Ultima atualização 28 de junho

Sustentabilidade ganha espaço nos negócios

Atualmente mais de 52% das empresas brasileiras possuem departamentos dedicados exclusivamente ao tema e muitas já divulgam relatórios a fim de mostrar suas ações

“Sustentabilidade, entendida no ambiente corporativo como fator estratégico para a sobrevivência dos negócios, é bem mais que um princípio de gestão ou uma nova onda de conceitos abstratos. Representa um conjunto de valores e práticas que deve ser incorporado ao posicionamento estratégico das empresas para definir posturas, permear relações e orientar escolhas. Só depois se espera que esteja presente nos discursos proferidos pelos porta-vozes”. Resumindo esse conceito, elaborado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), para que a sustentabilidade empresarial realmente exista, e seja eficiente, a palavra de ordem é ação. São essas ações, devidamente incorporadas à gestão da empresa, que diferem uma companhia, de fato, sustentável de uma “greenwashing” (“maquiagem verde”, na tradução literal) — que são as instituições que se preocupam apenas em passar a imagem de uma organização ecologicamente correta, ou seja, a postura sustentável está apenas em sua fachada, não em seu cerne. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope Ambiental, 52% das empresas brasileiras e multinacionais presentes no Brasil já possuem departamentos dedicados exclusivamente à sustentabilidade. E quais devem ser as principais iniciativas desses departamentos?

Segundo Cláudio Andrade, consultor da Rellato e coordenador de pós-graduação em Indicadores para Sustentabilidade no Senac, se há a clara intenção da empresa em criar um departamento de sustentabilidade, o líder precisa ter em mente que ela demandará investimentos. O segundo ponto é formar um comitê com outras áreas da empresa (a exemplo do RH, operação, vendas, financeiro, contabilidade, compras etc.) e

contratar um especialista para desenvolver uma cultura sustentável. “Logo após devem ser feitas operações comuns voltadas ao tema. Como, por exemplo, mapear os seus públicos, identificar os impactos que a organização causa no mundo (tanto positivos, como negativos), entender quais são os temas mais relevantes da empresa e os pontos que desafiam o seu setor. Desse modo a empresa vai mostrar sua capacidade de liderança e cidadania”, pontua Andrade.

Desde 2010, a Amil mantém uma diretoria exclusiva para tratar dos assuntos voltados à esse tema e em abril deste ano ela passou a integrar o Comitê Técnico de Sustentabilidade, ligado diretamente ao Conselho de Administração da Amilpar.

Segundo Odete de Freitas, diretora de sustentabilidade da companhia, o primeiro desafio para a adoção de práticas sustentáveis é o desconhecimento. “Temos investido bastante tempo em comunicação e educação. A visão predominante ainda é a de que a sustentabilidade veio tratar somente das questões ambientais. Temos sempre que possibilitar uma nova visão aos departamentos que, de fato, conhecem e comandam a função dentro da empresa”, afirma Odete.

O projeto Olimpíadas Amil Gerações, que foi criado em maio de 2011, é uma das principais ações da diretoria. Ele foi idealizado a partir de seis temas: Coleta Seletiva, Amil Gerando Arte, Voluntariado, Doação de Sangue, Feira de Troca e Colaborador A+. Em maio deste ano, a iniciativa recebeu o Prêmio LIF 2012 (categoria Público Interno), da Câmara de Comércio França-Brasil. A iniciativa destaca e estimula empresas que promovam ações em prol das pessoas, da sociedade, da sustentabilidade do planeta e dos negócios.

De acordo com Mirian Mesquita, responsável pela área de Responsabilidade Social e Ambiental da Porto Seguro, é muito importante que o departamento seja multidisciplinar. “Contamos com a participação de psicólogo, assistente social, engenheiro ambiental, pedagogo e advogado. Assim conseguimos enxergar nossas ações e projetos com um olhar mais especializado”, ressalta Mirian. Entre as ações da Porto estão coleta seletiva, que inclui pilhas, baterias, cartões e óleo de cozinha, gerenciamento de resíduos automotivos, controle de gases de efeito estufa e de emissões de carbono, capacitação profissional para moradores de diversos bairros da cidade de São Paulo, por meio da Casa Campos Elísios, entre outras. Segundo Mirian, para este ano a companhia irá focar ainda mais no desenvolvimento de produtos sustentáveis. “Vamos mirar na cadeia de negócios, por exemplo, como deixar o ramo de automóvel mais atrativo na questão socioambiental, olhar mais para a área de ramos elementares e oportunidades nos agronegócios”, expõe.

A equipe de responsabilidade social da Central Nacional Unimed foi criada há 13 anos e desenvolve mecanismos para indução de temas ligados à responsabilidade social empresarial e sustentabilidade na organização, entre eles gestão de compromissos institucionais (como o Pacto Global, Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o Global Reporting Initiative); gestão de recursos de Leis de Incentivo Fiscal (a exemplo da Lei Rouanet e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente); desenvolvimento de campanhas de consumo consciente tanto para o público interno, como externo; elaboração do Relatório de Sustentabilidade, entre outros. De acordo com Mohamad Akl, presidente da Central Nacional Unimed, a companhia realiza, anualmente, o Seminário Nacional Unimed de RS (Responsabilidade Social), onde os integrantes da equipe participam de reuniões, comitês e eventos voltados à atualização do tema, como a Conferência Internacional do Instituto Ethos, Congresso GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) e o Congresso CEBDS.

Relatórios

O inglês John Elkington, cofundador da organização não governamental internacional SustainAbility, criou, em 1994, o conceito “Triple Bottom Line”, ou “tripé da sustentabilidade”, que na perspectiva empresarial deve estar baseada de forma equilibrada em três dimensões: econômica, humana e ambiental. Segundo a superintendente de sustentabilidade da SulAmérica, Adriana Boscov, esse conceito começou a ser trabalhado nas empresas com mais ênfase somente a partir de 2000/2005. “No Brasil o movimento veio tarde (depois de 2005) com algumas exceções como a Natura – que hoje é benchmark, inclusive fora do Brasil. Muitas empresas ainda não entendem sustentabilidade como a sobrevivência do negócio em um mundo globalizado e como uma nova forma de produzir e atender os clientes. Se as empresas não olharem esses dois aspectos, poucas se sustentarão a longo prazo”, opina Adriana.

Para comunicar e transparecer as iniciativas realizadas com base nesse tripé, as companhias divulgam os Relatórios de Sustentabilidade. Uma pesquisa realizada pela consultoria KPMG, das 100 maiores empresas brasileiras, 88 reportam informações socioambientais, colocando o Brasil na 6ª posição entre os 34 países estudados – vale ressaltar que ainda não há uma exigência legal para a publicação de relatórios no Brasil. A importância do Relatório de Sustentabilidade também foi destacada pela ONU que, em maio deste ano, lançou a versão em português de um relatório com 56 recomendações para que o mundo avance em direção ao desenvolvimento sustentável. Entre elas está o indicador “Prestação de contas”, que propõe a obrigatoriedade da elaboração desses relatórios para empresas com valor de mercado acima de US$ 100 milhões.

Segundo o consultor da Rellato, consultoria que atua nos processos de gestão institucional e mercadológica integrada às práticas da sustentabilidade ambiental e responsabilidade social, o relatório é uma maneira de a empresa colocar à disposição de seu público interessado (os chamados stakeholders) o desempenho da companhia para transformar seus impactos em soluções positivas para o desenvolvimento do País. “Essa é uma peça de comunicação que serve para publicar o que a empresa faz de positivo e prestar contas e ter transparência dos pontos negativos, o impacto que causa na sociedade e como está caminhando para a solução disso. Mostrar a capacidade de resolver problemas gerados pela própria operação passa credibilidade à empresa”, explica Andrade. De acordo com o consultor, todas as áreas envolvidas na gestão estratégica da empresa devem participar de sua elaboração — desde o prestador de serviços à alta administração. Andrade destaca que a elaboração do relatório implica em um processo complexo e caso seja feito como uma ação pontual ele se transforma em uma peça publicitária. “O resultado é uma peça publicitária e de marketing, todavia ele é um mecanismo e uma ferramenta de gestão”, completa.

Atualmente o modelo de relatório da Global Reporting Initiative (GRI) é o que possui maior credibilidade no cenário internacional. A GRI é uma organização não governamental internacional, com sede em Amsterdã (Holanda), que tem como missão desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade. Seguir esse modelo, composto de diversos indicadores, força as empresas a pensar sobre atitudes que até então não possuíam. “Geralmente as companhias contratam agências de comunicação para elaborar o conteúdo do relatório. Porém, alguns redatores não possuem vivência na área de sustentabilidade, o que pode deixar a linguagem com um tom promocional”, destaca o consultor.

Confira a reportagem completa na edição de junho (163)

Gabriela Ferigato
Revista Apólice

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