A previdência privada aberta começa a seguir os passos das entidades fechadas (cujos planos são de adesão restrita), ampliando a diversificação das aplicações. Investir em empresas torna-se um filão, diante da tendência de queda dos juros e de crescimento da economia. E por “investir em empresas” entenda- se mais do que comprar ações. Papéis de crédito privado, ativos imobiliários e até cotas de fundos de participações também estão na mira.
Na Icatu, aproximadamente um quarto da principal carteira de renda fixa é alocado em papéis como Certificados de Depósito Bancário (CDB), debêntures e cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), conhecidos como fundos de recebíveis. “É a saída para conseguir superar o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, referência de rentabilidade na renda fixa)”, diz o diretor de Produtos de Previdência e Investimento, Luis Martinez.
Nesses títulos, o retorno pode alcançar de 104% a 108% do CDI. “Ou mais, dependendo da emissão”, diz o executivo.
Os Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs), que contam com garantia de R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), passaram a integrar as carteiras de previdência da SulAmérica no ano passado.
Somados aos CDBs e às debêntures, os papéis privados representam aproximadamente 40% das aplicações de renda fixa dos PGBL e VGBL da empresa. “A rentabilidade média da nossa carteira de crédito privado chega a 104% do CDI”, diz o vicepresidente de Investimentos, Marcelo Mello.
Fundos de participação Ganhos ainda maiores prometem vir da vertente dos fundos de participação, que compram fatias de empresas com potencial de crescimento – para as quais a Brasilprev tem olhado com carinho. Há alguns meses, a empresa do Banco do Brasil se aproxima dos atores dessa indústria.
Está atenta à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que tem programas de apoio a fundos de venture capital, e participando de eventos da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
“Acreditamos que temos os veículos para integrar o círculo virtuoso da economia”, diz o superintendente de investimentos, Marcio Matos.
Pelo mesmo motivo, a Brasilprev estuda as aplicações no mercado imobiliário. A empresa comprou Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs)-lastreados em créditos da Petrobras e estruturados pela RB Capital – pela primeira vez no ano passado. “Ainda representam muito pouco dos nossos investimentos”, ressalta Matos. Outros papéis privados, como CDBs, debêntures e FIDCs, somam 27% de todas as suas aplicações.
A resolução 3.308 do Conselho Monetário Nacional permite aos fundos de previdência alocar até 49% do patrimônio em renda variável, fatia que inclui outros ativos além de ações. Até 15% podem estar em cotas de fundos multimercados e 3% em fundos de participação. Na parcela de renda fixa, 80% do patrimônio pode comprar CDBs, letras e debêntures. Há ainda uma cota de até 10% de investimento em fundos imobiliários.
Aplicações mais arrojadas, como as que a Brasilprev “namora” em fundos de participação, exigem atenção a aspectos como a rentabilidade das carteiras nos primeiros tempos, que costuma ser negativa. Isso porque as taxas de administração desses fundos são cobradas desde o início, enquanto a rentabilidade só aparece na venda das primeiras empresas, o que pode levar anos. Um impacto nas cotas oferecidas ao investidor final é inevitável. “Estamos estudamos como fazer. Uma possibilidade seria desmembrar nosso fundo de ações em dois, um de maior e outro de menor risco, colocando os fundos no primeiro”, sugere Matos.
Mariana Segala
Brasil Econômico