O novo estudo sigma da Swiss Re, intitulado “Investimentos de seguros em um ambiente global desafiador” aponta que baixos rendimentos poderiam prejudicar o retorno dos investimentos das seguradoras, levando a um lucro menor para o setor e prêmios mais elevados para os segurados. Um dos motivos da diminuição desses rendimentos seria a recente crise financeira mundial, que criou um ambiente novo e desafiador para os gestores de investimentos das seguradoras. Como resultado, os rendimentos dos títulos públicos atingiram níveis historicamente baixos, que poderão persistir até que a economia global realmente se recupere.
A outra causa são as mudanças na regulamentação do setor, que o tornaram mais rígido.
Alterações como a contabilidade por ajuste a preços de mercado e maiores custos de risco em determinadas classes de ativos podem levar as seguradoras a investir mais em ativos de menor risco e retorno mais baixo.
Mercado de capitais
No final de 2009, seguradoras do mundo todo detinham ativos no valor de cerca de US$ 23 trilhões. Em conjunto com os fundos mútuos e de previdência privada elas são os maiores investidores do mundo. Desse total, as empresas do segmento Vida detinham US$ 19 trilhões enquanto as dos outros segmentos detinham os US$ 4 trilhões restantes. Os quatro maiores mercados nacionais – EUA, Japão, Reino Unido e França – possuíam mais de US$ 14 trilhões, número que corresponde a 60% dos ativos mundiais das seguradoras.
Segundo David Laster, um dos autores do estudo, as empresas do setor mantêm a maior parte de seus ativos em obrigações públicas e privadas com elevada classificação de crédito. “As empresas do segmento não vida detêm proporcionalmente mais recursos em caixa e ações, enquanto as do ramo vida possuem mais empréstimos e instrumentos de renda fixa e menos liquidez”, explica.
Normas contábeis e regulamentares mais rígidas e custos de capital mais elevados em alguns investimentos podem estimular as seguradoras a alocar uma maior parcela de seus ativos a títulos públicos quando seus rendimentos diminuírem e os papéis soberanos deixarem de ser investimentos totalmente seguros. “Os rendimentos das obrigações de países considerados portos seguros, como a Alemanha e os EUA, estão em seus mínimos históricos e estão mais baixos ainda no Japão. A escalada da dívida nacional aumentou a vulnerabilidade financeira dos governos”, analisa Raymond Yeung, co-autor do estudo.
De acordo com ele, uma forma das seguradoras estruturarem carteiras com retorno esperado maior e sem risco adicional é fazendo algumas alocações a classes de ativos adicionais, como ações de mercados emergentes e imóveis. “Quaisquer restrições desnecessárias a tais alocações podem comprometer o desempenho de seus investimentos bem como sua capacidade de atingir um perfil de risco/retorno que atenda melhor às necessidades dos segurados e acionistas”, observa.
Para as seguradoras dos EUA, uma exigência de alocar metade de seus ativos a notas do Tesouro e a outra metade a obrigações do Tesouro norte-americano teria levado a uma redução anual de 1,5% nos retornos entre 1991 e 2008. “Se fosse aplicada aos US$ 23 trilhões de ativos do setor segurador global, esta exigência custaria às seguradoras mais de US$ 1 trilhão no período de três anos”, afirma Laster.
Determinar que as seguradoras invistam amplamente em títulos públicos reduziria o retorno dos investimentos, pressionando as empresas de seguro a aumentar seus prêmios para manter sua rentabilidade. Para Yeung, prêmios maiores afetariam os segurados de forma negativa, fazendo com que alguns consumidores e empresas reduzissem ou abandonassem a cobertura. Por outro lado, Laster acrescenta que “beneficiários de anuidades e pensões receberiam pagamentos menores e mais clientes optariam por outros investimentos, de maior risco, consequentemente deixando de se beneficiar da experiência obtida pelas seguradoras em matéria de investimentos.”
Reação às dificuldades
O relatório também aponta que, com a crise financeira, muitos gestores de ativos de seguradoras mudaram seu comportamento. Em primeiro lugar, muitas seguradoras estão gerindo seus investimentos sabendo que as crises ocorrem regularmente. Em segundo, o aumento da alocação a ações melhora o perfil geral de risco de algumas seguradoras com aplicações baixas ou negligenciáveis em tais títulos. Terceiro, em função das perspectivas sólidas para os mercados emergentes, as alocações a estes países estão aumentando. Quarto, as seguradoras preocupadas com a inflação estão atenuando tal risco com mais investimentos em commodities, imóveis e títulos atrelados à inflação. E, por último, as seguradoras estão recorrendo cada vez mais a gestores externos para gerir pelo menos uma parcela de suas carteiras.
J.N.
Revista Apólice