Ultima atualização 26 de março

Edição 203

direto de londres | por Luciano Máximo*

Cresce investimentos das seguradoras europeias

Na coluna Direto de Londres da edição 199, eu abordei os bastidores da visita do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao Lloyd’s of London. A pedido do Ministério, foi organizada uma estratégica reunião de negócios entre Levy e altos executivos das maiores seguradoras e resseguradoras europeias. De olho no portfólio de investimentos trilionários dessas empresas, o ministro tentou convencê-las a investir no Brasil, sobretudo em projetos de infraestrutura. Num momento em que o país se encontra num caminho encalacrado para retomar o crescimento econômico apostando na austeridade fiscal, Levy sabe que qualquer rota que leve a novas fontes de recursos para estimular a atividade da economia pode ser a entrada num percurso em que a luz do fim do túnel não pareça lá muito distante.

O ministro da Fazenda pode não acertar todas, mas uma coisa ele sabe muito bem: onde o dinheiro está. Na Europa em 2014, mesmo com economia em ritmo lento, queda dos preços das commodities e um mercado financeiro nada exuberante, com bolsas de valores e títulos da dívida pública de governos dando retorno negativo, as seguradoras conseguiram expandir em quase 10% seu portfólio de investimentos na comparação com 2013. De acordo com números divulgados neste mês pela Insurance Europe, a federação das seguradoras europeias, o volume de capital acumulado pelas 4.860 empresas de seguros do Velho Continente a partir dos prêmios pagos por seus clientes, além de patrimônio e reservas, fechou o ano passado em 9,9 trilhões de euros. Esse valor representa 63% do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países-membros da União Europeia. As seguradoras do Reino Unido, da Alemanha e da França respondem por 60% do total de todos os investimentos do setor.

Mais de 80% dos quase 10 trilhões de euros investidos por todas as seguradoras são provenientes dos investimentos de seguradoras do ramo vida e previdência privada. Os 20% restantes compõem o portfólio das empresas do segmento não-vida. Apesar do baixo retorno oferecido pelos títulos soberanos europeus nos últimos anos por causa da crise da zona do euro, as seguradoras preferem a estabilidade e o olhar de longo prazo, apostando 52,4% do total investido em bonds de governos. Em segundo lugar, aparecem os fundos de investimentos e de private equity e as participações em empresas que, somados, recebem 27,3% do capital das seguradoras. É nessa categoria que o ministro Levy está interessado, por isso vendeu com entusiasmo os projetos de concessão em infraestrutura do governo federal aos executivos do setor na reunião do Lloyds em maio passado. Em Londres, os operadores das montanhas de dinheiro das seguradoras esperam o lançamento dos futuros editais de concessão de portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e do setor elétrico. Mas não há nada garantido. Eles são céticos sobre as promessas de Levy e pressionam por margens de retorno mais elevadas do que as que o governo estuda propor.

Além dessas duas categorias de investimento, as seguradoras investem os cerca de 20% restantes de seu capital financeiro em várias outras aplicações, como empréstimos e depósitos bancários, financiamentos imobiliários, propriedades e derivativos. Depois do furacão da crise internacional de 2008, que afetou profundamente as seguradoras – quase quebrando a AIG –, a exposição aos derivativos é mínima, de apenas 0,2% dos 9,9 trilhões de euros investidos pelas seguradoras europeias.

Para o especialista do setor e pro¬fessor de finanças Mark Wendon, as estatísticas recentes que compilam o desempenho dos investimentos das seguradoras da Europa mostram que o aspecto financeiro é “levado muito a sério” pelas empresas. “Elas formam e contratam ótimos gestores de recursos, têm os grandes cérebros do mundo das finanças, o que é positivo, pois estão protegendo o cliente que comprou uma apólice, pois um prêmio de uma apólice bem investido significa resiliência na hora de honrar os sinistros, e os sinistros vêm. Mas há uma crescente insatisfação desses mesmos clientes sobre o serviço fim prestado pelas seguradoras, como atendimento, eficiência dos produtos e agilidade na cobertura de sinistros. Elas precisam estar atentas a isso também, não só ao sobe-e-desce do mercado financeiro”, adverte Wendon.

Sobre o desejo do ministro Joaquim Levy de atrair os trilhões das seguradoras europeias para projetos no Brasil, o especialista é cético. “Uma seguradora com um portfólio de 500 bilhões de euros não vai investir em algo sem retorno certo e regras claras. Para um projeto governamental receber funding de uma seguradora é preciso que seja muito bem estruturado e satisfaça as regras de Solvência 2, além das exigências de investimento da própria empresa, como grau de investimento e garantia de retorno num determinado prazo. Se outra agência de rating rebaixar a nota do governo brasileiro, por exemplo, as ambições do ministro da Fazenda de ter seguradoras como parceiras vão por terra.”

A diretora-geral da Insurance Europe, Michaela Koller, preferiu não comentar as intenções do governo brasileiro, mas criticou as exigências das regras de Solvência 2, que ainda estão em fase de implementação pelas seguradoras e bancos e tendem a reduzir a taxa de retorno das empresas. “A Solvência 2 é uma preocupação, pois exagera na exigência de reservas para os riscos que os investimentos das seguradoras precisam cobrir. Essa exigência tornará desnecessariamente caro para as seguradoras continuar fazendo seus investimentos financeiros, limitando sua capacidade para continuar entregando uma contribuição tão significativa para a sociedade [compensação de riscos]”, explica Michaela.

A executiva acrescentou que embora seja encorajador que os investimentos financeiros das seguradoras estejam crescendo desde 2011, os reguladores europeus precisam garantir que os níveis de capital regulatório sejam proporcionais ao risco real que os investimentos das seguradoras representam. “Esperamos que essa questão seja abordada na comissão responsável pela formulação do Plano de Investimentos da União Europeia para permitir que a nossa indústria continue a desempenhar um papel cada vez mais importante na sustentação do crescimento na Europa”, complementou a diretora-geral da Insurance Europe, ressaltando que as empresas do setor segurador são as principais credoras dos governos europeus e um dos setores que mais empregam no continente, com mais de 1 milhão de empregos diretos gerados.

O desempenho financeiro das seguradoras europeias mostra que o momento do setor é positivo, apesar de uma economia que não deverá crescer de forma muito robusta. O gasto médio per capita com produtos de seguros no continente registrado em 2014 foi de 1.967 euros, superior aos 1.911 euros verificados em 2013 — esse valor é absurdamente alto se levarmos em conta os padrões brasileiros, mas os executivos europeus nunca se mostram satisfeitos, sempre dizem que há espaço para elevar esse ticket-médio. Já o ganho com prêmios no continente cresceu 3,5% no período, para 1,169 trilhão de euros. Os gastos com pagamentos de sinistros de todas as seguradoras da Europa somaram 943 bilhões de euros no ano passado. Sem considerar custos operacionais e outras despesas, o setor fechou no azul, com faturamento de mais de 150 bilhões de euros em 2014.

* Luciano Máximo, jornalista, é repórter licenciado do jornal Valor Econômico, cobriu o setor de seguros e resseguros na Gazeta Mercantil

 

produtos | objetos pessoais

Mercado versátil

Comportamento dos consumidores muda e faz empresas investirem em proteções diferenciadas. Dentro deste novo conceito, seguros para bens pessoais aparecem como um caminho em ascensão

Lívia Sousa

O seguro de automóvel ainda predomina no Brasil, mas o mercado sabe que há uma infinidade de nichos a serem explorados, entende a importância de se trabalhar com novas possibilidades e já começa a se mexer para isso. Entre as novidades, se destaca o seguro para bens pessoais, categoria que reúne desde objetos de luxo, como jóias, a aparelhos eletrônicos cada vez mais tecnológicos.

Como esses produtos se encontram espalhados nos diversos seguros de ramos elementares, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) não define um ramo especifico para cada um deles. Assim, até o momento não há dados oficiais sobre a evolução dos seguros para bens pessoais no País, mas considerando que a economia brasileira passou por uma boa fase entre 2004 e 2010, é possível que a receita destas proteções também tenha crescido. “Indicação disso é o crescimento médio anual da arrecadação dos seguros residenciais, que foi de 12% no período e, portanto, bem acima da inflação; e do seguro de automóvel, com 11% ao ano na mesma época”, diz o assessor da diretoria executiva da Escola Nacional de Seguros, Lauro Faria.

Aliados ao aumento da renda do brasileiro nos últimos anos, a alta da procura por seguros para bens pessoais está relacionada, segundo o executivo, a fatores mais permanentes e específicos ao mercado, como a maior divulgação e oferta de novos produtos e a maior conscientização por parte dos consumidores. A percepção da situação de risco, que nas grandes cidades é elevada principalmente quando se trata de roubos e furtos, também contribui para a elevação na demanda.

Celular desperta conscientização do seguro

Em linhas gerais, os seguros para bens pessoais ainda são poucos difundidos no Brasil e, por isso, a maioria das pessoas não tem o costume de proteger pequenos itens. No entanto, esta percepção apresentou grande mudança quando o assunto é celular e smartphone, mesmo que os aparelhos tenham vida útil delimitada. Talvez seja por isso que, dos seguros para bens pessoais, o mais conhecido e procurado é a proteção para esses aparelhos.

“Houve uma mudança do significado do celular para o dia a dia das pessoas. Ele se transformou em uma ferramenta de trabalho, acesso à internet, pagamento de contas e contato com o mundo”, lembra Heloisa Minetto, gerente de marketing da Conecta Serviços.

A ferramenta é indispensável e, por conta disso, o maior receio do proprietário é ter o aparelho roubado, ação frequente no País. Segundo a Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABR Telecom), o Brasil já soma mais de cinco milhões de celulares bloqueados por roubo ou perda. O número, 2% maior que o contabilizado em dezembro de 2014, é equivalente à média mensal de smartphones vendidos no Brasil no terceiro trimestre do mesmo ano, quando as lojas do varejo bateram recorde neste segmento.

Hoje, os celulares demandam um investimento mais alto – em média de R$ 1 mil. Independente da classe social e da disposição geográfica do contratante, quem adquire um seguro para o aparelho compreende que é possível restituir o bem ao invés de assumir uma nova compra não planejada no orçamento. A franquia vai de 19% a 25% do valor do aparelho, conforme a cobertura escolhida.

“O cliente contrata a proteção que mais se adequa ao seu perfil. O ticket médio fica com a cobertura de quebra acidental, já o de baixo valor procura por seguros contra roubo e furto. Quem possui maior poder aquisitivo adere ao ‘combo’, que une as duas coberturas e garante tranquilidade total”, explica Pascoal Carrazzone, diretor comercial da divisão mobile da Assurant Solutions. A seguradora mantém parceria com três operadoras de telefonia e, para os clientes de uma delas, também oferece proteção financeira.

Com os aparelhos cada vez mais caros, a Conecta registrou alta de 100% na base de clientes segurados no último ano. Mas Heloisa Minetto aponta que, mesmo assim, a base de consumidores de seguro para telefonia móvel não chega a 1% do volume total de aparelhos no mercado nacional. “Ou seja, ainda é um mercado embrionário em franca expansão”, reforça.

Não há dúvidas que há espaço para crescimento. A empresa de consultoria para a indústria de telecomunicações Signals and Systems Telecom (SNS) estima que o mercado global de seguros para telefones móveis termine 2015 com receita de aproximadamente US$ 31 bilhões. Em estudo, a companhia projeta ainda que a taxa anual de crescimento do setor seja de 10% nos próximos cinco anos, alcançando mais R$ 48 bilhões em receita até o final de 2020.

Até lá, será necessário acompanhar cada passo dado por este ramo. “O mercado de telefonia em geral evoluiu muito, está em constante evolução, se reinventa a todo momento e exige que criemos novas soluções para o consumidor final”, completa Carrazzone.

Para bicicletas, demanda é mais antiga

Dados divulgados pelo Ministério do Turismo apontam que o Brasil conta com 1,6 mil quilômetros de ciclovias e ciclofaixas e, segundo um levantamento da União dos Ciclistas do Brasil (UCB), a maior parte desta malha cicloviária se concentra em Brasília, com 440 quilômetros; seguida do Rio de Janeiro (374 quilômetros) e de São Paulo (265,5 quilômetros).

Em São Paulo, aliás, o número de bikes que circulam pela Avenida Paulista em horário de pico cresceu 279% desde a inauguração da ciclovia no local, em 28 de junho deste ano. A primeira contagem da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), feita em setembro de 2014, apontava 254 bicicletas. Já em 30 de junho deste ano, dois dias depois da abertura da ciclovia, o número passou para 963.

Mesmo em meio às polêmicas, a tendência é que a medida atraia novos ciclistas e faça com que os veteranos passem a pedalar ainda mais, seja por lazer ou para utilizar a bicicleta como transporte alternativo no dia-a-dia. E passando mais tempo nas ruas, as bicicletas ficam mais vulneráveis a roubos e furtos. De janeiro de 2014 a junho deste ano, somente o 93º Distrito Policial (DP) de Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, registrou 20 furtos e 25 roubos. O 14º DP de Pinheiros somou 28 e 7, respectivamente; e o 1º DP da Sé, 2 roubos e 26 furtos. As ações também se estendem para os bairros de classe média, como Itaim Bibi (21 furtos e 2 roubos) e Perdizes (17 furtos). “Infelizmente não há um cadastro ou documento legal de posse de uma bike, o que dificulta muito a recuperação em caso de roubo”, declara o sócio-diretor da corretora Kalassa Brasil Insurance, Paulo Kalassa.

O curioso é que, antes mesmo da abertura das novas ciclovias na cidade, o registro de seguros para as “magrelas” já havia triplicado: em 2010, o Sincor-SP somava 350 bikes seguradas, número que saltou para 1,2 mil em 2014. “O mercado de seguros para bicicletas evoluiu por conta da visibilidade do produto”, lembra Luiz Fernando Giovannini, sócio-diretor da também corretora Estar Seguro.

“O custo do seguro fica na ordem de R$ 500 ao ano, cifra que pode variar de acordo com o valor da bike e dos acessórios”, diz Kalassa. O produto é contratado por pessoas de todas as classes esportivas e de lazer, que na maioria dos casos tem como primeira necessidade a proteção contra roubo e furto enquanto pedala, transporta ou até mesmo quando a bike se encontra dentro da própria residência.

Segundo Giovannini, havendo outras coberturas o cliente pode avaliar o que incluir. “Diria que este seguro é um pouco diferente das proteções tradicionais”, pontua. Danos causados pelo veículo transportador (como colisão) também são segurados, desde que a bike esteja devidamente alocada em racks ou thule.

Acessórios

Muita gente não sabe, mas joias e relógios também podem ser segurados. “A demanda ainda é tímida não só por desconhecimento, mas porque alguns segurados não se sentem confortáveis ao abrir detalhes do seu patrimônio no momento da contratação do produto”, explica o gerente de Linhas Pessoais da Chubb Seguros, Guilherme Olivetti. Ao trabalhar com proteção para os objetos de luxo, o corretor necessita de mais informações sobre o segurado para indicar a ele o produto mais adequado.

A Chubb parece trilhar o caminho certo. Comercializando seguros para jóias e relógios dentro de outros produtos, como All Risks (cobertura completa que protege o segurado em qualquer evento ou lugar) e seguro residencial (que garante a cobertura somente dentro da residência do cliente), a companhia teve um aumento de 30% a 35% na demanda, mas sabe que o potencial do mercado é maior. “Acredito que estar protegido é só um dos motivos. Este tipo de seguro vai além da proteção. Você também acaba comprando um serviço. Por isso, vale a pena”, destaca Olivetti.

As maiores demandas são para roubo e furto, seguindo as demais proteções. Mas é importante lembrar a existência de outros riscos – como incêndio, por exemplo, que mesmo não atingindo toda uma residência pode acontecer em apenas um cômodo e causar danos parciais aos objetos.

Tão interessante e desconhecido quanto é o seguro para bolsas e pastas, objetos que normalmente as pessoas levam consigo, de um lugar para outro. No Brasil, o produto é comercializado pela Ace Seguros e cobre o segurado em caso de roubo ou furto qualificado de sua bolsa ou pasta pessoal, incluindo os pertences que estiverem dentro. Entre estes itens podem constar carteira, chaves, maquiagem, cigarros, isqueiro, óculos de sol e outros. “Para obter a indenização, basta apresentar as notas fiscais referentes aos produtos”, diz Antonio Sergio Fernandes, gerente de Subscrição/Afinidades da empresa.

Os produtos são vendidos em parceria com corretores de seguros, por meio de patrocinadores (sponsors) que podem ser empresas e associações públicas ou privadas que, em comum, possuem amplas carteiras de clientes ou associados. Esta forma de distribuição é conhecida como “seguros por afinidade”, segmento no qual a Ace reúne mais de seis milhões de clientes segurados.

Dicas de contratação

Assim como nos seguros tradicionais, ao contratar uma proteção para bens pessoais é importante prestar atenção aos riscos excluídos. Lauro Faria, da Escola Nacional de Seguros, pontua quais itens geralmente não são considerados por estes produtos:

✓ Em caso de quebra do bem, o seguro só cobre o dano causado por acidente, incêndio, queda de raio, impacto de veículo ou tentativa de roubo. Se o segurado, por descuido, deixou o celular na chuva e ele parou de funcionar, o seguro não cobre;

✓ Furto simples, furto de bem deixado dentro de veículo (exceto em caso de roubo do veículo), extravio, perda ou desaparecimento, subtração sem violência ou grave ameaça e bens deixados em áreas abertas também são exclusões;

✓ Nos seguros para bens de luxo, a aprovação e detalhamento das coberturas das apólices são feitos com o apoio da avaliação de especialistas responsáveis pela elaboração de um relatório. O documento detalha os bens e as sugestões de adoção de medidas de prevenção à segurança pessoal e patrimonial, de acordo com o perfil do segurado. No caso de obras de arte, a melhor forma de se obter uma avaliação é procurar um escritório de arte conceituado. Geralmente, as obras avaliadas possuem laudo de autenticidade e valor de mercado, serviço conhecido como expertise;

✓ Para as joias, o seguro não garante o valor afetivo. A avaliação pode ser feita por um designer ou joalheiro reconhecido no mercado. Das particularidades desses bens deriva a diferença do cálculo entre os seguros de automóvel e de obras de arte, joias, acervos particulares e coleções valiosas.

 

oportunidades | mercado

Encontrando caminhos

O que é mais importante, novos produtos ou novas maneiras de atuação? Especialistas do mercado falam sobre a importância de aliar inovações a melhores práticas de venda

Amanda Cruz

Uma indústria que se reinventa a cada crise, principalmente porque sabe que tem espaço para crescer e para investir em novas tecnologias, novas abordagens e novos produtos. Muito já existe nas prateleiras do mercado de seguros, alguns à mão, prontos para serem usados, outros esperando serem resgatados e aprimorados para que o mercado mostre ainda mais seu potencial. A frase “apesar da crise” parece ser o mote dos últimos meses para quem quer continuar crescendo; o mercado de seguros quer mostrar, na prática, como isso é possível.

O trunfo para gerir bem esse momento é ter boa perspectiva de crescimento, o que quer dizer que o mercado ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir sua maturidade e precisa fazer isso driblando as dificuldades dos outros setores. Os corretores e as seguradoras de diversos ramos perceberam essa necessidade, cada um em sua área de atuação, e apresentaram à Revista Apólice quais são suas estratégias e novidades para levar o setor adiante.

Para Carlos Ronaldo Paes Ferreira, diretor da Rodobens Corretora de Seguros, a área de seguros para caminhões foi atingida, mas outra área desponta como favorita em crescimento para esse ano. “Atuamos em diversas frentes, em algumas vamos muito bem, como é o caso da área de benefícios, que com um trabalho de prospecção tem dado bastante certo”, aponta. Já a área de transportes, para Ferreira, tem sido a mais difícil. O primeiro trimestre até apresentou resultado positivo por conta das faturas de final de ano, mas o ramo vem sentindo a redução em suas cargas. “O volume de cargas está em 70% do que costumava ser e o valor de prêmio desse seguro também caiu”, afirma.

Para a Rodobens, o seguro auto não foi muito sentido por causa de sua parceria com montadoras como Toyota e Mercedez, dois nomes que vêm resistindo à maré turbulenta do mercado automobilístico. No mercado de caminhões é diferente, a queda na venda de novos caminhões foi de 40%.

Mesmo assim, ainda pode ser cedo para falar do impacto das reviravoltas econômicas no mercado. Especialistas acreditam que esse impacto não vem de uma vez, mas vem se mostrando a cada renovação, mês a mês, e isso passa a ser positivo à medida que o corretor balanceia suas ações para criar as, já famosas no mercado, oportunidades na crise. “Na verdade, nos preparamos com diversificação dentro das linhas de negócio. É verdade que mais de uma linha tem retração, mas isso se compensa pela preocupação em adquirir seguros como meio de proteção financeira, por exemplo”, garante Evandro Baptistini, diretor Comercial da PAN Seguros.

José Otávio, CEO da corretora Willis, endossa essa visão e diz que “os clientes sofreram muito e nós também”, mas que a preocupação com proteção existe mais do que nunca e a assessoria se faz necessária nesse momento, para mitigar riscos e ganhar condições de continuar prestando serviços. “Assim como em outros mercados, fomos afetados, mas a área de seguros está descolada da economia, não é uma catástrofe, mas entendemos que os clientes estão pedindo mais resiliência”, declara.

Portanto, um trabalho em conjunto se faz necessário. O corretor não terá meios de se empenhar em suas vendas se não tiver uma cadeia de sustentação que o leve ao consumidor final com bons produtos. Aprimoramento de processos de vendas, meios de cobrança com alta capilaridade e processos simplificados, como um bom sistema de vendas online, são etapas que precisam estar presentes antes mesmo de se pensar em fazer novos produtos. “A visão que temos é que o pequeno corretor passe a distribuir produtos não convencionais, auto e saúde têm o ticket médio e o valor de comissionamento mais alto do mercado, mas existe um outro lado que deve ser explorado que é vender produtos com valores mais baixos, mas que trazem ao corretor uma receita recorrente, pois são produtos de alta persistência, que raramente são cancelados”, explica Baptistini.

Bóris Ber, 1° vice-presidente do Sincor-SP, lembra que a entidade tem falado muito sobre empreendedorismo a seus corretores. “O corretor tem em mãos o melhor cadastro possível, que contém dados como idade, estado civil, profissão, veículo que possui, filhos etc. e se o corretor investir um tempo nesse cadastro verá a quantidade de oportunidades de novos produtos a serem oferecidos e irá rentabilizar sem o esforço de prospectar novos clientes”, indica.

Medidas oportunas

Há trabalho a ser feito, seja em novos produtos, seja investindo em aprimoramento do que já existe. Ferreira afirma que o público de transportadoras e caminhoneiros, sejam PF ou PJ, que são clientes já tradicionais e fidelizados da corretora, são alvo para novas contratações. “Tínhamos uma empresa de gerenciamento de riscos que só metade da base de clientes havia contratado. Outro exemplo são os equipamentos dentro dos caminhões, guinchos ou munques que precisavam de proteção e nos proporcionou trabalhar melhor a carteira de riscos diversos e entender para quem interessaria vender esses produtos diferenciados”, conta.

Além disso, outras questões vêm ganhando importância no mercado. O Seguro de RC Ambiental, por exemplo, que tinha pouca expressividade há algum tempo, passou a ter mais espaço assim que foi percebida a necessidade de determinados clientes, que antes era ignorada. Para o diretor da Rodobens “a maior oportunidade está dentro de casa”.

Ber dá um exemplo de como isso pode ser feito em outras áreas. Um casal com dois filhos pode receber uma oferta de seguro de vida para cada um deles no momento da renovação da apólice de automóvel, ou um seguro residencial para essa família. “O mercado não está tão comprador, mas o corretor precisa mostrar que esse seguro garantirá que o consumidor evite um dano muito maior, como o de precisar repor, sem auxílio, uma casa ou um carro”, explica.

Esse processo, chamado cross seling, têm sido bastante difundido, mas ainda precisa fazer mais parte da vida do corretor para ter mais efetividade. Muitas vezes, o profissional conhece a técnica na teoria, mas não costuma implementá-la dentro de sua corretora. Mas caso ele já seja adepto dessas práticas, os novos produtos podem ser uma oportunidade atrativa.

A Swett & Crowford trabalha para retomar produtos de seguros que haviam sido abandonados, mas que têm nichos demandados em alguns locais específicos, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo. “Estamos descobrindo nesses locais onde instalamos novos escritórios as peculiaridades de demanda, como as do setor moveleiro, de calçados, agronegócio etc. Visitando essas regiões, tentamos entender qual negócio eles não conseguem fazer colocação de risco, pesquisamos e vemos se é possível atender esse nicho”, explica Rogério Santos, diretor de resseguro da empresa. Situações sem seguro não são tão incomuns para alguns segmentos específicos, como os citados por Santos. O agronegócio, por exemplo, encontra dificuldade em segurar seus estoques, grandes varejistas atuam com seus armazéns e estoques sem proteção ou com condições muito restritas de coberturas, o que pode ser resolvido com uma parceria entre seguradoras e resseguradoras, juntamente com corretores, que se proponham a levantar dados, redesenhar e suprir essa demanda. “Ainda existe resistência de algumas companhias. Dependendo do tipo de negócios que estamos levando, mesmo disponibilizando a capacidade de resseguro, ela pode ou não querer participar. Mas, muitas delas, se mostram interessadas porque sabem que essa concentração de negócio pode trazer um ganho de escala e uma oportunidade para ela voltar a atuar em um ramo que estava esquecido”, salienta Santos.

Seja atualizando o banco de dados, ajudando a desenhar novos produtos, correndo atrás dos clientes que ainda não têm os seguros mais “básicos” como vida, saúde, residencial ou plano previdência privada ou aliando-se à tecnologia para trazer inovação, os players do mercado parecem ter uma necessidade de mudança, renovação. Muitos dos entrevistados afirmam que produtos novos não são, necessariamente, a maior necessidade do mercado, que o Brasil possui um grande leque de opções, mas que falta cultura suficiente, tanto por parte dos clientes quanto por parte do segurador e do corretor, para perceber quais são as reais demandas ou os prováveis ajustes para que o produto funcione como deveria. “Estamos muito mais preocupados com os canais novos de distribuição. Além disso, temos estudos para desenvolver mercado fora do eixo Rio-São Paulo”, conta Otávio.

A verdade é que todos estão se mexendo, procurando por soluções antes que as dificuldades cheguem com mais força. “O seguro de automóvel foi o responsável por nos conduzir até aqui, mas eu não sei se o seguro auto nos conduzirá daqui pra frente. Áreas como benefícios e garantia, com E&O, RC, saúde, odonto e vida, por exemplo, podem ser apostas mais certeiras daqui pra frente. O que fico surpreso é que quando falamos isso para o corretor é que ele percebe que o esforço para oferecer diferentes seguros para o mesmo cliente é muito pequeno perto da expansão que ele pode ter”, afirma Bóris Ber.

Apostas

Entre tantas possibilidades, destacam-se algumas das princpais apostas para os próximos anos. Os portáteis como smartphones, tablets, câmeras, filmadoras etc, para o executivo da PAN, têm potencial para serem os próximos bens mais segurados pelas características de seus riscos, são aparelhos que estão sempre em trânsito com uso tanto para assuntos pessoais quanto para assuntos profissionais. A proteção de conteúdo, fotos e informações também é uma preocupação.

Os seguros voltados à proteção de executivos com cargos altos, ou profissionais que possam ter suas carreiras comprometidas em determinadas situações tiveram alta e parecem ser a estrela em tempos de dificuldade, já que as companhias têm se preocupado mais com essas questões depois que grandes empresas começaram a ter problemas relacionados a seus planos de compliance. “Acredito que produtos como cyber risk são muito interessantes, embora não estejam muito desenvolvidos. Mas ele deve ser mais estudado e sua aplicabilidade deve ser estudada, assim como o D&O”, afirma José Otávio.

O RC, em suas mais variadas formas, também deverá ter o seu espaço. O seguro para profissionais como médicos, advogados, dentistas, corretores de imóveis e corretores de seguros, entre outros. “Pode acontecer de um corretor fazer uma avaliação não adequada e causar prejuízo financeiro, não dar informações relevantes, ele pode não ser diligente em uma análise de uma transação, tudo isso leva a uma indenização e o seguro vem pra cobrir essa questão”, ressalta Baptistini.

Pouco comentado, o RC Familiar também tem amplas coberturas e pouca divulgação. Assuntos domésticos podem ser resolvidos com essa modalidade. Alguém que escorrega em um piso molhado ou um cachorro que morde um vizinho são eventos que têm cobertura nesse tipo de apólice.

Esses assuntos de ordem doméstica têm chegado com força no mercado e os animais de estimação também têm espaço. A Brasil Assistência oferece um produto voltado para Pet’s que tem sido um diferencial importante para a empresa. Almir Fernandes, presidente da companhia, destaca que a ideia surgiu há quatro anos, quando um estudo de mercado constatou crescimento do número de famílias que criam pets e como eles recebem cuidados especiais, sendo considerados membros da família. Entre os serviços oferecidos estão veterinários credenciados, implantação de microchip, transporte emergencial, informações sobre vacinas e aplicação das mesmas em domicílio, além de orientação veterinária por telefone. “Há perspectiva de crescimento da população pet no Brasil. Atualmente, o país é o segundo entre os maiores mercados mundiais para produtos de animais domésticos, por exemplo. É por este motivo que desenvolvemos esse serviço para que esse público possa ser atendido”, afirma Fernandes.

De acordo com dados da companhia, foi computado, de janeiro de 2014 a janeiro de 2015, um incremente de 110% em novas adesões. Esse número mostra que a oportunidade de investimento é alta e que a criatividade é muito importante para que o setor cresça, mas as oportunidades e o incremento das carteiras podem estar muito mais perto do cotidiano do que de idéias de novos produtos mirabolantes.

 

impacto | longevidade

Vida longa e saudável

Maior desafio do futuro será viver bem o ciclo que começa a partir dos 80 anos, a quarta-idade. Especialistas falam sobre o que precisa mudar para atender este público

Kelly Lubiato

A partir dos 60 anos, o brasileiro já passa a ser protegido pelo Estatuto do Idoso, um conjunto de regras destinado a regular os direitos assegurados às pessoas nesta faixa etária, com o principal objetivo de preservar a sua saúde, seu bem-estar e sua dignidade. Para atender este público, é necessário haver adequações em todas as esferas, o que inclui também o mercado de seguros.

“As cidades ainda não estão preparadas para suportar uma população envelhecida. Cadê as rampas?”, questiona Claudio Contador, diretor do Centro de Pesquisas da Escola Nacional de Seguros, avaliando que, por exemplo, os banheiros e portas não são adequados aos que necessitam de cadeiras de rodas.

O que o Brasil poderá fazer é afastar as pessoas com mais idade para a responsabilidade do Governo. O mundo acordou tarde, porque este fenômeno do envelhecimento da população começou há cerca de 30 anos. “Nós envelhecemos antes de enriquecer, ao contrário dos países da Europa e Estados Unidos”, alerta Contador.

“O que o mercado não pode fazer é simplesmente agravar o preço do seguro saúde, como ele está acostumado a fazer”, antecipa a presidente da AIDA Brasil, Angélica Carlini, acrescentando que esta é uma iniciativa muito complicada na fase da vida em que as pessoas estão ganhando menos.

“Os impactos da longevidade podem chegar a várias carteiras, como o automóvel, porque a pessoa vai bater mais, pois seus reflexos não serão os mesmos, por mais que a aparência seja a mesma. Temos sabedoria, mas que nem sempre é suficiente para nos livrar de situações em que o reflexo seja necessário”. Na carteira de acidentes pessoais, este impacto pode vir na forma de uma quantidade maior de pequenos eventos, porque as pessoas vão cair mais, tropeçar e se cortar mais. Os sinistros podem ser pequenos, mas suas consequências são maiores porque as pessoas podem ter diabetes, precisam ter a pressão arterial controlada.

Revolução

Estamos face à uma revolução da longevidade. Ela acontece de súbito e tem impacto em toda a sociedade. Hoje, há mais pessoas vivas com mais de 60 anos do que pessoas que chegaram a esta idade ao longo de toda a história da humanidade.

A população mundial, que no ano 2000 era de 6 bilhões, passará para 8,9 bilhões em 2050. Nesse comparativo, a população de pessoas com mais de 60 anos saltará de 0,6 bilhão para 2 bilhões, com aumento maior nos países em desenvolvimento. No Brasil, há cerca de 23 milhões de idosos (dados de 2012), com perspectiva de chegar 64 milhões em 2050.

O grande gasto em saúde está no último ano de vida da população. A expectativa de vida ao nascer do brasileiro, em 2013, era de 74,9 anos. A principal causa de morte de idosos são as doenças crônicas. “ É a transição epidemiológica que se segue de mãos dados com a evolução demográfica”, diz Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, durante evento organizado pelo jornal Folha de S.Paulo.

O acesso a serviços, dignidade e renda abre possibilidades de escolha. As pessoas sem renda, doentes, não têm o privilégio de escolha e permanecerão à margem da sociedade. O envelhecimento será diferente a partir dos baby boomers, que já contribuíram para a sociedade de várias formas. “Assim como nós criamos a adolescência, agora estamos vendo o crescimento dos gerontolescentes (20-30 anos a mais). É uma construção que está reinventando a velhice”, antecipa Kalache.

Entretanto, o professor da Universidade de Chicago, Jay Olshansky, avaliou que a longevidade não pode ir além dos limites impostos ao nosso corpo pela biologia. “É biologicamente impossível para quase todo mundo viver além dos cem anos. Parte do problema são as mudanças que acontecem nos componentes do corpo que não se replicam: fibras musculares e neurônios. Não há muito que possamos fazer”, resigna-se.

O estudioso argumenta que com os conselhos que existem atualmente, de cuidar das doenças crônicas, incentivar hábitos saudáveis como comer bem, fazer exercícios etc., talvez se consiga apenas um prolongamento da velhice.

Mercado de Seguros

O seguro saúde é um dos que mais vai mudar de conceito nos próximos anos, na maneira como remunera os prestadores e no relacionamento com os consumidores. O vice-presidente de saúde e odonto da SulAmérica, Maurício Lopes, afirma que para ter custos melhores e poder atender a terceira idade, os prestadores devem enxergar o paciente como um todo, principalmente para controle das doenças crônicas, que são a maior causa de “sinistros” neste período.

Como exemplo, Lopes cita uma pessoa com problema de coluna. Ela pode ter a indicação de uma cirurgia na coluna, mas, antes de realizar o procedimento, é preciso uma segunda opinião médica. Caso a indicação seja de tratamento clínico, o pagamento do prestador será de acordo com a situação do paciente e não de quantas vezes ele visita a clínica. “Estes arranjos entram numa política de ganha-ganha, e são fundamentais para o maior conhecimento do paciente, o que será primordial para os pacientes mais longevos”, acredita Lopes.

Assim, a seguradora pretende mudar a gestão da saúde, tratando o paciente com uma equipe multidisciplinar com geriatra, nutricionista, enfermeira, cardiologista entre outros, capazes de tratar o paciente de forma holística. “Temos que acolhê-lo em um núcleo multidisciplinar, com um atendimento permanente e de longo prazo, para drená-lo da unidade de atendimento emergencial”, explica Lopes.

Este trabalho já é realizado pela companhia, com o acompanhamento de 5 mil beneficiários. A quantidade média de diárias de internação no grupo de controle reduziu 31%. O grau de satisfação deste grupo é de 83%, segundo informa Lopes.

O mais importante é inserir as pessoas de determinado grupo de risco em ações efetivas que a distanciem dos gatilhos agudos para as doenças. Os programas atuais querem que os obesos, por exemplo, tenham hábitos mais saudáveis, abandonem o sedentarismo, mas dentro de práticas e objetivos que ele consegue alcançar.

Lopes explica que a causa raiz da maioria dos problemas crônicos pode ser reduzida a quatro itens: alimentação, sedentarismo, tabagismo e estresse. “Se nós, como sociedade, déssemos um passo para trás e conseguíssemos atacar estes quatro pilares haveria uma redução das despesas e dos gastos com saúde.

O impacto da longevidade para os planos de previdência privada, pelo lado da solvência dos planos, pode ser negativo, porque foram vendidos há muitos anos e têm que manter as bases técnicas da época da contratação. “Com o aumento da expectativa de vida, precisamos ter provisão para este fim”, explica o diretor de Vida e Previdência da Bradesco Seguros, Jair Lacerda. Por outro lado, para o seguro de vida o impacto é positivo, pois o pagamento do sinistro é adiado com a longevidade.

Lacerda ressalta que as empresas de previdência privada trabalham atuarialmente com uma expectativa de vida que vai se elevando à medida que as pessoas envelhecem. “As seguradoras estão equilibradas por conta de duas premissas do cálculo atuarial: expectativa de vida e taxa de juros real”. As provisões vão sendo atualizadas de acordo com os fundos nos quais os valores estão investidos.

Nas carteiras que usam tábuas de mortalidade desatualizadas, por outro lado, os ativos que foram adquiridos para fazer o lastro das obrigações, também foram adquiridos com taxas superiores às do contrato. “A diferença compensa, na maioria dos casos, o incremento de sobrevida. O mercado está bastante solvente em relação às estas carteiras”, garante Lacerda.

O futuro

A tecnologia pode contribuir muito para diminuir os custos destes produtos para um público longevo. A partir de informações disponíveis, é possível fazer a subscrição exata do risco. “Se eu tenho uma pessoa de 70 anos bem cuidada, que vai ao médico, se alimenta bem, ela deve ser destacada da multidão. “Às vezes só pelo perfil de consumo de uma pessoa já se sabe se é um bom risco ou um risco agravado. Com isso, é possível vender um produto mais adequado”, afirma Lacerda.

Entretanto, ele afirma que o mercado precisa ser um pouco mais realista, porque o Brasil enfrenta um período de judicialização das operações que é bastante grave. No passado, as decisões judiciais fizeram com que o mercado se retraísse. O risco de se criar produtos específicos para pessoas acima de 60 anos está na legislação em vigor, que coloca o idoso como ente hipossuficiente. Desta forma, algumas coberturas podem ser exigidas sem que estejam previstas em contrato, como o pagamento para um tipo muito específico de câncer, por exemplo.

Lacerda avalia que há duas questões que precisam ser trabalhadas: judicialização e tecnologia. “Somente a subscrição adequada do risco torna possível a venda de produtos para pessoas com idade mais avançada. Para entrar neste grupo, as pessoas deverão ser mais saudáveis, parar de fumar, emagrecer e comer melhor”.

 

produto | economia

Mais uma etapa para o VGBL Saúde

Pleiteado há quase uma década pelo mercado de seguros, depende do Senado a aprovação de projeto que viabiliza poupança para arcar com planos de saúde após aposentadoria

Amanda Cruz

Há quase uma década, o mercado luta para emplacar um produto voltado para aqueles que procuram mais estabilidade em relação à utilização de plano de saúde depois de sua aposentadoria. Já no início de 2015, o presidente da Fenaprevi, Osvaldo Nascimento, afirmou que o VGBL Saúde seria liberado ainda aquele semestre. Tardou um pouco mais do que o esperado, mas a aprovação na Câmara dos Deputados chegou.

O produto, que teve seu início nas mãos de Armando Vergílio, hoje presidente da Fenacor, passou por diversas modificações até ser aprovado, no dia 27 de agosto, como o Projeto de Lei 10/15, com autoria do Deputado Lucas Vergílio (SD-GO). Agora, irá para aprovação no Senado, mas o mercado parece já estar se preparando para a aprovação. “O VGBL Saúde é um projeto que perseguimos há anos e, por isso, já estamos avançados para oferecer esse produto – aguardamos apenas sua aprovação no Senado”, garante Silas Devai Júnior, superintendente de Vida e Previdência da Seguros Unimed.

Um dos pontos cruciais da proposta é que empresários ajudem a custear planos de seguro com cobertura de sobrevivência para seus colaboradores depois que esses forem desligados das empresas e, consequentemente, dos planos de saúde que elas oferecem, por demissão ou aposentadoria. Em contrapartida, as empresas receberão benefícios fiscais que já são aplicados na previdência complementar.

Em um processo de poupança de longo prazo, o VGBL também se apresenta como um diferencial de benefício para funcionários. “As características desse produto são semelhantes às do VGBL, o que o diferencia é que a acumulação dos recursos é somente para custear as despesas do plano de saúde, que é feita diretamente a uma operadora (indicada pelo participante)”, explica Devai. Outra diferença está na tributação do plano, que permite a isenção de Imposto de Renda, tanto durante o período de acúmulo desses valores. Quanto no momento do repasse ao plano de saúde.

Durante a trajetória do projeto de lei, muito se falou da possibilidade do produto ser enxergado como venda casada, fazendo com que o beneficiário fosse obrigado a contratar o produto juntamente com o plano de saúde para o qual ele seria destinado, mas é importante ressaltar que as duas vendas devem ser feitas de maneiras independentes. A judicialização pode ser possível, caso o cliente não saiba que a contratação do VGBL Saúde em nada tem a ver com os tipos de coberturas que deverão ser disponibilizadas pelo plano de saúde.

Essa decisão de passar o valor acumulado da seguradora para operadora é, principalmente, para evitar que o colaborador resgate o dinheiro e acabe não reinvestindo no plano de saúde. Os processos de solvência são de extrema importância para que o projeto tenha êxito no mercado. Por ser um investimento feito no longo prazo, o dinheiro precisará estar totalmente disponível quando os beneficiários necessitarem.

Os que mais utilizarão esse plano são pessoas a partir de 66 anos que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) de 2014, tem gastos com saúde que já comprometem de 40% a 70% do orçamento, especialmente quando se trata de idosos de baixa renda. Relacionado a isso, Armando Vergílio afirmou, em declaração ao mercado, que a aprovação do VGBL Saúde ajudará a desonerar o Estado, pois quem fizer essa poupança ao longo da vida não precisará utilizar os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), deixando esse tipo de atendimento para os cidadãos que necessitarem mais desse atendimento.

O executivo da Unimed complementa a visão de Vergílio. Para ele, certamente esse é um produto com um bom mercado, já que assegura renda que garantirá o pagamento de um seguro saúde no momento da aposentadoria. “Ressaltando que os custos com saúde refletem uma das grandes preocupações nessa fase da vida”, pontua.

Esta é uma oportunidade a mais de venda para os corretores, que poderão atender a questões como a longevidade da população em um país que está em processo de envelhecimento. A tramitação agora irá para o Senado, que deverá averiguar a proposta e aprová-la ou não. Caso exista a negativa ela voltará para a Câmara e deverá sofrer alterações. “Estamos aguardando os desdobramentos no Senado. Após tudo aprovado, teremos acesso aos detalhamentos do produto (condições gerais) e poderemos finalizar toda parte operacional para iniciar a comercialização – que, lembrando, só acontece após a aprovação da Susep”, destaca Devai.

Veja outros projetos de lei sobre o mercado de seguros que estão tramitando na Câmara dos Deputados. Os projetos são de inteira responsabilidade dos autores e ainda precisam ser votados. Portanto, não há qualquer garantia que serão, ou não, aprovados.

PLC – 2285 / 2011
Autor: Ricardo Izar Filho (PSD)
Obrigará as empresas que vendem bens móveis duráveis com garantia a contratarem cobertura de seguradora de acordo com a regulamentação da Superintendência de Seguros Privados;

PLC 5912-2013
Mario França (PSB)
Estabelecerá os direitos básicos do consumidor de planos de saúde e de seguro. Como agendamento de consultas médicas e exames em, no máximo, 15 dias; modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente gravosas para o consumidor;

PLC – 3266 / 2008
Dr. Adilson Soares (PR)
O projeto define normas para a criação das sociedades seguradoras especializadas em micro-seguros. As sociedades seguradoras poderão operar o seguro enquadrado no ramo de micro-seguros, desde que estejam constituídas como seguradoras especializadas nesse seguro, devendo seu estatuto social proibir a atuação em quaisquer outros ramos ou modalidades.

 

gestão | novidades

Tempo de mudanças

Para renovar linhas de negócios, Mitsui Sumitomo Seguros contrata novos executivos. Seguradora, que também investe na construção de parcerias sólidas com os corretores, visa alavancar a participação nos segmentos corporativos

A Mitsui Sumitomo Seguros, que no Brasil atende as linhas de automóveis, bens patrimoniais, responsabilidade civil, riscos de engenharia, transportes e vida, inicia uma nova etapa no País. “Estamos investindo nas frentes estratégicas de cada linha de negócio”, declara o diretor técnico da empresa, Paulo Yukio.

Em automóveis, por exemplo, a seguradora revisou todo o processo de regulação e liquidação de sinistros para melhoria da qualidade dos serviços. Já em Responsabilidade Civil, ajustou e aprimorou os clausulados. Quanto à distribuição, novas filiais comerciais estão sendo desenvolvidas e as existentes, reestruturadas. Novas parcerias com corretores também vêm sendo firmadas.

Para reformular os ramos de transporte e bens patrimoniais, porém, a seguradora contratou novas lideranças. A primeira, realizada em janeiro, foi o superintendente técnico Ricardo Beyer, que em transportes obteve a responsabilidade pela manutenção da rentabilidade do portfólio atual e pela expansão sustentável da carteira em todo o País.

“Seguindo os passos do grupo ao qual fazemos parte, o MS&AD, vamos oferecer ao mercado os principais seguros para transporte de mercadorias, atuando fortemente no território nacional e internacional, cobrindo transações de importação e exportação”, destaca Beyer. Ainda neste segmento, a Mitsui Sumitomo Seguros pretende aumentar a capacitação dos times de subscrição e vendas, revisar o processo de subscrição de riscos e atuar proativamente no que se refere às práticas de gerenciamento de risco.

Em bens patrimoniais, serão revisados todo o processo de aceitação de risco, aumento da capacitação do time de subscrição e a estruturação de precificação de seguros. As ações passam a ser comandadas pelo recém contratado diretor de RE Corporate, Djalma Duarte Barros Junior, que irá prover soluções na Gestão de Riscos com retorno para o acionista e preparar um time de subscrição apto a atender as necessidades do mercado de grandes riscos.

“No ano que a Mitsui Sumitomo Seguros completa 50 anos de operações no Brasil, vamos atuar junto aos nossos canais de distribuição na mudança de processos internos pela busca na excelência dos serviços prestados aos corretores e segurados”, diz Barros. “Estamos certos de que, com este direcionamento e mudanças, teremos participação significativa no segmento corporativo”, acrescenta o executivo.

É no segmento corporativo, aliás, que a seguradora pretende alavancar sua participação a partir do próximo ano. Por isso, Vida em Grupo tem demandado atenção especial dos executivos. Para Yukio, esta é uma linha de negócios fundamental para qualquer seguradora que deseja atuar fortemente neste segmento. “Com esse entendimento, definimos que a linha seria reposicionada há dois anos”, diz o diretor técnico. A área ganhou nova ferramenta para cotação de pequenos grupos, novas coberturas nos produtos e teve um aumento da capacitação do time de vendas. No momento, a companhia trabalha com foco e qualidade nos serviços da subscrição de riscos e faturamento.

Relacionamento com os corretores

Para a construção de uma parceria de longo prazo junto aos seus parceiros, a Mitsui Sumitomo Seguros desenvolve treinamentos para que os corretores conheçam os produtos e a operação da empresa. Na visão de Paulo Yukio, esse tipo de ação agrega valor e alavanca o desenvolvimento da confiança e de novos negócios.

Uma das apostas recentes foi a realização de workshops dos produtos Transportes e Vida em Grupo. “Os resultados foram muito positivos e nos indicaram que estamos no caminho certo”, finaliza Yukio.

 

Prêmio Melhores do Seguro

Duas décadas de comemoração

A elite do mercado de seguros celebra os 20 anos da Revista Apólice. Cerca de 300 pessoas entre representantes de seguradoras, corretores, entidades e o regulador do setor, homenageado da noite, participaram da sexta premiação que reconhece as iniciativas louváveis do segmento

Manuela Almeida

A despeito de um cenário político econômico conturbado, que dias depois se desdobraria na perda do selo de bom pagador do Brasil, o mercado de seguros tem motivos relevantes para comemorar. Crescer 6% em termos reais, ou seja, descontada a inflação, foi a justificativa para afastar o pessimismo na noite do dia 03 de setembro, durante a Premiação Melhores de Seguros. No centro das conversas de um público selecionado de cerca de 300 pessoas que lotaram o espaço Villa Vérico, em São Paulo, as movimentações de vendas e aquisições tanto no mercado local como no externo, com a Ace adquirindo a seguradora Chubb, deram o tom. A especulação cresceu em torno de quem vai ficar com a carteira de seguro de vida em grupo do Itaú Unibanco. Depois de se desfazer da sua operação de grandes riscos, no ano passado, adquirida pela Ace, a companhia tenta agora desovar também este ativo e o que sobrou da Garantec, sua seguradora de garantia estendida. Uma das fortes apostas é a AIG, que teve de ser resgatada pelo governo americano na crise de 2009. Isso porque, no passado, a companhia chegou a ter uma empresa com o Unibanco antes da fusão com o Itaú. “Tenho certeza que a AIG está entre as finalistas”, contou um diretor de uma seguradora. Outro nome que ecoou foi o da Pan Seguros, recentemente adquirida pelo BTG Pactual e pela Caixa Econômica Federal, e que teria interesse de ampliar seu tamanho com o ativo que não despertou tanta cobiça no setor. Para Osmar Bertacini, presidente da APTS, o fato de a carteira ser relativamente envelhecida, ou seja, com maior probabilidade de gerar sinistros, é um dos motivos para o baixo apetite. Também nos bastidores o tema saúde ficou em evidência após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinar naquela semana a venda obrigatória de toda a carteira da Unimed Paulistana, que há seis anos enfrentava uma crise financeira. Histórias de segurados órfãos e o dilema que vive o segmento estamparam as conversas quando o assunto vinha à tona. O corretor de seguros Álvaro Fonseca contou que reverteu a quebra da Unimed Paulistana em novos negócios. Ele ajudou beneficiários a contratar um novo plano, aproveitando o boom de reclamações publicadas nas mídias sociais e ainda levando conforto aos que da noite para o dia se viram sem um plano de saúde. Problemas do dia a dia dos corretores de seguros não podiam faltar nas conversas durante a premiação da Apólice, criada há 20 anos com o objetivo de registrar os desafios, mas, principalmente, munir esses profissionais de informação de qualidade, servindo de instrumento para conquistas.

Marcos Eduardo Ferreira, CEO de Auto, Seguros Gerais e Affinities da BB Mapfre, falou sobre o contexto macroeconômico do Brasil e avaliou que o mercado de seguros sente os reflexos, mas, diante do potencial de expansão no País, consegue ser “menos pessimista”. “Temos ilhas de oportunidades”, resumiu ele, à Apólice.

Nesta mesma direção, discursou Margo Black, presidente da Swiss Re Brasil que, mesmo com o pé engessado, fez questão de comparecer ao Prêmio Melhores de Seguros. Com 38 anos de história no mercado de seguros e nascida na Escócia, a executiva, atualmente única mulher a presidir uma companhia do segmento no País, teceu elogios ao Brasil a despeito das recentes mudanças anunciadas para as resseguradoras que vão reduzir de forma gradual a reserva de mercado dos players locais nos próximos anos. Embora as medidas visem tornar o segmento mais aberto para estrangeiros, os que, anteriormente, investiram e fizeram o dever de casa para se adaptar à regulamentação do resseguro não gostaram da surpresa tocada a mãos fechadas pelo governo. Mas o dia era de festa e Margo preferiu ficar nos elogios e ressaltar a missão do mercado de seguros e resseguros, principalmente, em um cenário de crise e recessão. “O Brasil é um país maravilhoso. Há muito para fazer no seguro. Temos muitas possibilidades de preencher lacunas. Há muito trabalho pela frente”, reforçou a presidente da Swiss Re.

Personalidade do ano

O reconhecimento da importância do trabalho em equipe deu o tom do discurso de agradecimento do superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Roberto Westenberger. Grande homenageado da noite, foi parabenizado, mas também ouviu necessidades do setor. Erico Melo, presidente do Sincor-SE, levou ao superintendente a demanda do mercado em torno da autorregulação. Hoje, a questão política, segundo ele, inibe o avanço da resolução. Cobrou ainda novidades em relação à emissão da carteira profissional de corretores de seguros. Mesmo em um ambiente mais descontraído, um cenário, a priori, antagônico para a maior autoridade do mercado de seguros, Westenberger fez questão de atender a todos antes e depois da premiação. Atuário por formação, o superintendente foi homenageado pela dedicação ao mercado de seguros após cerca de um ano e meio no comando do órgão regulador. Sugestão do próprio setor aprovada e ratificada pelo governo, Westenberger tem a simpatia de executivos pelo seu perfil técnico. Sua missão à frente da Susep, disse ao ser reempossado este ano no cargo, é contribuir para que o mercado de seguros seja mais “parrudo” e que a autarquia do segmento se modernize, uma queixa antiga de executivos do segmento. O entendimento do Ministério da Fazenda, pasta à qual a Susep está submetida, é de que à medida que o mercado de seguros cresça poderá também ser mais funcional para a economia brasileira, com as seguradoras dando suporte de investimento institucional para o País. Mas, Westenberger, ao ser reconhecido pela primeira vez por uma publicação especializada como a personalidade do setor, deixou suas ambições de lado. “Quero agradecer a homenagem, mas esse prêmio não é do superintendente, mas da Susep. Quero, aqui, reconhecer o trabalho em equipe que estamos fazendo na autarquia”, sintetizou ele, que também parabenizou o trabalho da Apólice nesses 20 anos.

Fora do palco da sexta edição do Prêmio Melhores do Seguro, executivos comentavam ainda sobre a nova diretoria da CNseg. A chapa que deve disputar as eleições no final do ano será apresentada em breve, mas fontes anteciparam os futuros nomes que vão representar o mercado de seguros no próximo mandato com exclusividade à Apólice. Além disso, como de costume, será única. De saída da Confederação, Marco Antonio Rossi, que é presidente da entidade e da Bradesco Seguros, deve ser substituído pelo colega Marcio Coriolano, hoje no comando da Fenasaúde e da Bradesco Saúde. Com isso, a expectativa do mercado é que ele passe o bastão, conforme fontes informaram à Apólice, à Solange Beatriz, da diretoria executiva da CNseg. Na FenSeg, Paulo Marracini, vice-presidente do Conselho de Administração da Allianz, deve transferir o comando para João Francisco Borges da Costa, presidente da HDI. Na FenaPrevi, as apostas dão conta de que Osvaldo Nascimento, do Itaú Unibanco, seja substituído por Edson Franco, da Zurich. A única Federação que deve ter seu presidente reeleito, de acordo com executivos do setor, é a FenaCap, com a continuidade de Marcos Barros, da Brasilcap, à frente da entidade.

Mas não foram ventilados apenas os nomes da próxima diretoria da CNseg. Durante a premiação, fontes comentavam o que teria estimulado as mudanças na próxima chapa a comandar a Confederação. Em relação ao posto máximo da entidade, o entendimento é de que Rossi terá de se debruçar na integração com o HSBC e de suas seguradoras, fora o fato de ser um dos fortes candidatos a substituir Luiz Carlos Trabuco Cappi na presidência do Bradesco. Para o atual presidente da CNseg, sua missão na entidade foi cumprida, embora admita que a aquisição do banco inglês vai exigir mais do seu dia a dia. Causou surpresa, para alguns, a possibilidade de Costa, da HDI, assumir a FenSeg já que sempre foi tido como um executivo discreto, o que o mercado chama de low profile, ou seja, aquele que prefere ficar nos bastidores.

 

evento | 7ª Conseguro

Evolução do mercado em pauta

Em evento promovido pela CNseg, autoridades traçaram o futuro e os desafios do segmento. Especialistas nacionais e internacionais se apresentaram em uma série de palestras

A CNseg promoveu, de 15 a 17 de setembro, a 7ª Conseguro. Realizado em São Paulo, o encontro reuniu especialistas do mercado e autoridades do setor e, ainda, mais alguns eventos paralelos: Seminário de Controles Internos & Compliance, 5ª Conferência de Proteção do Consumidor de Seguros, 4º Encontro Nacional de Atuários e o Seminário de Distribuição de Seguros.

O presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi, assegurou que a crise econômica não deve reduzir o otimismo do segmento, tanto que a expectativa de crescimento para este ano continua na casa dos 12%. O cenário será mais desafiador em 2016, mas não impedirá que o percentual se mantenha ou até mesmo evolua. O executivo atribuiu o otimismo à oferta de novos produtos e às novas formas de comercialização, mas não deu mais detalhes. As projeções completas serão apresentadas pela Confederação em novembro deste ano.

Por sua vez, o secretário de Política de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social, Jaime Marins, disse que surgirá um mercado estimado em R$ 20 bilhões para empresas do setor que explorarem o nicho formado pelos fundos de pensão. Sobre este assunto, o superintendente da Susep, Roberto Westeberger, declarou que os primeiros seguros com coberturas dos riscos de longevidade voltados aos fundos de pensão podem ser lançados já no próximo ano. O desenvolvimento deste tipo de seguro foi alinhavado pela Superintendência em conjunto com a Previc, órgão regulador dos fundos de pensão.

“Governo quer ouvir o mercado”

Na visão de Armando Vergilio, presidente da Fenacor, o ramo de seguros tem capacidade para contribuir ainda mais nos momentos de crise e poderia auxiliar, por exemplo, na geração de poupança de longo prazo e de empregos e para o aumento da arrecadação de impostos. Mas, segundo ele, a atenção do governo dada ao segmento não é adequada.

“Refiro-me a quem passou por ali nos últimos anos e suas equipes, para os quais o setor de seguros, por crescer na faixa de dois dígitos há mais de uma década, não precisa de atenção”. Vergilio acredita que, caso contrário, o rebaixamento da nota de crédito do Brasil também poderia ser evitado, uma vez que a capacidade de o País cumprir suas obrigações estaria assegurada.

O presidente da Fenacor citou duas propostas que enfrentam resistências no governo: uma do deputado Lucas Vergilio, aprovada recentemente pela Câmara e que regulamenta o VGBL Saúde; e a Lei do Desmonte.

Em resposta, Westenberger – repre¬sentando também o ministro da Fazenda, Joaquim Levy – declarou que o governo atual está disposto e quer ouvir o segmento, mas deseja que a área demonstre uma mudança de paradigma no que diz respeito às questões estruturais. Nomeado coordenador informal do processo de consultas ao setor após uma reunião em Brasília, o superintendente da Susep garantiu que as demandas do segmento já foram anotadas e que o seguro de garantia para grandes obras é visto com bons olhos pelo governo. “A intenção do Poder Executivo é melhorar esse tipo de cobertura, para que esteja pronto para se mostrar como solução adequada quando o país retomar o processo de crescimento econômico”, destacou.

Outros pontos discutidos no encontro foram a instalação de um pólo de resseguro no Brasil, que passaria a ser um “hub” das operações desse segmento na América Latina; e a reforma na Previdência Social, incluindo a questão do seguro de acidentes de trabalho. “A Susep é contra a privatização total desse seguro. Mas podemos encontrar um meio termo”, finalizou Westenberger.

Segurança jurídica

O tema foi debatido por Rizatto Nunes, professor doutor da PUC, que vê a segurança jurídica como sinônimo de confiança. Ele lembrou que essa é uma das questões mais graves enfrentadas no Brasil e, para que seja resolvida, demanda trabalho conjunto entre empresas e cidadãos. “Quando a Constituição Federal completou 19 anos, já haviam sido criadas 3,6 milhões de normas jurídicas – incluindo portarias e circulares. Isto equivale a 21 normas editadas por dia”, ressaltou.

Além de afetar a quantidade, o grande volume de normas acarreta em consequências na qualidade da legislação, uma vez que ainda há ausência de leis mais claras e permanentes. “No Brasil, a interpretação das leis é exagerada, ampla e vaga. As nomas precisam ser escritas para que sejam interpretadas de maneira quase unívoca, que as pessoas entendam de fato o que elas querem dizer”, alertou Nunes.

Demografia e crescimento econômico

“O Brasil tem a característica de não fazer grandes reformas, mas de praticar microrreformas que, estruturadas, levam o País para a direção correta”, explicou Osvaldo do Nascimento, se referindo aos sistemas de previdência nacional.

O executivo comparou o sistema chileno com o sistema brasileiro, observando que enquanto no Chile houve uma mudança de sistema público para privado, o Brasil apostou em uma combinação da previdência pública, complementar e dos fundos de pensão. Em conjunto, as reservas somam R$ 1 trilhão.

Após passar por duas reformas, agora o sistema brasileiro de previdência social privada esbarra na necessidade de mais uma mudança. O setor já tem outra proposta com relação ao sistema que julga mais adequado ao País, baseada em três pilares: previdência social extensiva a todos, previdência complementar obrigatória instituída pelas empresas para os funcionários, e previdência opcional, que já existe em termos de mercado.

Chefe de pesquisas em demografia e pensões globais do Credit Suisse de Londres, Amlan Roy explicou como a demografia pode interferir nos sistemas. “As pessoas estão trabalhando mais em países ricos e pobres. 43 governos já mudaram a idade mínima da aposentadoria, que deveria ser flexibilizada com a perspectiva de vida de acordo com cada região”, disse, completando que, assim como a Rússia, o Brasil caminha para o envelhecimento precoce antes mesmo de se tornar rico.

Já Richard Jackson, fundador-presidente do Global Aging Institute (GAI), projeta que até a metade do século XXI, em média 25% da população mundial seja de idosos, sendo o Japão a abrigar a maioria deles. No período, México e Estados Unidos terão a mesma idade, assim como Brasil e China.

“À medida que esses países envelhecerem, começarão a se confrontar com muitos dos desafios que as nações desenvolvidas já enfrentam”, pontou Jackson. Para ele, o caminho será adotar um sistema de capitalização. “Em sistemas de repartição, o custo é maior e pode dobrar, triplicar ou até quadruplicar nos próximos 30 anos”.

Com a diminuição das taxas de natalidade e o aumento da expectativa de vida, o sistema não será sustentável e precisará de mudanças efetivas. “Há uma necessidade de se reduzir a generosidade do sistema de previdência em repartição simples e de se aumentar as contribuições individuais na previdência privada”.

Riscos especiais

Até que ponto o mercado de seguros está engajado nos riscos ambientais, sociais e econômicos? “Tem tanta novidade excluída do futuro de 20 anos atrás que hoje mal conseguimos lidar com isso analiticamente. Nossos métodos estão ficando para trás e nosso futuro tem que ser transformado como cenário potencial a cada dia”, enfatizou Moacyr Duarte, professor doutor e pesquisador da Coppe/UFRJ e engenheiro especialista em gerenciamento de riscos com forte atuação em eventos no Rio de Janeiro (como a tragédia na região serrana, em 2011).

Sobre as catástrofes naturais, o CFO e COO da Terra Brasis Resseguros, Rodrigo Botti, defendeu que a exposição brasileira a esses eventos não deveria ser um risco emergente, mas conhecido. “Enquanto as tempestades e os terremotos são globais, no Brasil os riscos se restringem à seca e inundação: um desafio a mais, pois grande parte da tecnologia é voltada aos eventos frequentes”. Assim, Botti destacou a importância de o mercado nacional desenvolver produtos específicos para essas necessidades.

Para a diretora do Ministério do Meio Ambiente, Raquel Breda, um risco já não se limita mais a sua própria área. Por isso, é importante que as empresas, principalmente aquelas voltadas ao setor de seguros, que não só analisem os riscos como também os mitiguem.

A saúde em várias palestras

O tema saúde esteve presente em diferentes eventos e em várias nuances. O especialista do Dartmouth Institute, Elliot Fischer, falou sobre os problemas do plano de saúde estabelecido pelo ObamaCare, que estão ligados à gestão do sistema e ao controle dos gastos. Em outro momento, durante o 4º ENA, Jay Olshansky, professor da Universidade de Chigado, mostrou que a longevidade não pode ir além dos limites biológicos de nosso corpo.

Na Conferência de Proteção ao Consumidor, o debate aconteceu em torno da Judicialização da Saúde, que foi considerada como um problema de todos pelo juiz João Galhardo, do Tribunal de Justiça de São Paulo. “O Conselho Nacional de Justiça, preocupado com a judicialização da saúde, levantou que há 400 mil processos em andamento, envolvendo questões de saúde”, exemplificou para acrescentar que “os juízes precisam se especializar numa área que eles não conhecem contando com o apoio de técnicos”.

 

riscos cibernéticos | por Andrea Kotter e Andreas Moser*

Complexos e com consequências devastadoras

A atual conectividade digital modificou radicalmente nossa vida. As conexões na internet permitem efetivamente acessar dados, sistemas e organizações inteiras em âmbito mundial. No entanto, o lado negativo é que estas conexões podem também levar a perdas crescentes, na medida em que os riscos aumentam com interações mais intensas na rede. O crime cibernético – atos criminosos cometidos via internet visando a ganhos financeiros, políticos ou espionagem – representa um risco que não podemos nos dar ao luxo de ignorar.

A gama e complexidade dos incidentes cibernéticos são enormes: de um único laptop perdido até o nível de violação sofrido pela Sony, TJX, Target ou eBay. Com frequência, inicialmente estes incidentes não são detectados pelas próprias vítimas, sendo que as companhias, muitas vezes, ficam sabendo do ataque cibernético apenas quando notificadas pelas autoridades ou quando alguma atividade incomum é verificada nas contas dos clientes. Muitas das violações de grande magnitude parecem ter sido divulgadas em blogs antes das notificações formais das companhias. Ataques de malware não são problemas apenas de grandes varejistas, embora sejam certamente um alvo lucrativo para os criminosos cibernéticos.

As pequenas e médias empresas também correm risco, como deixou claro uma violação sofrida pela Staysure Insurance UK. A Staysure, companhia especializada em produtos de seguro de viagem para pessoas com mais de 50 anos, precisou entrar em contato com 93.389 clientes depois do ataque. A seguradora acreditava que os hackers provavelmente haviam roubado números de código secretos dos cartões dos detentores de apólices. Felizmente, a companhia conseguiu declarar publicamente que tinha cobertura de seguro apropriada, o que permitiu que tratasse a violação de maneira efetiva e informasse prontamente todas as autoridades competentes.

Em escala global, a maior parte das vítimas descobriu a violação do eBay por meio da cobertura da mídia, com informações no site da companhia em seguida. O eBay solicitou que 233 milhões de clientes trocassem as senhas. A varejista online afirmou categoricamente que nenhum dado financeiro havia sido furtado, mas poderia haver riscos aos clientes que usam as mesmas senhas em múltiplos sites. As informações furtadas eram de grande valor, pois incluíam endereços postais, endereços de e-mail, números de telefone e datas de nascimento. Os riscos não se limitam à internet, pois uma série de empresas usa endereço e data de nascimento no processo de confirmação em seus serviços bancários por telefone.

Custos dos riscos cibernéticos

Em consequência de um ataque cibernético, as companhias se deparam com custos consideráveis. Por exemplo:

– Interrupção de negócios: Enquanto os sistemas estão indisponíveis interna e externamente são incorridos custos pela perda de negócios. Os valores envolvidos dependem do tempo necessário para restaurar os sistemas ou realizar investigações criminais;

– Danos a terceiros: Este aspecto é importante, particularmente, na atuação dos tribunais dos EUA. Tendo em vista a alta exposição da responsabilidade civil, as companhias devem cumprir os requisitos legais em todas as circunstâncias – mesmo que apenas por precaução contra processos jurídicos por parte dos clientes e ações coletivas com sinistros de indenização potencialmente exorbitante;

– Custos judiciais: Os custos judiciais não devem ser subestimados. Custos de defesa e indenizações por danos morais podem ser extremamente elevados. Incluem honorários advocatícios, não apenas para a defesa, mas também pelos esforços para manter a questão fora dos tribunais, assim como custos de análises jurídicas da situação e recomendações sobre o procedimento correto;

– Outros custos: Incluem custos para resguardar sua reputação; notificação e restauração do sistema, assim como custos de investigações forenses. Após um ataque cibernético, maiores custos são incorridos com o trabalho de relações públicas e campanhas de publicidade destinadas a resgatar a reputação da companhia. Algumas seguradoras incluem um pacote de RP em suas coberturas de riscos de TI. No entanto, o risco de reputação deve ser visto como risco à parte e deve ser desenvolvida uma solução especial de seguro para cobri-lo. A extorsão – atualmente uma indústria em crescimento, embora criminosa – poderá fazer disparar os custos ainda mais. Os criminosos cibernéticos procuram extorquir dinheiro das companhias em vários estágios: apenas devolvem as senhas, descriptografam servidores ou reestabelecem os serviços interrompidos quando um valor correspondente é pago. Na maior parte destes ataques, as companhias devem pagar os custos de investigações forenses.

Conjuntura legislativa

A conjuntura legislativa geral atualmente é complexa e incerta. Nos Estados Unidos, embora considerado na vanguarda do combate aos ataques cibernéticos de maior visibilidade, há também falta de uniformidade entre os vários estados. Muitos especificam sua definição de informações de identificação pessoal de forma diferente, e os resultados variam.

No cômputo geral, restam bons argumentos de que a perda de dados em si não constitui dano, salvo se forem oferecidas garantias específicas. Espera-se que isto continue a ser questionado pelos advogados dos reclamantes. A maioria dos estados norte-americanos possui requisitos obrigatórios de notificação de violação, mas existem menos similaridades na definição do que constitui violação.

A divulgação de informações sobre o estado de saúde é considerada um risco importante e penalidades específicas se aplicam à sua divulgação e publicação de forma incorreta, acarretando custos significativos aos provedores. Isto também enfatiza a necessidade de as companhias formarem parcerias com sofisticados e experientes provedores de serviços que podem ajudá-las a enfrentar tais complexidades.

Cada violação é diferente

Ataques profissionais

– Pirataria ou malware
– Phishing e pharming
– Violação intencional de informações (empregados, contratados)
– Fraude de cartões de crédito

Controles inadequados de segurança e acesso

– Detalhes do cartão não criptografados (código CVC)
– Uso simultâneo de mesmo log-in
– Falha na atualização de sistemas

Perdas em trânsito

– Envio de fitas de back-up para armazenamento
– Transferência de equipamentos
– Descarte inadequado (papel, lixo eletrônico)

Contratempos

– Divulgação não intencional
– Perda ou furto de equipamentos portáteis
– Furto de equipamentos fixos
– Dados transferidos para o equipamento do empregado

* Andrea Kotter, Underwriter Casualty Treaty, e Andreas Moser, Head of Client Management Latin America South, ambos da Munich Re

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