Ultima atualização 21 de agosto

Como mitigar os riscos de catástrofes naturais?

Governo, resseguradora e entidades começam a avaliar a importância do seguro para prevenção e diminuição de perdas por inundações
Enchente em Teresópolis (RJ) em 2011/Foto de Daniel Marenco/Folhapress
Enchente em Teresópolis (RJ) em 2011/Foto de Daniel Marenco/Folhapress
Enchente em Teresópolis (RJ) em 2011/Foto de Daniel Marenco/Folhapress

Em qualquer país do mundo há risco de inundações. Mas o Brasil tem um risco ainda maior. Estima-se que a população exposta a inundações no país hoje seja de 33 milhões de pessoas e deve saltar para 43 milhões até 2030. As perdas relacionadas a esse tipo de catástrofe, que hoje somam US$ 1,4 bilhão, devem subir para US$ 4 bilhões no mesmo período. Os estados das regiões sul, sudeste e nordeste podem ser os mais afetados. Os gastos com inundações crescem 12% anualmente e esse tipo de sinistro já cresce mais do que o PIB mundial.
O governo brasileiro precisa reavaliar a maneira como lida com esse tipo de acontecimento e, para isso, deve contar com empresas especializadas que se proponham a participar na mitigação desses riscos. Apostar em prevenção, adaptação e transferência de riscos pode fazer com que o Brasil evite que catástrofes desviem a rota de seu desenvolvimento econômico.
O rápido crescimento da população urbana afeta diretamente a possibilidade de inundações e deslizes de terras, que ocasionam graves acidentes e muitas mortes. Anualmente, 120 vidas são ceifadas no Brasil por conta desses eventos climáticos.

Sabendo a importância da transferência de riscos, a Swiss Re desenvolveu soluções para agir diretamente com as empresas que possuem maior probabilidade de sofrer com esses eventos e, em maior escala, agir também ao lado dos governantes para que a população como um todo possa estar segura.
Os projetos que poderiam ser implantados no Brasil foram apresentados pela companhia no último dia 20, em evento realizado em parceria com a CNseg.
David Stevens, assessor de programas sênior do Centro de Excelência para a Redução do Risco de Desastres – realizado em parceria com a ONU -, apresentou as necessidades sociopolíticas do Brasil frente aos desafios que o país enfrenta. Segundo Stevens, “existem dois tipo de Brasil com realidades diferentes”. Isso porque enquanto o país cresce ainda existem muitas desigualdades sociais e há um número grande de pessoas expostas aos mais diversos riscos. Stevens afirma que cada cidadão também é responsável pelos riscos.

Pessoas diversas operando por uma causa comum, como cuidados com o meio ambiente ou gerenciamento de construções, por exemplo, ajudam a minimizar os impactos, mas para que isso ocorra, cada um deve atuar em sua esfera.
Outro problema no Brasil que preocupa os especialistas é a falta de dados. Para haver uma gestão correta dos riscos é necessário que existam informações suficientes para avaliar as áreas que são mais afetadas e procurar soluções adequadas para cada uma delas.

2015 será o ano para avaliar as resoluções do milênio, acordadas com a ONU,  e pode servir também para que essas necessidades crescentes sejam reavaliadas e a rota das melhorias redefinida.

Por isso, os BRIC’s, que apresentam ganho de força econômica com o desafio de crescer diante dessas metas, estão cada vez mais atuantes no mercado internacional.

Produto
O grande desafio para o mercado segurador nesse contexto é desfazer a propensão à anti-seleção. Isto é, pessoas que adquirem o seguro para inundações o fazem porque têm certeza que o risco existe e ameaça seu patrimônio, mas quem pensa que não tem risco deixa de comprar e acaba se tornando vulnerável, já que nenhum local é 100% seguro quando se trata desses acontecimentos. Esse tipo de postura também ocorre nas negociações com o governo.
Para minimizar esse distanciamento, a solução encontrada pela resseguradora é desenhar um produto que procura se adequar aos diferentes tipos de risco. A ideia é que, com base em inúmeros dados que deverão ser fornecidos, seja possível mapear todas as áreas e classificá-las de acordo com maior ou menor grau de risco. Então é definido o prêmio que os contratantes deverão pagar ao contratar a apólice. Isso torna o produto mais justo e mais acessível e procura cobrir todos os riscos.
Além disso, seria possível estabelecer um “gatilho” no momento da contratação. Por exemplo, se ao analisar o risco de uma área sabe-se que ocorrem inundações a partir de 75 mm de chuva em 72 horas ou menos, assim que esse quadro ocorre o seguro libera a indenização automaticamente, sem necessidade de mais avaliações, pois o serviço para a população precisa ser rápido. É possível definir também se a indenização será crescente, sendo liberada de acordo com o nível de perdas até um limite máximo estipulado.

Revisão de valores e prevenção
A imprevisibilidade de catástrofes naturais pede que investimentos em prevenção sejam cada vez mais levados em conta. Embora essa noção pareça algo claro a ser feito, culturalmente ainda é muito difícil que as pessoas entendam a importância de contar com o setor privado na segurança. Mesmo que, perante a constituição, os governos sejam os responsáveis em momentos de catástrofe, isso não impede que atuem ao lado de empresas privadas que pretendem assumir esses riscos, como quer a Swiss Re. “Os benefícios da prevenção são os desastres que não acontecem”, afirma Stevens. Isso dá uma amostra do motivo da dificuldade em investir em algo que pode não parecer concreto, mas que traz alívio quando é necessário.
Atualmente, a penetração de seguros no ramo não-vida no Brasil é baixa (3% em 2008), especialmente quando se trata de catástrofes naturais. Claudia Melo, global partnerships da Swiss Re, identifica as consequências dessa realidade. “Existe um gap que alguém vai ter que pagar, e esse alguém é o governo, que vai tirar dinheiro de algum lugar (do imposto, da saúde, ou da educação) e investir nas perdas. Ou ele vai trabalhar com mecanismos de proteção de transferência risco”, explicou.
Em avaliações realizadas até 2010, apenas 10% dos gastos com perdas por catástrofes naturais foram em prevenção. Isso significa que 90% foi utilizado em medidas imediatas, e que grande parte poderia ter sido evitada se houvesse alguma outra forma de proteção.
Mas aos poucos a mentalidade brasileira parece mudar. O governo atual já percebe que algo precisa ser feito e as negociações para uma futura parceria começam a engatinhar. Uma boa tática de negociação a ser utilizada é a ação local, que deverá se expandir. Para um país grande como o Brasil, o ocorrido em uma cidade pode não gerar, numericamente, grandes perdas, mas para o município em si pode ser um evento de grande impacto. Por isso, é preciso trazer à tona esse impacto e demonstrar efetivamente como isso afeta a vida das pessoas em escala federal.
Neival Rodrigues Freitas, diretor executivo da Fenseg, afirma que as entidades do mercado segurador estão prontas para ajudar na mediação do acordo entre companhias e governo, desempenhando um papel fundamental no diálogo que ainda precisa ser aprimorado. “O risco de inundação é uma preocupação constante, primeiro pelas vidas perdidas, depois pelos prejuízos materiais, que podem ser minimizados através de uma adequada colocação do mercado segurador”, destacou.
Para que o acordo seja realizado, é necessário que as empresas possuam informações consistentes, formando um banco de dados sólidos.
Freitas é otimista em relação ao projeto. “Em algumas áreas do governo acredito que a resposta será rápida. Já em outras, há a preocupação quanto a aspectos legais, como o que é permitido, por exemplo, aos governos municipais para a contratação de seguro. Teremos que criar uma cultura junto ao governo para a mitigação desses riscos, mas é um trabalho importante e que tem que ser feito. O resultado deve vir a médio e longo prazo”, finaliza Freitas.

Amanda Cruz / Revista Apólice

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