Ultima atualização 14 de agosto

Crise econômica pode tornar seguro de crédito mais atrativo a empresas brasileiras

Segundo Manuel Alves, presidente da CesceBrasil, seguradoras que operam neste ramo devem reconhecer características do mercado brasileiro e se adaptarem a ele

É provável que a procura pelo seguro de crédito tradicional seja bastante influenciada pela crise econômica, mesmo que essa crise não tenha indicadores muito concretos, analisa o presidente da CesceBrasil, Manuel Alves. De acordo com ele, o endividamento das empresas no Brasil é relativamente baixo, em comparação à média mundial, embora o endividamento das pessoas já esteja em um nível razoável. Com isso, diz, o aumento de riscos de não-pagamento está em torno de 15% ao longo deste ano.

Segundo levantamento da consultoria Serasa Experian divulgado no final de abril, o nível de inadimplência das empresas teve queda de 3,9% em março na comparação com igual período de 2012. Em relação a fevereiro, no entanto, o indicador apresentou alta de 8%. Já no acumulado do ano, foi registrado um leve acréscimo de 0,1% na comparação com os três primeiros meses de 2012.

Já o percentual de famílias endividadas chegou a 64,3% em maio, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) reunidos na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). O índice registrado em maio é superior ao de abril, quando o percentual alcançou 62,9%. As dívidas englobam cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.

“Mas existe já uma percepção de que o risco é mais elevado e as empresas estão empenhadas em procurar o seguro de crédito”, diz o executivo.

No entanto, é preciso considerar que a carteira de seguro de crédito no Brasil é muito pequena. Apenas 500 empresas possuem, hoje, apólices de seguro de crédito.

“Por isso não dá para considerar a estabilidade estatística. O risco pode estar concentrado em um determinado setor e esse setor tiver, por algum motivo, um aumento da inadimplência, os números são imediatamente afetados. O movimento ainda pode estar concentrado em um grande cliente ou em um único conjunto de empresas que vendem em uma determinada região. É muito difícil no Brasil analisar a dimensão do seguro de crédito para falar em um comportamento estatístico”, relata Alves.

Além disso, a venda do seguro de crédito é realizada mais de forma ativa do que receptiva, ou seja, raramente as empresas procuram contratar o seguro de crédito. Geralmente as empresas contratantes é quem costumam receber visitas das seguradoras e corretores do ramo. “O que ocorreu a partir da ampliação do cenário de crise econômica foi a mudança postura das empresas, que estão mais dispostas a ouvir sobre o seguro de crédito”, avalia Alves.

O problema é que como o seguro de crédito torna-se mais “atrativo” para as empresas em períodos de crise econômica, por ser uma alternativa a reduzir prejuízos derivados da falta de pagamento de clientes, a oferta do seguro de crédito acaba ficando mais restritiva. “O seguro de crédito tradicional tem uma característica que é a forma como as companhias compensam os sinistros que possam ter. Ao contrário dos outros setores de atividade, primeiro fixam o preço e depois é que sabem o custo. Nas outras atividades, já se sabe o custo e o preço é fixado em função do mercado. Nós temos que fixar o preço antes de saber qual será o custo final”, observa o executivo. Por isso, quando ocorre uma situação de crise, a companhia de seguros já tem o preço definido e ficará mais exposta. Logo, a sua tendência é retirar coberturas para manter sua rentabilidade. “Foi o que aconteceu no período da crise entre 2008 e 2009: as seguradoras tiveram que retirar coberturas para reduzir os custos dos sinistros e, dessa maneira, compensar através do valor dos prêmios já fixados”, comenta.

O seguro de crédito existe no Brasil há 20 anos e, nesse período, o mundo já passou por várias crises. “E não foi isso que fez com que o seguro de crédito se desenvolvesse no Brasil”, considera Alves.

A maioria das empresas brasileiras que poderiam contratar o seguro de crédito ainda considera esta proteção uma despesa dispensável. “Acho que algumas têm razão. Porque o seguro de crédito tradicional, como tem sido visto até agora, é tão rígido que não está adaptado às circunstâncias de um mercado como o brasileiro. Até agora as seguradoras de crédito trouxeram um modelo, que na Europa teve seu potencial atingido nos últimos 80 anos. Mas no Brasil tem uma economia com características diferentes”, analisa.

O executivo reconhece que as seguradoras têm feito pouco para aumentar o conhecimento sobre o seguro de crédito e as vendas deste produto. O ideal, segundo ele, é que o seguro de crédito torne-se mais flexível e eficaz ao longo do tempo.

Jamille Niero / Revista Apólice

 

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Ads Blocker Detected!!!

We have detected that you are using extensions to block ads. Please support us by disabling these ads blocker.

Powered By
Best Wordpress Adblock Detecting Plugin | CHP Adblock