Ultima atualização 15 de julho

Ciclistas e motoristas não encontram condições favoráveis para trafegarem de forma segura e civilizada

Por Eduardo Meirelles*

Já diz o ditado: é sempre necessário olhar os dois lados da moeda. Se por um lado, ciclistas reclamam da falta de segurança e atenção dos motoristas no trânsito, por outro, os motoristas ainda precisam se adaptar com a presença de ciclistas, principalmente tratando-se de motoristas de ônibus e caminhoneiros, que muitas vezes são submetidos à condições de trabalho indevidas e não possuem o devido preparo. Mesmo que opostos, esses dois lados possuem uma coisa em comum: a falta de condições favoráveis para que todos consigam trafegar de forma segura e civilizada no trânsito.

Para se ter uma ideia do aumento no número de ciclistas mortos no trânsito da cidade de São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) divulgou no início de 2013, uma pesquisa que aponta um crescimento de 6% de ocorrências no ano passado, em comparação à 2011. No total 49 ciclistas perderam a vida em 2011, contra 52 ao longo de 2012. Outras regiões do Brasil também registram altos índices, principalmente o Rio de Janeiro, que possui a maior malha cicloviária do país, com 305 quilômetros de ciclovias e ciclopistas.
A causa é nobre. As bicicletas significam um transporte alternativo, econômico e sustentável e algumas medidas já foram tomadas pelo governo para tornar este transporte viável. Na capital paulista, por exemplo, ciclovias, como a da marginal do rio Pinheiros, já foram construídas, porém ainda são insuficientes diante do tamanho da cidade e não há sinalização nem integração dessas ciclovias com estações de trens e metrôs. Outros grandes problemas também norteiam a vida dos ciclistas, principalmente quando há a ausência de uma ciclovia: falta de respeito por parte dos motoristas, buracos, ausência de recapeamento, carros parados em fila dupla e veículos em alta velocidade.
Em paralelo às dificuldades enfrentadas pelos ciclistas está a dos motoristas em adaptarem-se à condição de dividir as vias com bicicletas. Trata-se de uma mudança comportamental que não se faz, apenas, com campanhas educativas. São condicionamentos adquiridos em anos de atividade.  Os motoristas de ônibus das grandes cidades, considerados por muitas pessoas os grandes vilões nos recentes acidentes com ciclistas, além da necessidade de mudança do condicionamento citado acima, enfrentam o excesso de trabalho, as duplas jornadas, o acúmulo de funções (muitos são motoristas e cobradores), as metas de produtividade, o desrespeito ao descanso semanal, os poucos e inadequados locais para descanso, a falta de tempo para alimentação e a  infraestrutura inadequada nas estradas, ruas e rodovias. Todos os fatores contribuem para que ciclistas dividam espaço com motoristas estressados, cansados e desatentos.
Não é só o Brasil que enfrenta tantos obstáculos para viabilizar o uso da bicicleta, porém já é possível avaliar quais são as cidades referência e segui-las como exemplo. De acordo com o ranking do ano passado da empresa dinamarquesa Copenhagenize, que elegeu as 20 melhores cidades do mundo para se andar de bicicleta, Amsterdã é a maior referência mundial. Na sequencia estão Copenhague, Barcelona, Tóquio e Berlim. Segundo os dados da prefeitura de Copenhague, no centro da cidade, 55% das pessoas usam a bicicleta como meio de transporte, o que deixa em segundo plano o transporte público (22%) e o transporte privado (11%). As ciclovias somam 350km de asfalto na capital e, claro, há semáforos exclusivos para os ciclistas. O ranking foi elaborado com base em uma pesquisa que colheu informações de 80 cidades durante seis meses.
No Brasil a popularização da bicicleta já é uma tendência. A  Associação Brasileira dos Fabricantes, Distribuidores e Exportadores e Importadores de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi), divulgou uma pesquisa que mostra que apesar da venda de bicicletas no país se manter na faixa de 5 milhões de unidades desde 2006, há um potencial crescimento de 8 milhões de unidades ao ano.
Já existem milhares de iniciativas que incentivam o uso da bicicleta. Campanhas, manifestações e palestras ocorrem frequentemente, orientando inclusive os ciclistas sobre como ter uma direção defensiva, como pedalar melhor, ter educação no trânsito e até quais as bicicletas mais adequadas. Leis como a que obriga prédios residenciais e comerciais que estão sendo construídos ou reformados a reservar pelo menos 5% das vagas para bicicletas também já estão sendo implementadas.  Mas ainda há muito por fazer e é necessário que o governo, o poder legislativo e as instituições privadas tenham um olhar mais aprofundado e ouçam todos os lados envolvidos, motoristas, caminhoneiros, motociclistas e ciclistas, para a partir daí realizar mudanças. Isso porque não só a vida dos ciclistas está em jogo, mas o atual sistema de trânsito e viário precisam ser revistos.

 

*Pós-graduado em engenharia de segurança pela UFRJ, Eduardo já participou da elaboração de normas técnicas relativas à proteção do meio ambiente pela ABNT, foi sócio diretor de uma empresa da área de logística. E atualmente ocupa a Gerencia de Pesquisas & Desenvolvimento da 3T Systems.

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