Ultima atualização 14 de março

Novo presidente da Mapfre faz seu primeiro discurso, citando o Brasil diversas vezes

Em uma manhã de sábado ensolarada em Madri, o maior grupo segurador da Espanha apresentou aos acionistas os resultados de 2011. Diferentemente do Brasil, país que ainda desenvolve o hábito dos acionistas comparecem às reuniões de prestação de contas, o auditório com capacidade para mais de 600 pessoas no Palacio de Congresos estava lotado de acionistas e executivos vindos dos 46 países onde a Mapfre está presente.
O interesse do público, que já conhecia os resultados divulgados dias atrás, era conhecer melhor o que se passa na cabeça de Antonio Huertas Mejías, que aos 48 anos assume a presidência do maior grupo segurador da Espanha e o quinto maior da Europa no lugar de José Manuel Martínez. Foi seu primeiro discurso público. “Considero factivel que neste ano poderemos superar o ingresso de receitas de 25 bilhões de euros, o que significa crescimento de 6% sobre 2011. Será um ano de grandes desafios para a Espanha e por isso as operações internacionais terão um papel relevante para atingir tal cifra”, disse Huertas aos presentes.
No entanto, a Espanha é o país que mais continuará recebendo investimentos, inclusive por ser o grupo um importante gerador de emprego e de renda, duas vertentes fundamentais para qualquer país crescer. Huertas também disse que o grupo está atento as oportunidades de negócios geradas com o novo contexto financeiro criado em todo o mundo, uma vez que novas regras de solvência exigirão aportes de capital significativos Segundo Martinez, o grupo não sofrerá perdas em relação a investimentos em títulos soberanos da Grécia. “Nossa exposição é zero”, disse ele ao responder o questionamento de um acionista.
O Brasil foi um dos grandes destaques do balanço de 2011. Melhor ainda é que o país continua sendo um dos pilares do crescimento de 2012. “Além de continuarmos investindo no crescimento orgânico das unidades locais, consolidaremos a aliança com o Banco do Brasil, que permitirá nos posicionarmos como líderes no mercado brasileiro”, afirmou o executivo que há 24 anos se dedica à Mapfre e conta com o que há de mais importante hoje na vida de um executivo: o respeito dos funcionários, acionistas e concorrentes. Além da parceria com o BB, a Mapfre mantém outras operações não incluídas no negócio estimado em mais de R$ 12 bilhões na época. Fora da operação BB Mapfre, o grupo espanhol tem a gestoras de ativos, a empresa de assistência 24 horas, uma operação de vida e previdência, a empresa de capitalização, de consórcio e de seguro garantia. E em breve, se tudo der certo, começará também a atuar em saúde.
“É com grande orgulho que passo a gestão da empresa, que há tempos deixou de ser uma companhia espanhola para ser um grupo multinacional, para Huertas. Ele conduziu sua carreira de maneira exemplar e por isso foi aceito com unanimidade pelo Conselho de Administração”, disse Martinez, responsável por assinar o primeiro grande passo da Mapfre no Brasil: a compra da seguradora Vera Cruz, do grupo Bunge, em 1991. Mas foi só em 2011 que assumiu a presidência mundial do grupo. Literalmente com lágrimas nos olhos, Martinez se despediu do cargo, mas não do grupo. Ele será membro do Conselho.
O grupo espanhol vem crescendo em todo o mundo de forma consistente há tempos. Para se ter uma idéia, em 1989 a Mapfre faturava 1,2 bilhão de euros. Em 2011, 23,5 bilhões de euros para um lucro bruto de 1,6 bilhão e líquido de 963 milhões de euros. Os ativos passaram de 1,9 bilhão para 54 bilhões de euros no mesmo período. A internacionalização foi uma das alavancas para esse crescimento. Em 2011, as operações do grupo fora da Espanha apresentaram grande crescimento. Dos 23,5 bilhões de euros em receitas consolidadas, 62% são provenientes de outros países, três pontos percentuais a mais em relação ao registrado no ano anterior. Desse valor, 10 bilhões de euros foram gerados pelos negócios na Espanha e 13 bilhões de euros pelas operações internacionais. O volume de prêmios de seguros patrimoniais, ramo conhecido mundialmente como “não vida”, chegou a 14,4 bilhões de euros, 13,4% acima do resultado obtido em 2010. Já o ramo vida chegou a 5,1 bilhões em euros.
Na Espanha, onde o grupo tem a liderança, as vendas do seguro automóvel se mantiveram em 2,3 bilhões de euros, volume que garante a seguradora uma participação de 21%. Na carteira de multirrisco, a Mapfre registrou venda de 1,2 bilhão de euros, avanço de 3,3%. No segmento de vida, os prêmios gerados na Espanha chegaram a 4,6 bilhões de euros, recuo de 0,6%, uma situação típica em momentos de crise, quando as pessoas reduzem depósitos em planos de previdência. O desemprego também traz impactos negativos para a carteira de vida empresarial.
Na Mapfre America, o desempenho foi classificado como “incrível” por Esteban Tejera, diretor geral do grupo, que apresentou aos acionistas os dados detalhados do balanço de 2011. Esse elogio se refere, em boa parte, ao Brasil, que apresentou crescimento de 14,9%, para prêmios de 3,5 bilhões de euros. “Registramos um forte crescimento orgânico e as operações com o Banco do Brasil foram consolidadas em 2011, beneficiando os resultados do ano”, informou Tejera. O grupo BB Mapfre já é hoje o segundo maior do Brasil, segundo dados divulgados pela Susep para o período de janeiro a novembro de 2011 e consolidados pela consultoria Siscorp.
A diferença para o Bradesco, líder no Brasil, está cada dia menor, gerando uma grande disputa pelos clientes. Sem considerar o ramo saúde, o Bradesco registrou receitas de R$ 19,3 bilhões com seguro, previdência e capitalização, enquanto o Banco do Brasil captou R$ 17,4 bilhões, incluindo todas as suas parceiras, sendo a Mapfre a principal.
O Brasil é de longe o maior mercado da América Latina, onde a Mapfre é a maior da região no segmento “não vida” e a segunda maior em “vida”. Segundo dados do balanço, a Venezuela registrou prêmios de 640 milhões de euros, avanço de 8,8%; o México chegou a prêmios de 557 milhões de euro, alta de 5,2%; Argentina vem em seguida, com 448 milhões de euros.
Huertas fez questão de ressaltar a solvência do grupo Mapfre, que está entre as melhores da Europa, e ter sido o primeiro grupo segurador a divulgar o balanço financeiro dentro do novo padrão internacional. O executivo afirmou que seguirá o caminho que vinha sendo trilhado por seu antecessor. “Vamos continuar investindo em pessoas e valores da nossa equipe, pessoas responsáveis por fazer do grupo o que ele é hoje”, disse o presidente do grupo que conta com mais de 35 mil empregados.
“Aproveitaremos a nossa estrutura internacional para estimular a troca de experiência entre os executivos de todos os países, bem como investiremos em tecnologia para unir e facilitar a integração entre todas as unidades”, disse. A tecnologia também é um pilar importante para o crescimento da empresa no que diz respeito a ter processos mais baratos e um atendimento mais eficiente aos corretores, principal canal de vendas do grupo, fornecedores e clientes.
A estrutura do conglomerado foi simplificada e agora conta com três segmentos: seguro direto na Espanha, seguro direto internacional e negócios globais. Dentro dessa estrutura, o desenvolvimento de canais de distribuição alternativos terá atenção especial, principalmente no que diz a vendas pela internet. “Quem determina a forma de atendimento hoje é o cliente e por isso estaremos em todos os lugares que ele demandar”, disse Huertas.

Resseguro apresenta lucro, mesmo em ano de perdas catastróficas
As operações de resseguro da Mapfre Re atingiram 3 bilhões de euros em 2011, crescimento de 7,8%. Apesar de 2011 ter sido um ano de perdas recordes para a indústria de resseguros, a Mapfre Re, uma das principais do mundo, obteve lucro de 108 milhões de euros. “Tivemos uma participação expressiva na reconstrução do Japão, Nova Zelândia e agora na Tailândia, países castigados pelas catástrofes naturais e que contaram com um volume significativo de indenizações da indústria de seguros”, comentou Esteban Tejera, diretor geral do grupo Mapfre.
O cenário para a Mapfre Re em 2012 se mostra otimista. Nas renovações de janeiro, maior período de negociações de contratos de resseguros no mundo, a Mapfre conseguiu um bom desempenho, com aumento de taxas e de novos clientes, informou Ramon Aymerich, executivo responsável pelas operações de resseguro da Mapfre.
Segundo o executivo, as taxas tiveram em média avanço entre 10 e 20% em regiões com histórico normal de perdas. Já nas regiões atingidas pelas catástrofes naturais, o reajuste de preço foi maior para equilibrar a rentabilidade da carteira. “Nova Zelândia, por exemplo, recebeu US$ 16 bilhões em indenizações do setor de seguros, um valor infinitamente superior ao volume de prêmios que pagou de seguros por muitos anos”, comentou. Outra leva de renegociações tem início em abril, quando os principais contratos de resseguros de países asiáticos, região fortemente afetada por catástrofes nos últimos meses. “Esses, com certeza, sofrerão um reajuste de taxas maior para compensar as perdas registradas no ultimo ano”, disse Ramon. Realmente isso já tem sido noticiado por outras resseguradoras desde a semana passada.
As operações de resseguro registradas no Brasil ainda são pequenas dentro do grupo, ao contrário das operações de seguros que ganharam ainda mais importância após a negociação com o Banco do Brasil. No entanto, as perspectivas são otimistas.”O Brasil tem muitos negócios que exigem a participação de resseguros para ajudar a mitigar os riscos dos milionários contratos de infraestrutura. Cada dia mais analisamos os contratos que vão financiar as obras necessárias para dar vazão ao crescimento econômico e deixar o pais pronto para sediar os mundiais esportivos e 2014 e 2016″, comenta.
Apesar de o BB ser parceiro da Mapfre em seguros, em resseguros a situação é outra. O maior banco do país em breve será acionista do IRB Brasil Re. Porém, como no resseguro o princípio é pulverizar risco, os contratos são compartilhados entre várias companhias e quase todos contam com um pool de resseguradores. Ou seja, de uma certa forma a Mapfre Re pode obter ganhos de sinergia em ter o BB como parceiro do grupo em seguros.
A Mapfre nunca escondeu o interesse que tinha em participar da privatização do ressegurador brasileiro, que manteve o monopólio da operação por quase 70 anos. O processo de privatização foi deixado de lado pelo governo brasileiro diante das prioridades do crescimento da economia e das dificuldades em precificar o IRB. Muito já foi dito sobre as pendências em operações internacionais e também no fundo de pensão do instituto. Desde então, o Mercado mudou. Há três o mercado de resseguros foi aberto e atraiu mais de 100 resseguradores desde 2008.
A Mapfre optou por ser uma resseguradora local, com a abertura de uma resseguradora no país, assim como Munich Re, ACE, JMalucelli, bem como Swiss Re, Zurich, Allianz e Terras Brasis, que aguardam autorização para abrir uma operação local. “A concorrência está muito acirrada no mundo, especialmente no Brasil”, comenta Aymerich. O Brasil, no entanto, tem regras diferentes de outros países, restringindo a 20% o repasse de negócios locais para a matriz.
Segundo especialistas do mercado brasileiro, tal situação deverá permanecer até a privatização do IRB Brasil Re, hoje controlado pelo Tesouro Nacional e praticamente duas seguradoras, Bradesco e Itaú, com 22% e 18% do controle. Está em curso um novo desenho do IRB, no qual o Banco do Brasil deverá ficar com 35% do controle, o Tesouro com 10%, funcionários do IRB com 5%, além dos sócios privados passarem a ter direito a voto, diferente de hoje, detentores de apenas ações preferenciais.
Atualmente, o processo aguarda pelo estudo do BNDES, onde o preço do IRB será definido para que o Banco do Brasil possa comprar do Tesouro a praticipação de 35%. Ainda não há um prazo para a finalização do valor, mas os envolvidos no processo garantem que tudo caminha de forma acelerada. Após a conclusão desse desenho acionário, a perspectiva é de que aconteça a privatização do IRB. Questionados sobre se haverá interessse do grupo em participar deste possível leilão, os executivos da Mapfre afirmam ser ainda muito cedo para falar deste assunto.

Revista Apólice setores de seguros no Brasil tudo sobre seguros

Denise Bueno
Sonho Seguro

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