologia científica que tem uma série de ferramentas matemáticas para levar a uma tomada de decisão e para apontar os riscos. É um processo. Primeiro identifico os riscos, avalio e analiso a probabilidade deles acontecerem e coloco nesta análise a avaliação do prejuízo que eles possam causar, a severidade deles. Frequência e severidade, utilizando a estatística. A partir disso se aponta o tratamento, entre criar provisões técnicas, não correr o risco ou abdicar do risco, ou ainda transferir o risco para a seguradora. Quando o sujeito trabalha com o seguro, ele cuida apenas do tratamento, que é a transferência do risco, mais simples do que todo ferramental matemático e arcabouço estatístico do processo de gerenciamento de risco.

APÓLICE: Como o gerenciamento de risco pode ajudar as seguradoras?
Gustavo Cunha Mello: Da mesma forma como em mercados maduros. Se você tem uma empresa com um risco declinável (colchão, plástico, supermercado, madeira etc) com um bom processo de gerenciamento de risco, você consegue definir o seu risco, sabendo como ele é e funciona. A forma de lidar com o risco do empresário é diferente. Ele deixaria de ser um risco declinável para ser um altamente segurável, com qualidade de informação. Infelizmente, não temos mão-de-obra suficiente no Brasil para avaliar este tipo de coisa

APÓLICE: Há uma série de riscos declináveis que ninguém quer, mas o mercado não trabalha para torná-los aceitáveis.
Gustavo Cunha Mello: Este é o meu trabalho diário. É preciso encontrar um empresário que queira pagar este serviço, que são poucos, porque não é barato, tem que encontrar um subscritor de risco e uma seguradora com vivência empresarial. A maioria das seguradoras faz apenas o básico por falta de mão-de-obra. Falta gente preparada para tomar as decisões certas. Por medo de tomar decisões erradas, as pessoas preferem não aceitar o risco. Este é um retrato de hoje, mas no longo prazo acredito que vá melhorar e a gente vai se aproximar dos mercados maduros, onde existem pessoas com visão de gerenciamento de risco. Quando se tem um bom relatório de análise de risco de um segurado, é melhor do que outros riscos que eu aceito de olhos fechados na massa.

APÓLICE: Você acha que pode vir uma nova geração de gerentes de riscos mais bem formados, usando novas tecnologias para executar o trabalho?
Gustavo Cunha Mello: Eu não vejo ninguém se inscrever nas faculdades de engenharia com foco no gerenciamento de risco. São pouquíssimos profissionais. Este é um desafio que nós temos, de convencer os mais jovens e tentar formar pessoas mais gabaritadas. O movimento que enxergamos hoje é de seguradoras deixando os grandes riscos e focando nos produtos de varejo. Estes não são demandantes de gerenciamento de riscos. A preocupação é outra.

APÓLICE: A condição da economia tem reflexos na contratação dos seguros?
Gustavo Cunha Mello: A condição econômica reflete na preocupação de fazer seguros melhores. Aquele sujeito que teve um sinistro, perdeu seu negócio, ele se preocupa em fazer um bom gerenciamento de risco. O melhor segurado é aquele que acabou de pegar fogo. Ele está com medo e vai investir em soluções que tornem o negócio dele melhor.

APÓLICE: Esta situação econômica pode motivar as fraudes ou menos cuidados com os riscos?
Gustavo Cunha Mello: Não vejo a sinistralidade aumentar, mas percebemos a imprensa mais atenta e a população mais preocupada, porque ninguém quer um sinistro perto de casa. Alguns sinistros foram muito grandes, como o do Porto de Santos e chamam muito a atenção, como a Samarco. Não acredito muito em fraudes porque o seguro jamais vai dar lucro para o sujeito. O empresário sempre perde dinheiro, mesmo tendo seguro, porque existe depreciação, o estoque é pago pelo valor de custo, há muita burocracia para receber, demora para reconstruir a planta e voltar ao mercado. Um exemplo, a CSN teve em 2006 a explosão do autoforno número 3, com dano material de R$ 70 milhões. Ela reconstruiu o autoforno em seis meses. Só a obra e o tempo parado fez ela perder 40% da receita, que chegou a ter mais de R$ 400 milhões de prejuízo. O segurado sempre perde dinheiro com o sinistro. Cabe ao mercado mostrar isso a ele, porque enxergo pouca cultura do brasileiro em relação ao gerenciamento de risco. O dono da empresa está preocupado com as vendas, com a situação do mercado, com o marketing, mas esquece de olhar o para raio, o quadro de luz, a parte elétrica, a manutenção dos hidrantes e mangueiras de incêndio. Não generalizando, mas enxergo mais falta de cuidado com o que não faz parte do core business da empresa, mas não é fraude.

No automóvel, temos um perfil que se preocupa se o sujeito para em garagens, tem multa etc. Devíamos ter a mesma coisa no seguro empresarial, porque isso colaboraria para cuidar do seu gerenciamento de risco e ser premiado por isso.

APÓLICE: Em um sinistro de grandes proporções, com grande repercussão, aumenta de alguma forma a preocupação das pessoas e consequente procura pela proteção dos riscos?
Gustavo Cunha Mello: A imprensa é a maior contribuinte para a venda de seguro no Brasil. Quando acidentes como o da Samarco ou Porto de Santos acontecem, faz com que as pessoas comecem a se preocupar nos mais diversos segmentos do mercado. Eu sinto isso no meu dia-a-dia, porque sou mais consultado. As pessoas se lembram dos riscos, têm medo de que algo aconteça. De acordo com o antropólogo Clemente Nóbrega, a cabeça do ser humano só presta atenção em três coisas: sexo, comida e medo. Isso porque o nosso DNA, desde o tempo das cavernas, pensa nestes três itens para a sua sobrevivência. Quando recebemos 30 mil propagandas em média por dia, nosso cérebro filtra esta informação. Quando é alguma coisa que desperta o medo, ela chama atenção. O medo faz com que as pessoas tomem cuidados.

 

direto de londres | por Luciano Máximo*

A crise vista de fora

Aos olhos de seguradoras e resseguradoras baseadas no Reino Unido e na Europa, a combinação de elementos dos tempos turbulentos que o Brasil atravessa caracteriza uma verdadeira “tempestade perfeita”. E ela é preocupante, mas os agentes internacionais do setor estão atentos.

No front econômico, o mix de desaceleração da atividade, repique inflacionário, desvalorização cambial e indisciplina fiscal é de fazer arrepiar os mais tarimbados profissionais do mundo (res)segurador. E tem ainda o lado político para dar contornos ainda mais dramáticos à “tempestade perfeita”, com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff tramitando em altíssima velocidade para os padrões do Congresso Nacional e, ainda, a operação Lava-jato atingindo em cheio a Petrobras, a maior consumidora empresarial de produtos de seguros do país.

A coluna Direto de Londres conversou com vários profissionais do mercado segurador e ressegurador para saber como representantes de grandes empresas estrangeiras enxergam o mercado brasileiro no momento. Todos demonstram preocupação com o péssimo desempenho da economia e a inflação elevada – isso fere de morte a indústria seguradora, pois significa menos prêmios faturados. Alguns criticam prudentemente o atual governo por seu caráter intervencionista e indisciplinado fiscalmente. No geral, evitam falar de guinada com a chegada de um eventual governo Michel Temer; preferem o discurso diplomático de confiança no Brasil e aposta em uma estratégia de negócios focada no longo prazo. Também apresentam saídas para a crise sob a ótica do setor.

Com a palavra, o mercado britânico e europeu

Munido de números sobre a economia brasileira e com o desempenho do mercado segurador do país na ponta da língua, Kurt Karl, economista-chefe da Swiss Re, começa sua análise enfatizando que estabilidade macroeconômica é indispensável para criar um ambiente de crescimento sustentado das indústrias de seguros e resseguros. Ele ressalta que o segmento não-vida encolheu 3% no ano passado e deve ver os prêmios caírem anda mais em 2016: 4%. Segundo ele, os prêmios cedidos em resseguro no Brasil registraram retração de 3% em 2015, mas devem se recuperar este ano.

“Dentro desse contexto, o governo deve restaurar seu compromisso com disciplina fiscal e estabilidade de preços, dois pilares do sucesso econômico do país nas últimas décadas. Risco regulatório também é uma grande preocupação: as recentes medidas sobre transações de resseguros entre Estados, facilitando transferências internamente pelas empresas, trazem mais confiança aos operadores estrangeiros para atuar localmente. O Brasil precisa mesmo que seu sistema político foque na melhora da economia e no crescimento econômico potencial, além de se voltar seriamente para reformas estruturais e estabelecer disciplina fiscal e monetária”, avalia Karl.

O economista reitera que as empresas do setor de seguros devem enfatizar ganhos de eficiência com digitalização de processos e serviços digitais aos clientes como formas de enfrentar a crise. Ele lembra que a penetração de produtos de seguros no Brasil ainda é baixa, inferior ao mercado chileno, com gasto per capita de US$ 332. “Há enormes lacunas a serem preenchidas no mercado brasileiro, mesmo em tempos de crise. Há produtos no ramo vida e de infraestrutura que podem ser muito melhor trabalhados. No segmento automóveis e de saúde também há espaço para crescimento, são nichos em que o Brasil ainda está bem atrás de mercados mais desenvolvidos. Para não falar que é possível promover uma transformação digital na comercialização de seguros no Brasil.”

Elizabeth Powell, underwriter do sindicato Sompo Canopius no Lloyd’s of London, conhece o mercado brasileiro por causa de sua passagem pelo IRB Brasil Re. Ela menciona a “tempestade perfeita”, destacando que o governo, seja Dilma ou Temer, deve atacar a inflação alta com todas as forças. “Aliada à desaceleração da economia e ao desemprego em alta, a inflação mina o lado comercial das operacões de seguros e resseguros. É o maior risco. Quanto à crise, é preocupante, mas muitos países passam por crises e elas tendem a ser superadas com o tempo, os negócios precisam se ajustar à dinâmica de crescimento mais lento”, ponderou Elizabeth, citando como exemplo a crise do início dos anos 2000 na Argentina e, mais tarde, o baixo desempenho da economia nos últimos anos de Cristina Kirchner. “O novo governo está dando um choque econômico e muita coisa está mudando na Argentina, muitas oportunidades estão surgindo para o setor de seguros e resseguros. Há um ano havia pouca esperança.”

Reservadamente, um alto executivo do próprio Lloyd’s conta que, por causa da desvalorização cambial, o mercado de resseguros brasileiro sofreu forte redução em 2015, quando o volume de prêmios medido em dólares teve uma redução de 23%. “No entanto, isso não muda nosso apoio ao país. O Lloyd’s está comprometido com o Brasil e continuará a apoiar o mercado brasileiro. Temos confiança de que no médio prazo a economia brasileira vai se recuperar e, consequentemente, o mercado de seguros e resseguros voltará a crescer. Entretanto, para que o setor de seguros e resseguros brasileiro possa se desenvolver e crescer de forma sustentável, é fundamental uma melhor integração com o mercado internacional, implementando um processo de liberalização e desburocratização no setor.”

Em meio à tramitação do processo de impeachment na Câmara, um documento publicado pela Europe Insurance, associação de seguradoras europeias, faz menção ao excesso de intervenção do governo no mercado ressegurador, limitando a oferta de capacidade por parte de resseguradoras estrangeiras. “O Brasil representa um mercado muito importante para a indústria seguradora europeia. Atuais relações podem ser ampliadas e melhoradas com a retirada de barreiras comerciais e aumentando a convergênca regulatórias”, assinala o paper.

Outro ponto de atenção é o segmento de óleo e gás, energia e grandes obras, todos atrelados com a Petrobras. Com a consolidação do preço do petróleo no mercado internacional em nível baixíssimo e o escândalo de corrupção apurado pelas investigações da operação Lava-jato, as seguradoras e resseguradoras tendem a faturar menos prêmios nesse nicho de mercado. A avaliação é de Deniese Imoukhuede, diretora da AM Best, agência de classificação de risco, baseada em Londres, especializada no mercado segurador.

“A geração de prêmios será menor que os resutados obtidos em anos anteriores, com o preço do petróleo em patamares mais elevados. Com a queda da commodity, naturalmente a tendência é de desaceleração das transações pelas seguradoras. Isso já está acontecendo em outros países emergentes, não só no Brasil. Seguradoras na Rússia e Nigéria já sofrem o impacto dessa nova precificação. O problema é que no Brasil tem esse escândalo de corrupção que está paralisando tudo, inclusive afetará os segmentos de seguros da cadeia de negócios que envolve a Petrobras, como energia e construção. A receita aqui é partir para a diversificação de carteira”, aconselha a executiva da AM Best.

tabela

* Luciano Máximo, jornalista, é repórter licenciado do jornal Valor Econômico, cobriu o setor de seguros e resseguros na Gazeta Mercantil

 

mercado | transporte

Setor mantém o otimismo

Mercado, que já lida com o o aumento da sinistralidade e as fraudes, sente reflexo direto da situação econômica. Executivos comentam as perspectivas do mercado diante das adversidades

Lívia Sousa

O mercado de seguros de transportes brasileiro se tornou bastante competitivo. As empresas estão revendo custos em todos os quesitos, o que inclui também a contratação dos seguros, solicitando que as companhias seguradoras reduzam suas taxas e contribuam, assim, para um panorama de grande concorrência e elevação do percentual de sinistralidade.

Ao mesmo tempo, em se tratando do mercado como um todo, o setor sente o reflexo direto da situação econômica, uma vez que o seguro é contratado por conta do trabalho de transportar aquilo que é produzido e comercializado no País. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015 o Produto Interno Bruto (PIB) totalizou R$ 5,9 trilhões – valores correntes –, o equivalente a uma contração de 3,8% em relação ao ano anterior, a maior da série iniciada em 1996. Já o PIB per capita ficou em R$ 28.876, com queda de 4,6% em volume, em relação ao ano anterior.

Dentre as atividades que compõem os serviços realizados no País, a área de transporte, armazenagem e correio foi a que apresentou a segunda maior retração, de 6,5%; ficando atrás do comércio, que sofreu queda de 8,9%. Para se ter ideia, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), o mercado de seguro de transportes atingiu R$ 2,47 bilhões em prêmios emitidos em 2015 contra R$ 2,56 bilhões em 2014, o que representa uma queda de 3,55%.

“No início do ano, especificamente no primeiro trimestre, a movimentação de carga é menor. No fim de ano, o número aumenta por conta das safras e das datas comemorativas”, comenta Iramil Bueno de Araujo, gerente geral transportes e gerenciamento de risco da Rodobens, afirmando ainda que as paralisações dos caminhoneiros nas rodovias federais que reivindicavam a renúncia da presidente Dilma Rousseff foram muito curtas e não impactaram na área.

Diretor executivo da área de Transportes da Yasuda Marítima, Adailton Dias afirma que, nos anos recentes, o segmento sofreu com os problemas que afligem os clientes das seguradoras: os operadores logísticos. De acordo com o executivo, a falta de investimentos em obras de infraestrutura, as más condições dos meios de transporte de cargas e das estradas, a falta de profissionais qualificados para atuar no segmento, além da baixa segurança fizeram com que essa categoria de seguro deixasse de ser interessante para algumas seguradoras. E tudo isso é somado às grandes dificuldades de operacionalizar o processo de subscrição e cobrança dos prêmios. “Para os players que se mantiveram, foi necessário investir na operação para poder atender ao segurado e ainda buscar a rentabilidade da carteira”, completa.

Diante deste cenário, a aposta, na visão de Dias, é cada vez mais investir em pessoas e contar com um corpo técnico que conheça o segmento, os meandros das operações logísticas e as necessidades dos segurados.

Gargalos

Junto com o equilíbrio técnico entre o cálculo atuarial e o sinistro, os altos índices de roubos de carga são um grande problema neste segmento. “O aumento da frequência e severidade no roubo de carga tem sido um desafio, necessitando maior atenção no momento da subscrição de um risco, principalmente nos planos de gerenciamento de riscos”, lembra a gerente de Transportes da Porto Seguro, Rose Matos.

Entre as mais visadas estão as cargas de alimentos e bebida, de automóveis e de peças de carros. No entanto, são os eletroeletrônicos, os produtos farmacêuticos e os cigarros que dispararam. “Estes são veículos com cargas de maior valor agregado. Produtos eletrônicos, por exemplo, com valores elevados que podem chegar a R$ 2 milhões ou mais em um único carregamento, estão entre os mais visados e são alvos de abordagem para roubo de carga”, analisa Sergio Caron, líder de Práticas de Transporte da Marsh. Segundo ele, as regiões do roubo de carga se concentram no eixo Sul/Sudeste/Nordeste, onde ocorre a grande distribuição dos produtos dada a concentração dos mercados consumidores.

A consultoria FreightWatch divulgou um relatório que considerou apenas cinco das 27 unidades federativas do País, com baixo risco para roubo de carga. Segundo o executivo da Yasuda Marítima, isso tem a ver muito mais com as características específicas desses Estados, como baixo investimento em infraestrutura rodoviária, grande número de bacias hidrográficas, cidades isoladas e de difícil acesso; do que mais propriamente por razões de segurança.

Ações específicas não acabam com esses entraves, mas podem contribuir para minimizá-los. “Em caso de roubo e acidente, podemos treinar os motoristas e monitorar os veículos. Ao cliente final é preciso aproximação, levar as informações de mercado e adequação da apólice à cobertura para cada negócio. Enfim, não há uma receita só”, declara Iramil Bueno de Araujo, da Rodobens.

Projeções

Mesmo diante de um cenário macroeconômico adverso, os executivos apontam para uma perspectiva positiva. Eles confirmam que o mercado securitário, no geral, projeta um 2016 mais desafiador, mas destacam que este também será um ano para aproveitar as oportunidades. “Nossos esforços têm sido constantes para, cada vez mais, levar aos clientes e corretores mais flexibilidade e benefícios em nossos produtos, buscando resultados assertivos para todos os envolvidos”, garante a executiva da Porto Seguro.

A ênfase sobre a obrigatoriedade dos seguros de RCTR-C – Seguro de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário Carga, ação realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em conjunto com a Susep, também dá fôlego neste momento. Para Claudinei Costa, superintendente de Transportes da Seguros Sura Brasil, este maior controle na regulamentação da legislação gera uma expectativa positiva para o segmento de seguros de transportes. “As seguradoras que assumirem um papel consultivo, auxiliando seus clientes na gestão de riscos, estarão mais preparadas para conquistar este mercado”, frisa Costa.

Adailton Dias, da Yasuda Marítima, também identifica uma janela de oportunidade justamente porque muitos concorrentes deixaram o mercado por não alcançar rentabilidade em suas carteiras.

Por sua vez, Sergio Caron frisa que a perspectiva depende muito de cada empresa e o setor de atuação dela. Alguns clientes prevêem um crescimento entre 20% a 30% em seus faturamentos, embora a realidade aponte para uma visão mais conservadora. Normalmente, as companhias têm declarado uma previsão com redução de faturamento na ordem de 20%.

“Contudo, como há outros fatores que influenciam o valor final dos prêmios de seguro (como reposição da inflação, câmbio, franquias, cenário micro e macroeconômico, ajustes de taxas, investimentos em maior ou menor escala em gestão de riscos, entre outros), entendemos que os prêmios totais de seguro devem ter uma elevação de até 5% em nossas linhas de atuação”, diz o executivo da Marsh.

Números alarmantes

Considerado um importante centro logístico do Estado do Rio de Janeiro pela proximidade com vias importantes, Pavuna, na zona norte, vê as empresas de logística locais desaparecerem. Segundo polo empresarial da região, apenas em 2015 cerca de 10% das 45 empresas que integravam o grupo fecharam as portas. Além da saída de algumas empresas, outras que não têm filiais no local estão evitando fazer entregas na região.

No Estado, os números preocupam. Enquanto em 2014 foram registrados 5890 roubos de cargas, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), no ano passado o número saltou 22,66% e chegou a 7225. Dados mais recentes indicam que apenas nos primeiros três meses de 2016 houve 1988 roubos de carga, número 11% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior (1790).

Já São Paulo foi na contramão no mês de março. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) indicam que os roubos de carga no Estado recuaram 7,74% no período e passaram de 879 ocorrências registradas em 2015, para 811, em 2016. O índice segue a tendência de queda para essa categoria de crime, que no primeiro trimestre deste ano sofreu redução em 9,31% em relação aos três primeiros meses de 2015.

 

saúde | epidemia

O impacto das novas doenças

Operadoras e órgãos do setor buscam ações para equilibrar o aumento dos custos gerados pela conjuntura econômica somada ao surgimento de Zika vírus, chikungunya, microcefalia e H1N1

Lívia Sousa

Ao mesmo tempo em que enfrenta instabilidades na política e na economia, o Brasil atravessa uma onda de novas doenças epidêmicas. O vírus H1N1, também conhecido como Influenza A ou gripe suína, se tornou responsável por metade dos casos de gripe registrados no País e, até o dia 23 de abril deste ano, havia feito ao menos 290 vítimas fatais, segundo o Ministério da Saúde.

Na mesma data, o zika vírus (causado pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue e da chikungunya) somava 1.198 casos confirmados, com mais de 7,2 mil notificações para investigação. Associado também à microcefalia e à síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano, o vírus também foi detectado em outros países e declarado como emergência internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A saúde suplementar sente os impactos deste cenário que eleva, de forma não prevista e significativa, o número de procedimentos, internações e atos associados. A começar pelas visitas aos prontos socorros, que cresceram consideravelmente nos últimos meses. “Estas doenças são muito novas e ainda não conseguem ser claramente mensuradas. O que sabemos, ao observar o comportamento dos pacientes, é que por medo, desconhecimento da enfermidade e dificuldade de diagnóstico, tendem a usar o pronto socorro em uma frequência maior”, declara Luciana Lauretti, sócia da Azimutemed.

Para as operadoras de saúde, equilibrar o aumento dos custos gerados pela conjuntura econômica somada ao surgimento de doenças novas é um grande desafio, pois a prática contribui para o aumento desproporcional dos valores a ser desembolsado. No entanto, não é possível fazer projeções imediatas desses valores, uma vez que o cálculo da inflação médica envolve fatores diversos – como frequência de uso, complexidade dos procedimentos eventualmente necessários, custos com internações, medicamentos e insumos. Outro aspecto a ser considerado é a recomposição das perdas inflacionárias, que ocorre somente quando os reajustes são aplicados às mensalidades no futuro.

Na tentativa de contornar este cenário, as operadoras investem em melhorias de gestão e otimização das rotinas de trabalho. Mas a presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fena- Saúde), Solange Beatriz Palheiro Mendes, salienta que, independentemente de novas doenças ou do cenário macroeconômico do País, que afeta intensamente a geração de emprego e renda, a instituição vem há tempos alertando sobre os gargalos do setor. Um deles é o desequilíbrio financeiro, situação que resulta do crescimento das despesas assistenciais a patamares muito superiores aos das receitas assistenciais. “Esse quadro, inevitavelmente, impacta as mensalidades pagas pelos beneficiários”, diz a executiva.

Segundo ela, a necessidade impõe à cadeia de valor da saúde e à sociedade – beneficiários, operadoras, prestadores de serviços, órgãos reguladores e Governo – urgência em discutir de forma ampla temas cruciais para a sustentabilidade econômica e social do setor. Nesse contexto, é preciso ter claro o papel do segmento privado e seus contornos legais, dar a devida importância à segurança jurídica e regulatória, adequar custos, promover o uso consciente dos serviços médicos e a racionalidade na incorporação de novas tecnologias. Um aspecto desse debate diz respeito às Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME), itens que têm forte impacto nos custos médicos.

Transmissão de informações à população

Com o surgimento de novas doenças, educar o usuário do plano de saúde se faz necessário. “O setor deve levar informação para as pessoas, que precisam entender as doenças e seus sintomas. Na dúvida, elas pecam pelo excesso, atrapalham o tratamento de quem realmente está doente e provocam o aumento do custo assistencial”, explica Luciana.

Presidente do Grupo NotreDame, Irlau Machado Filho, declara que é preciso “acalmar” as pessoas para que, justamente no momento de desaceleração da economia e do aumento do desemprego, elas tenham a oportunidade de seguir as recomendações das operadoras de saúde. “Pedimos que a população participe anualmente da campanha de vacinação contra o H1N1 e aconselhamos que evite aglomerações. Não há motivo para pânico e esclarecimentos precisam ser feitos”, frisa ele.

Por sua vez, o coordenador de Auditoria Médica da Ameplan Assistência Médica Planejada, Clovis Ianni, acredita que as operadoras necessitam ser ágeis na criação de uma estrutura de atendimento ao paciente compatível com o momento, do atendimento ambulatorial ao hospitalar, para atender a demanda exigida pelas novas doenças. “As operadoras precisam investir fundamentalmente em uma ação estruturada e inovadora de medicina preventiva, eficaz e com foco no paciente. Protocolos de atendimento são ferramentas de extrema importância para evitar custos desnecessários, proporcionando um atendimento com qualidade, sem prejuízos ao paciente”, pontua Ianni, que também defende o investimento em educação continuada dos profissionais da área e a implantação de protocolos de prevenção, “peças-chave não apenas no atual contexto, mas no futuro do setor”.

Além da transmissão correta de informações à população para o bom uso dos recursos médicos, é preciso educar sobre a prevenção das doenças epidêmicas. Em relação ao zika vírus, à dengue e ao chikungunya, transmitidas pelo Aedes aegypti, o Ministério da Saúde aponta que 85% dos focos do mosquito são encontrados em residências. Para difundir as informações, a FenaSaúde está elaborando uma cartilha que deve esclarecer como identificar e eliminar esses focos e, em paralelo, estimular gestantes a não deixar de fazer o pré-natal e seguir as recomendações médicas atuais.

Operadoras cobrirão teste para o zika vírus

Único teste disponível para diagnóstico do zika vírus, o RT-PCR não é, até o momento, coberto pelas operadoras de saúde. Para ter acesso ao exame, os beneficiários ainda precisam desembolsar em torno de R$ 1,6 mil ou recorrer aos laboratórios que fazem a análise na rede pública de saúde. Em fevereiro deste ano, a Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – enviou um ofício para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) pedindo a ampliação desse tipo de cobertura.

“Frente a esta nova e alarmante realidade, a Proteste defende que, ainda que não previsto no Rol de Procedimentos, o exame RT-PCR, assim como os exames rápidos que estão sendo desenvolvidos e serão disponibilizados comercialmente na rede privada de saúde, tenham cobertura obrigatória pelas operadoras de planos de saúde, para garantir os melhores e mais eficazes diagnósticos e tratamentos da doença”, afirmou a entidade, na ocasião, alegando que “em situações excepcionais, de risco iminente aos consumidores brasileiros” entendia que “não se pode aguardar uma nova atualização do Rol de Procedimentos, daqui a dois anos”.

Dois meses depois, o órgão regulador finalizou uma proposta para a incorporação de exames de detecção do vírus ao Rol de Procedimentos. Elaborado junto com representantes do setor, com órgãos de defesa do consumidor e com a Associação Médica Brasileira (AMB), o texto será avaliado pela Diretoria Colegiada da ANS e, assim que for aprovado, a Agência dará um prazo para que operadoras organizem a rede de atendimento e de laboratórios para oferecerem os exames.

“Este processo está sendo realizado com o apoio de um grupo técnico criado especificamente com essa finalidade, coordenado pela Gerência–Geral de Regulação Assistencial da Diretoria de Normas e Habilitação de Produtos (Dipro), e que conta com a participação dos principais atores da saúde suplementar. A proposta elaborada pelo grupo encontra-se alinhada às diretrizes do Ministério da Saúde, da OMS, da AMB e do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) norte-americano”, divulgou a ANS, em nota.

Luciana Lauretti, da Azimutemed, acredita que o modelo de incorporação de novos exames e procedimentos no Rol não acompanha a velocidade das doenças, novas tecnologias em saúde e novos serviços colocados no mercado. Já Clovis Ianni, da Ameplan, confirma que há uma forte pressão da sociedade para a inclusão do RT-PCR, mas lembra que o exame é um procedimento de alto custo e teria que ser liberado em alta escala pelas operadoras.

“Existem estudos em andamento para que alternativas sejam encontradas para a absorção deste custo”, pontua, acrescentando que a última atualização do Rol foi feita em janeiro deste ano. “Haja vista que esta atualização é bienal, ainda temos um longo caminho a percorrer”, diz Ianni.

Na mesma linha, Irlau Machado Filho, do Grupo NotreDame, defende que se tenha um protocolo adequado para que o exame detector do zika seja feito para quem de fato necessita, como as gestantes de risco. Segundo ele, disponibilizar o RT-PCR para todos os beneficiários pode onerar o sistema sem necessariamente um resultado efetivo. “Teremos momentos muito delicados, com custos elevados, e precisaremos entender o que buscamos e fazer com que as pessoas tenham, de fato, o que necessitam”.

Órteses e próteses vs. custos médicos

Em 2015, as Órteses, Próteses e Materiais Especiais foram objeto de Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada para investigar a chamada Máfia das Próteses. Em janeiro do mesmo ano, a Portaria Interministerial nº 38 (Ministérios da Saúde, Justiça e Fazenda) criou o Grupo Técnico Interministerial (GTI) com o objetivo de propor medidas para a reestruturação e ampliação da transparência do processo de produção, importação, aquisição, distribuição, utilização, tributação, avaliação e incorporação tecnológica, regulação de preços, e aprimoramento da regulação clínica e de acesso dos dispositivos médicos em território nacional.

“A OPME têm forte peso nas despesas assistenciais dos planos. Para se ter uma ideia da disparidade dos custos médicos, um gerador do marca-passo cardioversor desfibrilador implantável (CDI) pode variar de R$ 29 mil a R$ 90 mil, dependendo da região. Uma prótese de joelho sai de fábrica por R$ 2.096 e, após o implante no paciente, sem contar gastos com internação e atendimento médico, chega a custar ao plano de saúde R$ 18.362”, declara Solange Beatriz, da FenaSaúde. Um levantamento da própria Federação aponta que um marca-passo pode custar R$ 20.523,06 no Brasil, e R$ 3.518,98 na Alemanha, para produtos com a mesma especificação.

Irlau Machado Filho lembra que apesar do esforço de coibir as fraudes de órteses e próteses, o problema ainda não foi solucionado e destaca a importância de se combater a prática para que o setor possa oferecer planos mais justos.

 

produto | habitacional

Seguro em casa: comprar ou alugar?

O mercado imobiliário conta com modalidades de seguro para garantir segurança ao comprar ou alugar um imóvel

Amanda Cruz

No universo dos seguros, alguns produtos são protagonistas, outros, entretanto, carecem de explicações e, mesmo sendo essenciais, às vezes não são conhecidos ou detalhados para os segurados. É o caso do Seguro Habitacional. Muito confundido com o produto residencial e até mesmo com o Seguro de Condomínio, ele é uma contratação obrigatória para dar garantia às operações de financiamento para aquisição e construção de imóvel residencial.

Trocando em miúdos, esse seguro é o que garante que as parcelas de um imóvel sejam quitadas em casos de morte ou invalidez permanente, além de cobrir danos físicos causados ao imóvel durante a vigência da apólice: que começa na data de assinatura do financiamento e chega ao fim quando a dívida é extinta ou quando o financiamento termina, o que ocorrer primeiro.

Outro fato sobre o produto é que ele pode ter mais de um segurado, pois pode ser necessário para a composição de renda. Sendo assim, caso ocorra um sinistro causando morte ou invalidez permanente, a indenização será proporcional.

“É comum entre os clientes que compram ou alugam imóveis, haver confusão entre os termos seguro habitacional e seguro residencial”, aponta Nathaly Leão, coordenadora do setor de locação da Imobiliária Nova Aliança Imóveis. Ela explica que a principal diferença entre as duas modalidades é o que, exatamente, está coberto. Enquanto o primeiro, além de quitar eventuais parcelas em andamento, pode cobrir danos causados ao prédio, ele não indeniza outros tipos de acidente. “No residencial, o objeto recai sobre a proteção relacionada a acidentes das mais diversas espécies, causadores de danos a móveis e pertences dentro do imóvel, podendo variar de acordo com a cobertura contratada”, explica. Ou seja: caso o cliente tenha contratado apenas o seguro habitacional, ainda que com coberturas adicionais, o prédio físico estará protegido, mas seus pertences não.

“O residencial é mais amplo, completo. Ele, sim, pode cobrir tanto os danos do prédio quanto o seu conteúdo. As duas carteiras possuem notas técnicas diferentes. Hoje, tentamos discutir a criação de um seguro ampliado, para que nessas situações não seja preciso contratar os dois. O seguro habitacional foi criado para atender ao mercado financeiro”, acredita Lucio Camurça, superintendente de compliance da Lockton Brasil.

Contratação

O seguro habitacional é contratado diretamente com a agência financeira, não passando pelo corretor de seguros. Pela regra, esse agente deve apresentar, na hora do financiamento, duas opções ao segurado. Se a financeira tiver algum vínculo com uma seguradora a outra opção deverá ser de uma companhia diferente. “Para o cliente, não é possível recorrer ao mercado de varejo, a um corretor, para essa apólice, pois o mercado não dá a opção”, afirma Camurça. O executivo alega que ainda não há nenhuma seguradora que olhou para essa possibilidade de ter o corretor como canal de vendas da carteira. Alguns dos motivos apontados para isso é a diferenciação na cobrança, com comissionamento do profissional, que geraria um custo mais elevado, e as questões de inadimplência: “quando atrelado à financeira, existe a possibilidade de proteção da mesma contra calotes. Para a venda no varejo, a legislação precisará olhar para uma maneira de conseguir que essa proteção seja garantida”, afirma Camurça.

O mercado de venda de imóveis também está em retração, contabilizando uma queda de aproximadamente 40%, agravado pelo valor do seguro, já que ele compõe o preço final do imóvel e o mercado aumentou a restrição ao crédito imobiliário por conta das dificuldades econômicas.

Lançada pela Federação de Seguros Gerais (FenSeg) em 2016, a cartilha de seguro Habitacional é bastante esclarecedora para que os consumidores saibam a que têm direito. Ela é parte da série “Entenda o Seguro”, realizada pela CNseg e suas federações é distribuída por todo País e pode ser consultada online, no site da federação.

Locação: espaço para o corretor

Os corretores, além da comercialização do seguro residencial, têm outra alternativa de negócio, que apresenta crescimento: a Fiança Locatícia.

André Schubert, corretor de seguros, trabalha com o produto e percebe sua evolução e expansão no território brasileiro. “Há alguns anos, o produto era mais comercializado na capitais, onde estão os grandes negócios”, cita. Para exemplificar, Schubert conta que em 2008 realizou um trabalho de divulgação na serra gaúcha e na região metropolitana de Porto Alegre e 90% das imobiliárias não conhecia ou não confiava no produto, usando apenas o fiador como garantia. A mudança dessa mentalidade tem ocorrido aos poucos. “Temos um produto muito bom que, atualmente, é difundido em quase todas as praças. Porém, o mercado atualmente não está favorável, pelos motivos econômicos e políticos conhecidos por todos”, aponta o corretor.

O caminho das pedras para o corretor é encontrar, em suas cidades, imobiliárias que ainda não trabalhem com o seguro e poder oferecer a elas, de maneira consultiva, essa opção. “A partir disto, as imobiliárias, geralmente, efetivam uma parceria com uma corretora específica, que fica responsável por todo o atendimento, desde a análise da documentação, emissão de proposta e aviso e acompanhamento de sinistro. Se o inquilino já vai à imobiliária com intuito de contratação é preciso dar a orientação quanto à documentação necessária, emissão de proposta etc”, elucida Schubert.

O que ajuda a carteira é que, de acordo com a coordenadora de locação Nathaly, os índices de inadimplência não tiveram aumento significativo.

Esse produto envolve e facilita a transação para as três partes: o inquilino, que não precisa ir atrás de um fiador, porém precisa pagar um valor anual para garantir sua locação; a imobiliária, que conta com a análise de cadastro do contratante feita pela seguradora, facilitando e diminuindo seu tempo operacional; e o proprietário do imóvel, que pode contar com a renda de seus imóveis em caso de inadimplência, com uma indenização de até 30 meses de aluguel, danos ao imóvel, pintura e assistência jurídica gratuita.

Assim como no residencial, existem serviços de assistência: chaveiro, eletricista, encanador, consertos de eletrodomésticos, entre outros. Caso seja necessário acionar, fica por conta do inquilino as peças necessárias para o reparo. Há também a cobertura para desemprego do locatário que garante, além do aluguel, encargos como taxa condominial e IPTU.

Embora conte com vantagens, nem sempre quem pensa em alugar um imóvel recorre a esse seguro, pois o preço ainda é bastante elevado e os benefícios podem não ser utilizados para compensar um gasto alto fora do orçamento. “A maior dificuldade no mercado imobiliário da locação, hoje, é a escolha da garantia locatícia pelo locador. Isso porque ao mesmo tempo em que o proprietário quer se resguardar de melhor forma, sabe que se exigir garantias onerosas para o locatário, dificultará a locação, mantendo o imóvel parado e suportando todas as despesas de manutenção do mesmo”, aponta Nathaly. Prova disso, é o caso de Marcus Vinícius Branco, 32 anos, tradutor, que se mudou para Porto Alegre em 2015, mas, como não tinha conhecidos na cidade, só possuía fiadores disponíveis no Rio de Janeiro. “Quando avisei que meus fiadores eram de outro estado, eles me ofereceram o seguro como a única opção possível. Avaliei e achei o seguro extremamente caro, além de se tratar de um dinheiro sem retorno. Por fim, encontrei uma imobiliária que aceitou meu fiador do Rio de Janeiro e preferi ficar com essa opção”, conta.

O valor do seguro para pagamento anual é de, aproximadamente, duas vezes o valor do aluguel. Mesmo que algumas imobiliárias parcelem esse valor em até quatro vezes, o preço pode ser um impeditivo em muitos casos. Uma resposta para isso é que poucas seguradoras atuam nesse produto e alguns corretores não acham vantajoso investir em uma carteira com adesão tão baixa.

Há ainda uma terceira opção, ainda pouco conhecida: o título de capitalização de garantia de aluguel. “Nessa modalidade há menos burocracia, pois não existe análise de risco pela seguradora”, conta o corretor. Funciona da seguinte maneira: a imobiliária e o inquilino acertam um valor de garantia sobre o título, o inquilino faz o depósito via boleto bancário e no contrato são incluídas cláusulas que vinculam o valor. Em caso de inadimplência, as imobiliárias entram com o pedido de indenização. “Quando o imóvel é desocupado, não havendo nenhuma despesa da locação ou danos ao imóvel, dentro da data de aniversário do título, o inquilino tem direito a retirar o valor na sua integralidade”, explica Schubert.

Mas Lúcio Camurça, da Lockton, faz uma ressalva: “a capitalização só serve para quem já tem o dinheiro em caixa. Sai mais barato, certamente, mas precisa caber dentro do bolso do inquilino”, finaliza.

 

produto | D&O

Sinistralidade mostra demanda pela proteção

Comercializado há pouco mais de 10 anos no Brasil, o seguro para Executivos e Diretores passou a ser ainda mais necessário e solicitado após os executivos brasileiros perceberem como seus bens pessoais podem correr riscos

Kelly Lubiato

O crescimento desta carteira nos últimos anos é incontestável, bem como o aumento da demanda de cobertura por conta de novos acontecimentos políticos e econômicos. Desde a publicação do Novo Código Civil, em 2003, foram estabelecidas novas responsabilidades para os executivos que cometem erros, negligência ou dolo. “Em 2004, os prêmios diretos de D&O foram de R$ 76 milhões. Mas em 2015 esse total já tinha aumentado para R$ 266 milhões”, analisa Marcelo Varela, subscritor de D&O da operação de seguros da XL Catlin no Brasil.

Qualquer empresa pode contratar uma apólice de seguro deste tipo. Entretanto, além das multinacionais que possuem programas de seguros globais, empresas que enfrentam um ambiente regulatório mais rígido tendem a contratar com mais frequência (bancos, seguradoras, empresas de capital aberto etc). A lei anticorrupção acabou criando a demanda também entre empresas de pequeno e médio porte.

Dentre os fatores para o crescimento do setor, Varela cita os casos de corrupção de grande visibilidade que expuseram algumas falhas na governança corporativa e na transparência. “Esses processos mostraram que as agências reguladoras e os tribunais não estão relutantes em aplicar sanções severas, quando confrontados com a prevaricação corporativa”.

O executivo da XL acrescenta que a recente aprovação de uma nova lei de responsabilidade corporativa, também conhecida como Lei da Empresa Limpa, impôs algumas novas normas de contabilidade e também colocou diretores e executivos sob fiscalização judicial e regulamentações ainda mais rigorosas. “Além disso, de acordo com essa nova lei, as empresas podem ser multadas em até 20% de sua receita se um funcionário for considerado culpado de corrupção”.

Não é nenhuma surpresa que estas mudanças também tenham causado um aumento significativo nas reivindicações de D&O. De acordo com a SUSEP, em 2015 as indenizações de D&O atingiram R$ 102 milhões, um aumento de mais de 400% em comparação com 2013. É importante notar que, embora o aumento dos processos de sinistros tenha sido fortemente sentido pelas entidades envolvidas em escândalos de corrupção, bem como as empresas listadas, as pequenas e médias empresas não sofreram grandes consequências e as taxas desses setores permanecem inalteradas. Além disso, novos atores ainda estão entrando no mercado, trazendo mais concorrência.

O fato é que tanto as empresas estão mais preocupadas quanto as seguradoras estão mais cautelosas. “Por enquanto, a maioria dos sinistros reclamados referem-se a pagamento de defesa. As grandes multas e penalidades ainda estão por vir, porque os sinistros ainda estão se desenrolando”, prevê o advogado João Marcelo dos Santos, da Santos & Bevilaqua.

A crise econômica que afeta diretamente alguns setores, causando perdas financeiras significativas, aumentando o escrutínio de investidores, assim como os recentes casos de corrupção, estão no centro deste aumento de sinistralidade, conforme explica Celso Soares Junior, da Zurich. “As ações de classe nos EUA atingem diversas empresas brasileiras, de setores distintos, o que por si só causa preocupação no setor. Em razão disso, o processo de subscrição se tornou mais rígido: coberturas amplas concedidas anteriormente passam a ter limitações e há ainda um impacto direto em preço”, completa.

As companhias que atuam neste setor também estudam rever exclusões e cláusulas dos próximos contratos.

Situação atual

Uma cotação de seguro novo ou de renovação para empresas com perfil de risco mais claro é mais difícil, porque o mercado segurador tem analisado mais aspectos. “A subscrição passou a ser mais detalhada. O soft market, de condições abertas e redução de preços, não faz parte da realidade atual. Antes de assumir o risco, as seguradoras analisam o histórico da empresa e seu setor e, de modo geral, têm observado mais os programas anticorrupção e antifraude (compliance), adequando a precificação”, destaca Soares, da Zurich.

O executivo conta que também se tornaram mais comuns as cláusulas excludentes na apólice. As perguntas sobre programas de compliance se tornaram uma constante nas cotações de D&O. “O objetivo é entender se há estrutura de fiscalização e controles, principalmente no que se refere ao relacionamento com o governo e práticas anticoncorrenciais”, explica. Estas respostas impactam diretamente em aceitação/escopo de cobertura ofertado e preço. Os valores podem ser revistos conforme a empresa comprove sua real intenção de agir contra riscos. “Questões relativas à estruturação de programas de compliance, como o estabelecimento de canais de denúncia, investigações independentes, códigos de conduta e treinamentos aos colaboradores são analisadas no momento da subscrição”, acrescenta.

O advogado João Marcelo Santos acredita que as desavenças jurídicas em torno do seguro de D&O ainda trarão grande aprendizado para o setor. “As questões que envolvem os sinistros de D&O não podem ser consideradas do campo do direito penal nem do direito administrativo. Quem trabalha com seguros está mais familiarizado com conceitos de compliance e esta será uma nova área de atuação”. Para ele, na situação atual das regulações, quem está na frente é o Ministério Público, que possui posição privilegiada porque participam da criação dos precedentes.

Então o que o futuro reserva? “Todas as evidências sugerem que a demanda pelo seguro D&O no Brasil vai continuar a aumentar. No entanto, o movimento no Brasil, e na verdade em todo o mundo, por maior accountability sugere que as reivindicações também irão aumentar”, assinala Varela, da XL Catlin. Neste cenário, os clientes provavelmente solicitarão limites maiores, o que significa que as seguradoras terão de encontrar capacidade adicional, bem como subscrever os riscos de D&O com mais cuidado.

Para as seguradoras que oferecem cobertura para D&O no Brasil, os próximos anos devem ser um desafio. “No entanto, com maior clareza da SUSEP e fortes práticas de subscrição, o mercado deverá estar preparado para oferecer a executivos e diretores alguma proteção para quando tomarem decisões informadas com base na crença sincera de que tais decisões são no melhor interesse da empresa”, conclui Varela.

 

Região Centro-Oeste/MG | desenvolvimento

As oportunidades do cerrado

A região Centro-Oeste e Minas Gerais apresenta, desempenho destacado no País, dentro do setor de seguros

Amanda Cruz

O crescimento da região Centro-Oeste e em Minas Gerais, como todas as outras regiões, sofreu impactos nos últimos meses causados pela conjuntura econômica atual no País. De acordo com informações do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, as vendas de automóveis e comerciais leves novos na região diminuíram 24,9% em 2015.

A desaceleração da atividade econômica na região Centro-Oeste refletiu, em especial, a reversão do desempenho da indústria de transformação, impactada pelo recuo na produção de automóveis, e a retração de vendas no comércio ampliado.

Mesmo assim, os dados da Susep revelam que a carteira de automóveis da região Centro-Oeste cresceu 1,82%, um valor relativamente baixo, mas que não tira a força da carteira nos estados. Joaquim Mendanha de Ataídes, presidente do Sincor-GO, reforça que a carteira de automóvel ainda é o carro-chefe, mas destaca que há espaço para novas apostas no cerrado, como a maior conscientização sobre o seguro residencial, por exemplo. “Entendo que os seguros patrimoniais possuem uma participação expressiva na carteira profissional do corretor de seguros”, sinaliza.

“A carteira de automóvel individual é sempre um desafio pela sua volatilidade. Desde 2013 dedicamos muito tempo e esforço para torná-la rentável. Nos últimos dois anos, mudamos nossa forma de atuação e trabalhamos nesse que, hoje, é nosso maior desafio”, aponta Alexandre Brum, gerente da filial de Minas Gerais da Mitsui Sumitomo.

O setor agrícola da região permanece otimista, mas a desvalorização do real e a projeção de aumento da produção de soja pode causar um estoque não esperado dos grãos, que precisam ser armazenados de forma segura para poderem ser escoados conforme a demanda do mercado for melhorar. Ou seja, a dinâmica da região precisará aguardar a possibilidade melhora econômica para ver seus grãos e outros produtos agrícolas, que são abundantes, revalorizados.

A safra de grãos do Centro-Oeste totalizou 89,9 milhões de toneladas em 2015, de acordo com o Levantamento Sistemático de Produção Agrícula (LSPA) de dezembro, do IBGE. O aumento anual de 8,3% refletiu crescimento das safras de milho, segunda maior em termos de valor da produção (14,6%), soja (4,3%), arroz (2,5%) e feijão (1,2%). Em relação às demais culturas, destaca-se a expansão de 6% na produção de cana-de-açúcar e o recuo de 18,3% na de tomate. Esses dados mostram a importância da cultura rural nessa localidade.

Porém, há que se fazer a distinção entre os pontos fortes da região. Existem os seguros que envolvem o agronegócio – que cuidam de plantações, máquinas agrícolas, animais etc – e que remetem constantemente à região, mas que têm uma baixa adesão. Ainda que seja a atividade com maior movimentação do PIB, os dados consolidados em 2015 pelo Ministério da Agricultura mostram que, dentro do seguro agrícola no País, o Estado que tem a maior área segurada na região é o Mato Grosso do Sul (9%), seguido por Goiás (4%).

“A região Minas/Centro-oeste possui vasta diversidade cultural e econômica, além de suas particularidades. As seguradoras com perfil corporativo geralmente concentram suas estruturas em Belo Horizonte, Goiânia ou Brasília. Assim, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul têm dificuldade maior de acesso e aproximação em relação às seguradoras que atuam em nichos diferenciados”, comenta Felipe Cavalcante, superintendente comercial da Berkley. Esse fato traz o desafio que se transforma em estratégia: alcançar mais corretores. Em Minas Gerais, comenta, “nossa expectativa é interiorizar, estar mais próximos dos corretores do Triângulo Mineiro, Sul e Norte de Minas, Zona da Mata e Centro-Oeste Mineiro”. Este mercado possui grande potencial nos produtos comercializados pela seguradora, neste sentido, investiremos em treinamentos e visitas nestas regiões.

Na visão da Tokio Marine, os produtos massificados, de forma geral, tendem a ser mais estáveis. “O automóvel é o principal alvo, apesar da elevada competitividade. Minas Gerais tem expressiva parcela de contribuição nessa carteira dentro da seguradora”, afirma Andreia Padovani, superintendente Comercial Varejo da companhia em Minas Gerais. O estado, que é o que possui o maior número de municípios, precisa atender a todos igualmente. Uma das maneiras que a Tokio encontrou de responder a isso foi com a realização de treinamentos periódicos via web, para que os corretores tenham acesso a informações sem precisar se deslocar. “Utilizamos a tecnologia a nosso favor”, afirma.

Muitas filiais estão sendo abertas. As seguradoras consultadas, cada uma dentro de sua expertise, têm sucursais disponíveis nessas regiões tanto para atingir consumidores quanto para estreitar os laços com corretores. Assim, interiorizar as operações também faz parte da estratégia.

Mas nem todas as questões se resumem ao contato entre os players. Mendanha afirma que essa relação é um obstáculo atualmente, não só pelo contato, mas também por dificuldades técnicas, levantando o ponto de que a seguradora está presente nem sempre significa ampla atuação. “Nossa maior dificuldade é no quesito aceitação de riscos por parte das companhias seguradoras, que alegam que seus contratos de resseguros limitam a aceitação de alguns riscos presentes em nossa região. Principalmente na indústria”, destaca. Fábricas de plástico, tecido, entre outras áreas, também são uma marca desses estados. O presidente do Sincor-GO completa que “isso limita, muito, o trabalho dos corretores de seguros, que enfrentam dificuldades para oferecer esses produtos a seus clientes”, afirma.

Esses dados mostram dois pontos cruciais para a região Centro-Oeste e também para o estado de Minas Gerais: há espaço para crescer e tornar a consciência do seguro presente nessas atividades que são tão importantes para esses Estados, mas é o seguro do dia-a-dia que tem sido importante e o verdadeiro responsável por manter a região com 7,3% do mercado e continuar sua expansão.

Na soma dos quatro estados, a área mais expressiva é a de Seguros Patrimoniais. Esse ramo teve o maior salto: 40,86% de crescimento, segundo a Susep. O que, para Mendanha, é natural, já que ao voltar o olhar para novas oportunidades no Centro-Oeste, essa é a opção que salta, seguida pelo ramo de Vida, que apresentou crescimento de 22,67%. “A diversificação das nossas carteiras é uma realidade de crescimento. E, nessa trajetória, temos alcançado ótimos resultados”, comemora.

A área de transportes é outra aposta, já que a grande produção agrícola precisa de escoamento para portos de outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Junto com ela, vem a preocupação para o Seguro Ambiental, ainda incipiente em todo o País. Aliado ao transporte, risos específicos precisam ser evitados, como descarte e queda de materiais e resíduos que podem pedir coberturas para limpeza e danos corporais.

As carteiras já disponíveis precisam ser trabalhadas, por isso, Julio Murta, gerente regional Minas Gerais e Centro-Oeste da AIG, acredita em novos produtos, que deverão ser levados com mais força à região em sua gestão. Riscos cibernéticos e os de responsabilidade de gestão estão na mira da seguradora para essa localidade. “Principalmente o responsabilidade civil, já que a atuação de profissionais liberais tem crescido muito em nossa região, obrigando todos a uma busca de proteção e segurança para seu trabalho. Além desses, estou convicto de que o seguro saúde terá uma participação expressiva na carteira dos corretores de seguros nos próximos anos”, aposta o executivo.

Desenvolvimento

A atual crise brasileira tem impactado o mercado de seguros, assim como qualquer outro. Mas essa é uma das regiões que têm crescido acima da média nacional. O Centro-Oeste registra o crescimento mais acentuado nas áreas de saúde, no qual todos os estados tiveram desempenho positivo, conforme dados da FenaSaúde.

O reflexo se dá não somente no setor de seguros, mas em vários outros setores da economia. É um efeito dominó, conforme aponta Murta. “Por exemplo, uma empresa ao realizar demissões, diminuindo seu quadro de funcionários, impactará diretamente no seguro de vida, gerando prêmios menores, ou no caso de seguros de transportes quando as empresas produzem menos, haverá menor circulação de mercadorias”, afirma. Desta forma o setor de seguros é impactado diretamente em diversas carteiras, mas, para Murta, o atual momento também gera oportunidades em outros negócios, como é o caso do seguro de crédito, que protege as empresas em relação aos seus recebíveis. A situação só não pode ser muito estendida, embora as seguradoras no País sejam bastante saudáveis quanto à sua solvência, muitos sinistros de crédito podem ser significativos, especialmente vindo de grandes empresas.

Mesmo com cenário complicado, a região Minas/Centro-Oeste tem apresentado um importante crescimento, com 14% em 2015 e aproximadamente 9% no primeiro trimestre de 2016, em relação ao mesmo período anterior. “Em momentos de adversidade que surgem as grandes oportunidades, as empresas começam a pensar “fora da caixa”, existe um esforço/criatividade maior dos profissionais, realinhamento das estratégias”, lembra o executivo da Berkley.

Um novo olhar

Existe uma área, ainda pouco explorada, que desperta olhares dos seguradores: o turismo. Pantanal, entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chapadas dos Guimarães e dos Veadeiros, em Goiás e até mesmo Brasília, a cidade arquitetada por Oscar Niemeyer e patrimônio da humanidade, atraem viajantes. “O turismo, além de movimentar diversos setores da economia, já é uma realidade para a área de seguros na região”, acredita Murta, da AIG.

Além de serem contratantes dos produtos tradicionais, também contam com produtos específicos para o setor, como exemplo o seguro viagem, que protege os seus clientes de eventos inesperados e doenças, além do seguro de responsabilidade civil profissional direcionado a agências de viagens que protege a empresa e os seus profissionais contra reclamações apresentadas por perdas financeiras resultantes dos serviços prestados aos clientes. Hoteis, bares e restaurantes também são clientes assíduos desse tipo de contratação. “Geralmente é comum hotéis, bares e restaurantes contratarem o RC apenas como cobertura adicional na apólice de incêndio. Esta prática coloca em exposição estes estabelecimentos, pois a cobertura de RC como adicional não é tão ampla, como as que cobrem causas de intoxicação alimentar. Além disso, o turismo também aquece os eventos na região, trazendo oportunidade para o seguro de eventos”, indica Cavalcante, da Berkley.

A região menos suscetível a riscos climáticos do País, que tem desenvolvido seu potencial e tem grande espaço para a penetração de seguros, parece ser a nova aposta entre as companhias. Minas Gerais, que geograficamente faz parte da região sudeste, mas, pelas suas características é colocada junto ao Centro Oeste dentro do mercado de seguros, ainda desponta quando se fala de amadurecimento do mercado. Para Julio Murta, não existe apenas um estado que deva ser apontado como o mais promissor. “Nós teríamos as melhores oportunidades no estado de Minas Gerais, porém queremos ser abrangentes. Um bom exemplo é o seguro de casco para aviação agrícola. Desta forma não existe uma região onde se encontram melhores oportunidades ou dificuldades, mas sim o entendimento de quais produtos devem atender às necessidades da região”, conclui.

 

evento | corretores

O caminho do corretor do século XXI

Kelly Lubiato

Cerca de 300 corretores de 20 países da América Latina, Canadá, Portugal e Espanha se reuniram no Rio de Janeiro para o XXVI Congresso da Copaprose – Confederação Panamericana de Corretores de Seguros, cujo tema foi o caminho do seguro na América Latina.

A abertura do evento contou com a participação do secretário do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, que afirmou que vários países da América Latina enfrentam problemas semelhantes ao Brasil. “O mundo passa por desafios nas áreas política, econômica e de relações internacionais. Superar estes desafios exigirá muito esforço”, divagou, ressaltando que o FMI (Fundo Monetário Internacional) apresenta um cenário para o mundo nos próximos anos de recuperação lenta e gradual. “Para a América Latina, esta recuperação terá velocidade abaixo da média mundial, pois todos os países tiveram piora no resultado das transações correntes e aumento da dívida pública”.

Oliveira anunciou que o Brasil deve terminar o ano de 2016 dentro da banda de inflação prevista para o ano, em torno de 7,5%, o que permitirá a retomada do crescimento econômico a partir do de 2017. Especificamente sobre o mercado de seguros, o secretário afirmou que ainda há muito espaço para o crescimento do setor, mesmo com queda do nível de renda da população. Para ele, o foco das empresas deve ser no desenvolvimento de produtos adequados para este público de renda mais baixa. Mas o grande salto deve vir dos seguros ligados a projetos de infraestrutura.

Ele ainda destacou a atuação do mercado para a regulamentação do seguro auto popular, que já está aprovado, e do Universal Life, uma bandeira requisitada pelo mercado há algum tempo.

Segundo o presidente da Copaprose, Armando Vergilio dos Santos, o desafio do setor é conseguir uma atuação sinérgica para vencer este período de turbulências que assolam o mundo e a América Latina. “Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação”, disse Vergilio citando Tiradentes.

Em um cenário econômico desfavorável, a Fenacor avaliou o índice de confiança das seguradoras, que está em queda desde 2012, quando saiu de 120 para 70 pontos, em março de 2016.

Autorregulação

O maior problema da autorregulação de seguros no Brasil é encontrar uma forma de fiscalizar todos os corretores de seguros e não apenas os membros que aderirem voluntariamente ao Instituto Brasileiro de Regulação dos Corretores de Seguros – Ibracor.

Durante o Congresso, o consultor Francisco Galiza apresentou um trabalho que mostrou alguns modelos de autorregulação, como o do sistema bancário e do mercado publicitário. Estes são sistemas de autorregulação voluntária.

A IAIS – Associação das Supervisoras de Seguros Internacionais – define um texto de orientação ao mercado de seguros de todo o mundo, o Insurance Core Principles Standards, Guidance and Assessment Methodology. “Neste trabalho, especialmente o capítulo 18, reza sobre a atuação dos distribuidores, mas não oferece aos reguladores um cheque em branco para atuação”, ressaltou Galiza.

No Brasil há 80 mil corretores e, em 2015, foram feitas 10 fiscalizações no local, 10 multas não contestadas e 60 processos foram julgados pela Diretoria Colegiada da Susep. Em 2012, o FMI fez a análise da fiscalização da Susep no Brasil, e recomendou que a supervisão aos corretores fosse obrigatória.

“É uma postura louvável da Susep estimular a autorregulação. O modelo de autorregulação voluntária leva a uma questão: Saber se essa é, de fato, a melhor escolha gera boa discussão, abarcando vários campos de conhecimento, sobretudo jurídicos, econômicos e administrativos”, informou o consultor.

Mesmo reconhecendo a lógica jurídica para a escolha atual, há dois problemas econômicos advindos desta opção. Primeiro, a grande quantidade de corretores. Segundo é o risco de ocorrer um problema econômico denominado de seleção adversa. Só participa da autorreguladora aqueles que atuam com as melhores práticas.

Jorge Vignolo, corretor argentino do Comitê Executivo da Copaprose, disse que este é um tema nebuloso, que em toda a região será motivo para análise e discussão em outros congressos. “É muito importante destacar que em outras categorias já existem estas entidades e em outros locais do mundo. Isso está intimamente ligado ao desenvolvimento do setor. A preocupação é justamente quanto à adesão voluntária, e este tema deverá ser discutido para ser mais efetivo e para que abarque o maior número de profissionais possível”.

Alexandre Camillo, presidente do Sincor-SP, disse que não há um país desenvolvido sem um mercado de seguros forte. Cabe ao órgão de supervisão promover a integração dos elos da cadeia para criar um ambiente seguro, motivado a se capacitar e estar apto para distribuir o produto de seguro.

Analisando os Princípios Básicos de Seguros estabelecidos pela IAIS, com o objetivo de proporcionar a visão dos desafios e as oportunidades que podem ser desenvolvidas.

O papel do intermediário é, entre outras coisas, a difusão da cultura do seguro nos países da América Latina, para criar a consciência da necessidade de proteção. “A recomendação da Copaprose é exercer efetivo controle e sanção por não cumprimento das condições contratuais, incluindo as más práticas como, por exemplo, a publicidade enganosa, abusos, coerção, sobrepreços, fraudes e lavagem de dinheiro”.

“O mercado de seguros cresce, mas não evolui, dizia Marco Antonio Rossi”, citou Camillo. “O que precisamos, de fato, é promover o contínuo crescimento, mas que este venha acompanhado de evolução, que passa por condutas e atitudes. A autorregulação da forma que está não é suficiente, porque não fiscaliza todos os corretores. O tempo hoje é implacável. Gostaria de fazer um apelo para que possamos conduzir a autorreguladora de forma eficaz. Dizem que a melhor forma de se prever o futuro é efetivamente construí-lo. Sei que temos competência suficiente para fazer isso. Precisamos é ter atitude nesta direção”, complementou.

A lei complementar 137 criou o Instituto Brasileiro de Regulação dos Corretores de Seguros e incumbiu à entidade o dever de fiscalizar seus pares. Fiscalizar preventivamente, processar, julgar e aplicar sanções aos membros associados pelo descumprimento das normas de conduta voluntariamente estabelecidas. Pode também editar estas normas e celebrar e manter convênios com o órgão regulador.

O presidente da entidade, Paulo dos Santos, informou que para se associar ao Ibracor, o corretor precisa aderir ao Código de Ética e recebe um selo de qualidade no mercado, demonstrando o comprometimento do associado com a transparência dos seus atos.

“O grande desafio é atuar preventivamente em relação às normas legais e regulamentares, e combater com rigor as más práticas profissionais, no papel de auxiliar da Susep”, disse Santos. Um serviço que pode ser prestado à Susep são propostas de revisão de normas legais e regulamentares.

Novo presidente eleito

A Assembleia Geral da Copaprose ratificou, nesta quarta-feira, a composição do novo Comitê Executivo da confederação que agrupa as principais associações de mediadores de seguros da América, Espanha e Portugal.

A presidência será ocupada por Francisco Machado, que é presidente dos mediadores de seguros da Venezuela. Armando Vergílio dos Santos, presidente da Fenacor, ocupará outra vice-presidência.

 

evento | consumidor

O seguro e a realidade do cliente

Mercado procura resolver seus obstáculos estreitando a relação com o consumidor final

Amanda Cruz

A CNseg, juntamente com a Escola Nacional de Seguros e o Instituto Nacional de Educação do Consumidor e do Cidadão (Inec), instituição sem fins lucrativos para educação do consumidor, realizou a quarta edição do seminário que debate como aproximar mercado de seguros e consumidores.

Durante o painel de abertura, José Luiz da Silva, presidente do Inec, afirmou que “as seguradoras terão um papel fundamental para reerguer o País”.

Mario Couto Soares Pinto afirmou ainda que a Escola Nacional de seguros trabalha para aproximar a cadeia de seguros da realidade do consumidor. “Não há saída fora da educação. O que faz de nós revolucionários é a educação e a capacidade de reflexão daquilo que se quer e se precisa”, comentou.

Entre os assuntos abordados estavam questões como a judicialização da saúde e o impacto na relação entre consumidor e fornecedor do mercado de saúde suplementar. Há diversos problemas por trás dos motivos que levam um beneficiário à justiça para obter coberturas de seus planos de saúde. Solange Beatriz Mendes, presidente da FenaSaúde, acredita que o mais importante é que a sociedade perceba que “o sistema privado convive com o sistema público. Aqueles que querem e conseguem compram algo além e é preciso que os pactos sejam respeitados”, disse.

Para monitorar e agilizar as respostas aos conflitos entre empresas e clientes, existe uma plataforma de informação, idealizada pelos Procons e pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça: consumidor.gov. Na visão de Claudia Francisca Silvano, “empresas que não aderem pararam na história. O consumidor de hoje precisa de uma resposta rápida e dada por aquele que criou o problema”.

Para trazer à tona essa iniciativa, a CNseg está elaborando o boletim consumidor.gov, que esclarecerá a solução para o mercado de seguros. 70% das empresas do setor já estão cadastradas, contou Gabriela Ourivio Assmar, membro da comissão de Ouvidoria e Relações de Consumo da entidade.

Investir no meio digital será uma maneira de fazer com que as respostas das empresas sejam tão escutadas quanto as reclamações, equilibrando a relação e os processos, ajudando o mercado a amadurecer.

Outros assuntos ainda foram debatidos, como a capitalização como forma de educação financeira e os benefícios das novas regras do seguro viagem.

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