Ultima atualização 31 de outubro

Prevenção é fundamental para mitigar riscos de incêndio em armazéns

Caso de armazém com estoque de açúcar incendiado mostra a importância do gerenciamento de riscos e da preparação que as empresas devem ter para se recuperarem rápido
Foto de Jonas Parente / O Regional

Quase uma semana após um incêndio ter atingido um armazém que guardava açúcar em Santa Adélia, interior de São Paulo, a empresa responsável pelo local, a Agrovia, já começa a calcular os prejuízos. As primeiras estimativas dão conta de US$ 11,4 milhões (ou R$ 24,8 milhões). O valor considera a perda de 28 mil toneladas armazenadas no terminal 2, onde o fogo teve início, e os preços do contrato de primeiro vencimento (março) de açúcar negociado no mercado futuro da Bolsa de Nova York na terça-feira, 29.

Até o fechamento desta matéria, técnicos da seguradora contratada pela empresa ainda faziam o levantamento da área atingida pelo incêndio. Além dos prejuízos econômicos, há os ambientais. Isso porque parte do açúcar que pegou fogo – de 200 a 300 toneladas – foram parar no leito do rio São Domingos, que nasce em Santa Adélia e corta os municípios de Pindorama, Catanduva, Catiguá e Uchoa, até chegar ao rio Turvo, segundo nota da Companhia de Tecnologia e S

aneamento Ambiental (Cetesb).

Houve, ainda, prejuízos sociais, uma vez que pelo menos 17 pessoas, de quatro famílias, precisaram sair de seus lares devido ao risco do açúcar queimado, que formou uma “cachoeira de caramelo”, invadir suas casas.

A Agrovia noticiou que o seguro contratado pela empresa cobrirá os prejuízos com a poluição do rio, os danos provocados nas galerias e vias públicas e as casas dos moradores afetados.

O fogo começou após uma faísca na esteira de movimentação de cargas. O corretor Álvaro Dabus, da Comissão de Riscos Patrimoniais do Sincor-SP, explica que o principal risco na estocagem do açúcar é a “explosão de pó de açúcar”, caracterizado quando o material está em suspensão e ocorre atrito, podendo ser fonte de explosão. “Gera um dano grande. Por isso o combate é difícil”, relata o profissional, que tem experiência de mais de 30 anos em comercializar seguros para empresas do ramo sucroalcooleiro.

Segundo ele, o mercado está acostumado a aceitar esse tipo de risco. “Não é um risco declinável”, informa. O que as seguradoras levam em conta ao subscrever o risco é observar se os sistemas de proteção são suficientes em caso de emergência. Por exemplo: se as esteiras transportadoras que levam o açúcar para o armazém estão em bom estado, se a manutenção é constante, se há maquinas no local, como é a estocagem, se o material é a granel etc.

Dabus opina que para fazer seguro para este ramo no Brasil a maioria dos corretores “não especialistas” leva em conta para calcular a cobertura apenas as perdas materiais, deixando de lado a contratação do seguro de responsabilidade civil. Esta proteção é importante, pois garante o cuidado com terceiros afetados pelos danos. Neste caso, o problema foi que o açúcar derreteu e este “caramelo” ultrapassou o terreno onde estava armazenado, invadindo a rua e casas de vizinhos. “Cabe ao corretor alertar o cliente não só sobre as perdas materiais, mas outros tipos de perdas também, como lucros cessantes, pelo período em que o local estiver paralisado”, alerta o corretor. Ele observa ainda que, caso o armazém guarde mercadoria de terceiros, produtos de vários donos, deve informar isso à seguradora para não ter o sinistro negado.

O diretor executivo técnico corporate da Tokio Marine, Felipe Smith, lista os seguros básicos que podem ser contratados para amenizar os danos causados neste caso: “Seguro Patrimonial para garantir os bens da empresa; Seguro de Responsabilidade Civil Geral para indenizar eventuais terceiros atingidos pelo uso, existência e conservação da empresa; Seguros de Vida e Acidentes Pessoais para proteger os funcionários”, diz.

Marcos Mendonça de Mello, diretor técnico da corretora JLT, acrescenta outros riscos aos quais os armazéns estão expostos: contaminação do subsolo e rios, perda de receita, e danos à imagem e à saúde da população e dos funcionários – o que, neste último item, pode elevar a sinistralidade do seguro saúde, uma vez que pode concentrar a despesa hospitalar em um único momento. A cobertura para lucros cessantes poderia, inclusive, garantir a perda de receita de alguma empresa vizinha que tivesse suas operações paralisadas em consequência dos danos gerados, como, por exemplo, se utilizasse a água do rio contaminado pelo açúcar queimado, exemplifica executivo. “São danos que fogem muito do seguro tradicional de incêndio”, indica.

Na análise de Mello, os seguros D&O e de responsabilidade civil ambiental também são interessantes para empresas desse ramo. “O RC ambiental evoluiu muito nos últimos anos. É o ramo no qual ocorreram os maiores passivos nos últimos sinistros que vimos”, relata. O RC ambiental, segundo ele, cobre a poluição súbita, descontaminação e lucros cessantes.

Mas, apesar de existirem formas de minimizar os danos ocorridos, o mais importante é a prevenção para que eles não aconteçam. Mello relata que a corretora já tem na sua carteira clientes deste ramo, com apólices de seguro já concretizadas, e outros clientes em fase de implantação do gerenciamento de riscos.

Roberto Zegarra, especialista em gestão da continuidade de negócios da corretora Marsh, concorda que a prevenção é a melhor forma de minimizar os danos. Ao implementar o gerenciamento de riscos, o ideal é já formatar também um plano de recuperação de desastres, caso alguma coisa dê errado.

O planejamento inclui três fases: análise de risco, como responder se der algo errado e de que forma se recuperar para o negócio voltar a operar, além de definir como responder à sociedade que foi afetada, governo e clientes.

É importante também ser transparente no que está sendo feito para minimizar os danos. “A empresa precisa se preocupar em se comunicar efetivamente com o público externo e a imprensa. É ela quem tem que dar o primeiro passo e explicar o que está ocorrendo e mostrar quais medidas está tomando. Porque às vezes a empresa tem um plano correto, mas, ao não divulgar as ações de forma transparente, impede a imprensa e a população saber disso e, consequentemente, eles só veem os impactos negativos”, analisa Luis Fiore, gerente da área de risk advisory da BDO, empresa de auditoria.

Zegarra, da Marsh, ressalta que hoje as empresas estão muito focadas no operacional, nos resultados, e acabam esquecendo suas vulnerabilidades. “Quando pergunto nas empresas quem é o responsável pelos riscos, sempre apontam poucas pessoas. Agora, quando pergunto quem é o responsável pelos resultados, todos respondem. Essa tem que ser a mentalidade em relação aos riscos também”, sugere.

Jamille Niero / Revista Apólice

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