Ultima atualização 26 de março

Edição 224

capa | XL Catlin

 

Novos riscos exigem uma nova atitude no mercado de seguros

O mundo muda tão rapidamente que precisamos nos preparar para segurar riscos que sequer imaginamos. Para a XL Catlin, é na antecipação do futuro que estão as melhores oportunidades de criar valor para o cliente

Por Kelly Lubiato

Vivemos tempos vertiginosos. No espaço de poucas gera- ções o mundo se globalizou e se informatizou. Propriedades e bens materiais, que eram os principais ativos de um negócio, estão cedendo o lugar para coisas intangíveis como marca e reputação. Mudanças no cenário político estão tirando os riscos políticos das telas de cinema e colocando-os nas planilhas dos gerentes de risco das multinacionais. Investidores estão cada vez mais preocupados com os riscos provocados pelo aquecimento global e querem mais informações sobre os riscos decorrentes. Acostumado a trabalhar em cima de séries históricas, o mercado de seguros precisa agora olhar para frente e antecipar os riscos gerados por tantas transformações – e os que ainda estão por vir. É, sem dúvida, um grande desafio. Mas para a XL Catlin é também uma oportunidade única de criar valor para os clientes.

A XL Catlin nasceu em um momento de disrupção para enfrentar a falta de capacidade do mercado mundial de liability. Desde então, transformou a busca pela antecipação do futuro e pela inovação em seu próprio DNA. “Queremos saber para onde o risco está indo e de que forma podemos nos antecipar para nos mantermos relevantes para clientes e corretores”, resume o CEO da companhia no Brasil, Renato Rodrigues. “Isso exige investimentos em pesquisa, arrojo no lançamento de produtos, mas também um olhar crítico sobre o nosso dia a dia para sermos cada vez mais ágeis e descomplicados”, completa.

Investimentos em pesquisa

Se não é mais possível olhar para o passado para entender e precificar riscos, a solução é investir em projetos que gerem tais informações. Este foi o caminho escolhido pela XL Catlin, que atualmente é parceira de pesquisas de ponta em áreas que podem parecer distantes da atual realidade – mas que, em breve, serão corriqueiras. Veículos sem motorista, por exemplo: quais os riscos patrimoniais? E de responsabilidade civil? Quão suscetíveis eles são aos riscos cibernéticos? E de quem são esses riscos?

Apesar de a XL Catlin não operar diretamente na carteira de automóveis, ela utiliza o conhecimento de inteligência artificial para aplicar em outros campos, sempre com a certeza de que é preciso olhar para o futuro, porque o risco não possui mais trajetórias. “Não existe, por exemplo, estatísticas robustas para ciberataques. Verificamos apenas este tipo de risco crescendo. O desafio é olhar e descobrir como proteger”, avalia Renato.

Para responder a estas e outras perguntas, a XL Catlin é uma das apoiadoras da Oxbótica, um centro de estudos de inteligência artificial que vem desenvolvendo veículos autônomos e auto -dirigíveis (driveless vehicles), em parceria com a Universidade de Oxford (Inglaterra), com o qual a seguradora pretende entender o funcionamento de veículos sem motorista e o seu impacto para os seguros de transportes de cargas e pessoas. Na Europa, estes veículos já circulam com motoristas, mas sem interferências deles.

Mas um olhar mais atento ao mercado de veículos mostra outras transforma- ções em curso. Hoje, as pessoas possuem veículos que são utilizados apenas 4% do tempo. Ou seja, eles passam 96% do dia parados. As pessoas querem ter cobertura de forma personalizada. Renato conta uma experiência que existe no Canadá: um seguro on demand para passageiros do aplicativo Uber. O motorista pode usar o carro para fins comerciais e pessoais, mas o seguro é precificado de acordo com cada uso. Assim, o seguro de responsabilidade civil é diferente para as viagens que ele faz sozinho ou para aquelas em que leva passageiros.

Os novos riscos estão em lugares que as pessoas não imaginam. Ou melhor, as suas raízes vêm de problemas conhecidos, mas de forma indireta. A XL Catlin é guiada pela consciência de que as coisas vão mudar. Por esse motivo a companhia investe muito em inovação e criou um fundo chamado XL Innovate, que investe em várias soluções de seguro ou segurança relacionadas à tecnologia, que é parte de um crescente movimento conhecido como “Insurtech”. Todas as atividades envolvendo risco, que recebem este venture capital andam lado a lado com a estratégia global da XL Catlin. A companhia está numa geração em que a disrupção tecnológica é fato e no mundo de seguros vê-se isso acontecer. “Mesmo com atraso, a indústria de seguros percebeu que novos aplicativos podem substituir antigas funções. Cabe a nós, como indústria, entender e desenvolver condições para que este novo mercado tenha proteção”, admite Renato.

O que vem pela frente

Antes, o maior impacto para as grandes corporações estava ligado quase que exclusivamente ao seu patrimônio. Agora, as questões regionais das grandes corporações são reverberadas pelas mí- dias sociais, o que aumenta a velocidade da troca de informações e agrava o risco reputacional. Isso sem falar em mudan- ças geopolíticas, guerras civis, ataques terroristas, populismo, terrorismo digital, enfim, são inúmeros os movimentos que afetam diretamente a atuação das empresas.

“Temos que descobrir de que forma, como indústria de seguros, podemos ser relevantes para estes riscos. É um grande desafio também para o gerente de risco”, preocupa-se Renato. A função do gerente de risco é cada vez mais difícil, porque precisa mostrar para a diretoria da empresa que há novas necessidades de coberturas, diferentes daquelas com as quais está acostumada. É uma mudança de cultura.

Neste cenário de mundo em transformação, os riscos políticos estão mais pulverizados, com interesses que se misturam. “Lançamos o produto de risco político para empresas brasileiras que investem em projetos fora do país. Os riscos cobertos compreendem proteção contra atos governamentais que atinjam investimentos da empresa no país-anfitrião”, diz Walkiria Melo, subscritora de Crédito e Riscos Políticos da XL Catlin.

Em outra frente, Silvia Gadelha, Head de Linhas Financeiras no Brasil, explica como é crescente o interesse das empresas pelo seguro de riscos cibernéticos: “no Brasil, culturalmente, as empresas não enxergavam este risco, mas com o crescente número de ataques e as práticas das grandes corporações multinacionais, isso está mudando”, avisa.

Silvia conta que a legislação existente no Brasil é muito limitada, mas que já existem projetos de lei que ainda não foram aprovados. “Na XL Catlin, além da apólice de Cyber Liability que se aplica a qualquer tipo de empresa, temos também um produto exclusivo para empresas de tecnologia da informação, o Cyber Pro, que oferece proteção para ela e seus clientes no caso de danos aos bancos de dados. O Cyber Pro reúne em uma única apólice as coberturas de Cyber, E&O e RC Produtos, desenvolvida para evitar lacunas no momento do sinistro. Além do risco cibernético, cobre a falha profissional da empresa e a falha do produto que a empresa comercializa e distribui”, explica Silvia.

A diretora Técnica da XL Catlin, Thisiani Martins, avalia que, apesar de haver um ambiente muito regulado no País, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostra-se bastante aberta a conversas para entender a necessidade do mercado e estruturar produtos novos, como o Cyber Pro. “Cabe a nós entendermos a regulamentação determinada pela Susep para alinhar e desenvolver produtos bem definidos. Assim, obtemos sucesso na aprovação de produtos”, aponta.

Renato acredita que as companhias do mercado devem manter este estreito relacionamento com o regulador, para que consigam trazer as inovações de forma adequada. “A regulação não pode ser uma desculpa para a falta de inovação”, enfatiza.

Um bom exemplo de como o mercado e os reguladores podem caminhar em paralelo é o seguro de drones. Estes equipamentos já eram utilizados em larga escala no País, mas apenas no mês de maio foram efetivamente regulamentados. A Head de Aviação da XL Catlin, Daniela Murias, conta que a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) categorizou os aparelhos de acordo com sua utilização – drones são os equipamentos de uso comercial, corporativo ou experimental, enquanto equipamentos utilizados para fins recreativos foram enquadrados como aeromodelos. Dentro da categoria “drones”, os equipamentos foram classificados conforme seu peso e limitações de operação, sendo que o maior volume destes equipamentos fica na Classe 3 – peso menor ou igual a 25 kg e operados em até 120m do nível do solo e dentro da linha visual do operador remoto.

A seguradora lançou um produto para drones antes mesmo da regulamentação destes aparelhos, porque havia demanda por parte dos clientes que já possuíam autorização especial da ANAC. Daniela conta que a procura pelo produto aumentou bastante após a publicação da regulamentação, pois os drones foram definidos como aeronaves e, portanto, com obrigatoriedade de seguro de responsabilidade civil. “Agora eles contam com os mesmos produtos que já disponibilizávamos para a aviação geral, mas para a seguradora é um risco completamente diferente: não há a presença de piloto a bordo, além das restrições de acordo com a distância guardada para pessoas não anuentes, e os voos devem ser distantes de aeroportos e outras aeronaves. É uma subscrição mais delicada”, destaca, acrescentando que os equipamentos acoplados ao drone também podem ser declarados e somados ao valor da cobertura do aparelho, já que muitas vezes estes são mais valiosos do que o próprio drone.

Ainda neste tema, Paulo Alves, Head de Marine no Brasil, lembra que a utilização destes aparelhos pode ser muito diversificada. Os drones estão sendo testados em empresas de courier e entregas rápidas de pequenas encomendas, assim como em locais que normalmente outros meios de transportes não alcançam. “No futuro, o drone poderá ser utilizado como meio de proteção, fazendo a escolta para cargas em caminhões e até patrulhamento de grandes armazéns logísticos”.

O perfil dos negócios

O fato é que a indústria do seguro mudou e vai mudar mais ainda. Estudar e colocar os subscritores na linha de frente são duas formas de encarar este cenário desafiador. Por isso, o subscritor de hoje não é o mesmo do tempo de mercado tarifado ou de monopólio de resseguro. Ele é uma pessoa de relacionamento, que entende o momento do cliente, entende o risco e provê a solução, que taxa o risco de acordo com as informações que recebe do corretor de seguros e do cliente.

“Quem entende de produtos consegue elaborar um bom clausulado. Por isso, nós migramos do subscritor de riscos para o subscritor de negócios”, enfatiza Renato Rodrigues. A XL Catlin não possui uma área comercial centralizada. Hoje, este setor cuida prioritariamente de estratégia de distribuição, do relacionamento com o mercado e do posicionamento de marketing. Quem visita os corretores e fecha os negócios são responsáveis por cada área.

Estas pessoas têm o poder para fechar negócios. Por ser uma companhia descentralizada, quem está na operação local consegue definir as condições dos contratos, o que proporciona grande agilidade aos processos. “Para nós, inovação não é só antecipar o futuro: é também olhar para o presente e descobrir formas de atender melhor corretores e empresas. De forma justa e cada vez mais ágil, rápida, eficiente e relevante”, sintetiza Renato.

É por isso que a XL Catlin conta com uma premiada plataforma tecnológica, que permite aos clientes acompanhar seus processos online e em tempo real de qualquer parte do planeta.

Onde a XL Catlin investe

Oxbótica: o principal estudo agora está ligado à robótica e inteligência artificial, não apenas para carros de passeio, mas para qualquer tipo de veículos e máquinas. A XL Catlin investe nas pesquisas que envolvem, por exemplo, máquinas pesadas que possam trabalhar em ambientes inóspitos, como empilhadeiras em galpões refrigerados. O principal motivo é descobrir os riscos que envolvem a responsabilidade desta operação ou caminhões sem motoristas que podem ter a sua circulação otimizada pela inteligência artificial e pela análise de dados dos clientes e cargas.

XL Innovate: XL Innovate é um fundo de capital de risco focado na criação de novos empreendimentos, que podem oferecer inovação e impacto positivo e significativo no setor de seguros global. A seguradora investe capital, energia, expertise e recursos substanciais em equipes empresariais globais, que estão lidando com grandes mercados e têm o potencial de se tornarem novas empresas significativas, com ideias para abordagens inovadoras, aplicativos e melhorias tecnológicas de seguros e gerenciamento de riscos. Alguns de seus investimentos: Stonestep, Lemonade, Slice, Notion, Cape Analytics, Embroker, New Energy Risk, Oxbótica e Blockchain.

Instituto Semear: apoio a estudantes de universidades de ponta para que continuem os estudos. O Instituto seleciona estudantes, cuja renda familiar seja baixa, para participarem de um projeto de mentoria para suas carreiras. Por meio de bolsas, os estudantes são estimulados a participar de processos seletivos e finalizam os estudos já com vistas para um novo emprego, dentro de sua área de conhecimento.

Oceans Education: a XL Catlin patrocina pesquisas e programas educacionais, que exploram como os oceanos de nosso planeta estão mudando e quais riscos serão enfrentados no futuro. Em 2016, patrocinou a pesquisa XL Catlin Deep Ocean (Oceano Profundo), uma expedição piloto para medição da saúde e resiliência do oceano profundo. Isso segue as pesquisas Catlin Arctic, (2009- 2011), que investigaram os impactos das mudanças sobre o Oceano Ártico e a pesquisa XL Catlin Seaview (Visão do Oceano) (2012-2016), que criou o primeiro parâmetro digital do mundo da saúde dos recifes de corais.

A XL Catlin faz um mapeamento dos corais nos oceanos do mundo inteiro. O objetivo do projeto é mostrar como estas mudanças podem influenciar a humanidade de diversas formas. O aquecimento global afeta a vida marinha e afasta os peixes de alguns locais onde antes eles existiam em abundância. Assim, pescadores são afetados em seus rendimentos diretamente.

grandes riscos | mercado

Movimentos no tabuleiro

Mudanças no mercado não devem impactar negativamente a carteira, mas deverão demandar mais expertise e qualificação de quem se mantiver nas grandes apostas

Grandes obras, infraestrutura, aportes em energia e um mercado de seguros pujante para assegurar todos esses investimentos. Essa era a visão da área de Grandes Riscos há alguns anos, mas isso não se sustentou em meio à crise política e econômica. A recessão chegou e o que era aposta certeira virou vontade de virar o jogo. Cenário de desilusão para uns, para outros a certeza de que o problema é passageiro. “A expectativa que havia foi frustrada por esse cenário. Todavia, isso é uma postergação e não uma abdicação dos projetos de grandes obras”, afirma Robert Bittar, presidente da Funenseg.

O Brasil tendeu a se acostumar com a ciclicidade de suas crises, mas agora a já difundida crise política parece ancorar essas dificuldades. Para Vanderlei Moreira, vice-presidente da Associação Brasileira de Gerência de Riscos –ABGR – é na instabilidade política que mora o problema. O País já passou por outros empecilhos como crises energéticas que frearam o setor, diminuindo a sede de ampliação de investimentos e, para Moreira, isso afetou apenas parcialmente a área de Grandes Riscos, mas as renova- ções de apólices – como as de parques fabris, usinas hidrelétricas etc. dão o tom para que haja ritmo de continuidade nos negócios. “O que não temos é o crescimento da área de grandes riscos. Muito possível, se a crise perdurar, em breve haverá o encolhimento da área, porque os parques fabris irão diminuir, fazendo com que muitas indústrias multinacionais reavaliem suas operações no Brasil”, opina.

O cenário é preocupante, mas o otimismo ainda é hábito costumeiro no mercado, tanto que mesmo com dificuldades nos últimos dois anos, houve apetite para aquisições. A SulAmérica decidiu sair da área, em 2015, mas a Axa foi ao seu encontro e, em 2016, garantiu a compra da carteira. Já em 2017, uma das principais novidades foi a joint venture da Bradesco Seguros com a Swiss Re Corporate Solutions. A brasileira agora aporta sua carteira de Grandes Riscos na resseguradora suíça, tomando, com esse acordo, o terceiro lugar entre as maiores do ramo no País. “Esta transa- ção cria uma das líderes no mercado de seguros comerciais de grandes riscos no Brasil, com potencial para crescimento acelerado, tendo em vista a utilização dos canais de distribuição da Bradesco Seguros”, afirma Luciano Calheiros, CEO da Swiss Re Corporate Solutions Brasil. Com a mudança, a resseguradora terá acesso aos canais de seguradora em todo Brasil, ampliando sua capilaridade e tornando-se um bom exemplo de como há players investindo pesado no setor e, consequentemente, na expectativa de melhora. “O mercado está bastante desafiador e isso reflete nossa estratégia para o ano. Continuamos focados em segmentos que, tradicionalmente, já eram relevantes na carteira da Swiss Re Corporate Solutions, como seguro rural e seguro garantia, e queremos avançar em segmentos importantes com os quais ganhamos relevância a partir da incorporação da carteira da Bradesco Seguros”, explica Calheiros.

Além disso, o processo de abertura de IPO (oferecimento de ações para o mercado) do IRB Brasil Re também chama atenção dos investidores. O ressegurador, que até 2007 era um monopólio estatal, está aberto para receber acionistas. Embora a crise tenha feito a companhia adiar um pouco esses planos, a precificação dos papeis foi fechada pelo piso de R$ 27,24 e teve muito apoio de um de seus principais controladores, o governo, que pretende arrecadar recursos com esse passo.

Sobre essas mudanças, Moreira acha que duas vertentes se desenham: as seguradoras que mudaram sua estratégia de mercado e decidiram que não focariam mais nesse tipo de risco, e as que tiveram que tomar a decisão com base na margem de lucro. Para atuar em grandes riscos, a Zurich, por exemplo, se dispôs a conhecer muito bem as peculiaridades de seus clientes. “Ela investiu na busca de soluções de seguros customizadas e na área de subscrição com profissionais extremamente qualificados, capazes de propor soluções únicas”, esclarece Celso Soares Junior, superintendente de Subscrição de Seguros Empresariais da Zurich no Brasil.

Para Julio Costa, sócio do Tauil & Chequer Advogados, a crise econômica brasileira não é algo que deva ser menosprezado diante da conjuntura atual dos Grandes Riscos, mas ele destaca que outras carteiras devem ser igualmente afetadas nessa baixa. Ainda assim, o executivo enxerga em seu prognóstico alguma margem para o crescimento em 2017. “Ainda que o Brasil não tenha uma definição uníssona do que são compostas as carteiras de Grandes Riscos, fato é que alguns produtos habitualmente classificados dentro delas – como, por exemplo, o Seguro Garantia (Setor Público e Privado) e Riscos de Petróleo – tiveram suas performances severamente atingidas pelas crises dos últimos anos”, ressalta o advogado. Em contraponto, Costa lembra que alguns riscos como Aeronáuticos e Cascos Marítimos, que também tiveram dificuldades em seus desempenhos, não foram atingidos de forma tão significativa pelo momento ruim, mas por fatores externos.

Competitividade

Robert Bittar lembra que há algo de bom a ser observado no cenário atual: a operação de grandes riscos está dividida entre algumas poucas seguradoras, acentuando a competitividade da carteira nas resseguradoras e garantindo preços mais acessíveis em todas as modalidades de contratação. “Contribui ainda para isso o fato de que, nos últimos anos, não houve qualquer ocorrência catastrófica capaz de impactar globalmente o resultado das operações de resseguros”, ressalta.

Moreira levanta o fato da diminuição de companhias aceitando esses riscos, mas destaca que a concentração proporciona melhoria nas carteiras das companhias. “A consequência disso é a redução de taxas, uma vez que as seguradoras poderão ter mais dados históricos para negociar essa redução junto aos resseguradores.”, explica.

Para o analista da Taiul & Chequers, não se pode deixar de lado os pontos negativos que ainda chamam a atenção e preocupam, como a ausência de uma política governamental que reconheça a importância do setor para a sociedade. “É fundamental que se compreenda que a atividade securitária desonera o Estado e aumenta as poupanças institucionais, além de representar uma salvaguarda aos direitos da população”, comenta. Costa critica ainda o que chama de “excessiva intervenção do órgão supervisor na regulação dos Grandes Riscos”, citando os clausulados padronizados para a cobertura de riscos complexos. Isso, para ele, dificulta o desenvolvimento.

Mas os grandes riscos são feitos também de pensamentos estruturados e de longo prazo e, balanceando a visão, Costa destaca que “os pacotes de concessões e privatizações em áreas aeroportuárias, óleo e gás e transporte, aliados aos primeiros sinais de crescimento econômico, são pontos positivos para a retomada desse mercado”.

Com a retomada da economia o mercado de seguros de grandes riscos deve voltar para o rumo do crescimento, principalmente nas carteiras ligadas à construção, como RC Obras, RC Profissional, Engenharia e Garantia. “Para 2018 existe grande expectativa de crescimento a partir do momento que investimentos neste setor sejam retomados, aposta Soares Junior, da Zurich.

Sem surpresas

Todas as movimentações que ocorrem agora, portanto, não são surpresas ou sinais de que algo não vai bem. O momento pode ser difícil, mas por isso mesmo as seguradoras pretendem focar em sua expertise. Os especialistas acreditam que esses reposicionamentos são naturais de mercado, tanto aqui quanto mundo afora. “É exatamente o que se busca em uma incorporação ou joint venture, por exemplo. Via de regra, aquele que detém expertise prevalece sobre aquele que detém o capital. Isso interessa a ambas as partes”, esclarece Bittar. Regras de solvência, aprimoramento de práticas de controle e gestão de riscos e demanda por especialização todos esses são fatores que determinam as escolhas das empresas em continuar ou não em um segmento. “Apesar de movimentar elevados prêmios, a carteira também demanda fôlego das seguradoras; enquanto os grandes players mundiais da indústria securitária sentem- -se mais confortáveis para lidar com as elevadas reservas de capital decorrentes da subscrição de Grandes Riscos, os operadores nacionais preferem manter suas posições no varejo, onde dominam as redes de distribuição e atendimento”, elucida Julio Costa.

Para voltar ao jogo não é preciso fazer conjecturas mirabolantes, mas >>> mercado melhorar internamente para que isso se reflita no mercado. Especialização, qualificação e gerenciamento de risco serão ferramentas cruciais; intercâmbio com o mercado internacional e compreensão do mercado local também. “É preciso que sejam promovidas inserções de princípios e costumes securitários, amplamente utilizados em outros mercados desenvolvidos”, aconselha o advogado. Mas a melhora não depende só da boa vontade do setor de seguros. “O mercado busca crescer em segmentos não “tradicionais”, como seguro Garantia Judicial e apostando em novos produtos como Cyber. No entanto, as obras de infraestrutura são importantes para movimentar a demanda por diferentes tipos de produtos disponibilizados pelas seguradoras”, avalia Soares Junior, da Zurich.

Austral começa a operar em Riscos Operacionais de Grandes Riscos

A Austral Seguradora está lan- çando uma nova cobertura em Riscos Operacionais de Grandes Riscos em liderança. A operação terá início em setembro. O foco do novo produto são os setores industrial, fabril, rodoviário e energia. “Mas todos os segmentos serão analisados de forma personalizada”, enfatiza Alessandra Miranda, head de Property e Casualty da empresa.

A escolha pela abertura desta carteira, na qual a Austral já atua em cosseguro aceito, vai ao encontro da necessidade dos clientes em ter um atendimento mais completo. Em um futuro próximo, a Austral abrirá as carteiras de Responsabilidade Civil e Riscos Diversos. “Queremos atender o cliente no conjunto de suas demandas, desde os riscos de Garantia e Engenharia até o Property. Não queremos ser os maiores, mas os melhores. Nossa meta é ser vista como a seguradora que entende, de fato, o negócio do cliente”, ressalta.

O grande diferencial desta operação é a personalização do atendimento, com ênfase na qualidade e na eliminação de burocracia, criando soluções exclusivas para atender às necessidades do cliente, sempre com transparência para fortalecer os laços e proporcionando agilidade às negocia- ções. Alessandra explica que o foco é o serviço e que cada risco será analisado em conjunto com o cliente, de forma a entender as suas preocupações.

O Property foi estruturado a pedido dos próprios clientes, que não encontram no mercado a eficiência no atendimento. “A capacidade inicial é de R$ 100 milhões. Mas a expectativa é ampliá-la até o final do ano”, conclui a executiva.

riscos financeiros | garantia judicial

Liquidez e reestruturação

Grande aposta do mercado em 2015, modalidade volta a ganhar destaque com perspectivas de crescimento em 2017

Por Amanda Cruz

Em 2015, o Seguro Garantia Judicial passou por importantes mudanças. Com a aprovação do Projeto de Lei de conversão da MP 651/14, ele continuou equiparado à caução em dinheiro nos processos de execução fiscal e incluiu a necessidade de dois anos de vigência das apólices e o fim da obrigatoriedade de ter comprovada a presença de resseguro para valores acima de R$ 10 milhões segurados. Isso fez com que essa modalidade fosse uma das grandes apostas daquele ano, quando os ganhos foram 30% maiores do que em 2014.

De fato, a modalidade mostrou sua força e concretizou as expectativas e a crise, que muitas vezes é a algoz do crescimento, acabou por destacá-la, já que os outros tipo de garantia, como a de performance, ficaram de lado. Em 2016, o crescimento foi de 20% e, só no primeiro trimestre de 2017, a carteira já aumentou 19%, acompanhando a boa onda. “A minha projeção, para o ano [2017], é um crescimento de 20,25% o que deve resultar em aproximadamente R$ 2 bilhões de prêmios emitidos; no último ano esse número foi de R$ 1,6 bilhão. As mudanças foram positivas porque, em dois anos de crise, conseguimos manter o crescimento da carteira”, comemora Rodrigo Loureiro, head de Surety Brazil da Willis Towers Watson.

O cenário foi até além do esperado. Até meados de 2008, nem mesmo os magistrados conheciam bem a modalidade e as próprias seguradoras não dominavam o produto. Com o passar dos anos, o conhecimento sobre essa alternativa se espalhou, trazendo não somente uma opção, mas expandindoo conhecimento sobre o mercado e a viabilidade do produto. “Hoje, 90% das grandes empresas não usam mais fiança bancária. Sendo assim, elas operam, conhecem ou estão começando a demandar o Garantia Judicial. É muito difícil alguma empresa que nunca tenha sequer ouvido falar do produto”, afirma Stephanie Zalcman, diretora de Seguro Garantia da JLT. Taxas mais baixas, preços menores e a garantia de não onerar o balanço da empresa tomando limite de crédito – como acontece nos bancos – são algumas das vantagens que levam a Garantia Judicial a ter cada vez mais clientes.

Enquanto os investimentos em infraestrutura ficaram estagnados no País, o mercado se concentrou muito na Garantia Judicial. “Apesar de não termos mais a separação na Susep para avaliar efetivamente, podemos afirmar, até com certo conservadorismo, que essa modalidade representou 65% do mercado de Garantias”, constata Daniela Dúran, gerente de Produtos Financeiros da Aon Brasil.

Investigações e consequências

Como passar ao largo da crise? Daniela explica que a crise, em si, não foi um catalisador para o produto, mas alguns fatores que vêm com ela contribuem para o aumento. “O fisco precisa compensar a desaceleração da arrecadação de impostos e ele vê as autuações fiscais como uma possibilidade”, exemplifica. Por outro lado, a capacidade econômica financeira das empresas acaba piorando, o que faz com que as seguradoras sejam mais cautelosas na aceitação de riscos. Mesmo assim, o mercado de seguros leva vantagem, já que ao mesmo tempo os bancos têm restrição de crédito.

O produto é, em última análise, uma garantia financeira dada em nome de uma empresa, se ela for condenada em processo judicial e não efetuar o pagamento da indenização, a seguradora cobre. Portanto, a modalidade é afetada porque com menos capacidade dessas empresas, os sinistros podem aumentar e a subscrição precisa ser mais cuidadosa. Assim, as empresas com boa saúde financeira são recompensadas. Segundo o executivo da Willis, uma bolha no mercado poderá estourar. “Há muitas empresas sendo investigadas em outras operações além da Lava-Jato, sejam operações fiscais ou policiais. Se forem efetuadas todas as garantias para os processos da CAF – Comitê de Fusões e Aquisições que supervisiona e regula as aquisições de empresas – o mercado deve dar uma guinada e, se for esse ano, chegar a 25% de crescimento”, explica. Como as garantias judiciais são baseadas nas fiscais, o rumo sempre estará atrelado à fiscalização do governo. Se ela está mais rígida, as empresas enfrentam processos judiciais. “Agora que o governo precisa de caixa, acredito que isso deverá crescer. Com o tempo, as empresas começam a ficar mais exigentes. Se o governo está apertando muito a fiscalização, elas começam a andar mais na linha. De certa forma, com o tempo o crescimento pode decair”, completa Loureiro.

Com mais critério nas análises, o contato entre seguradoras e seus clientes de Garantia Judicial está mais próximo do que nunca. É claro que as condições de uma empresa podem vir a mudar caso ela sofra um impacto financeiro. Atualmente, empresas investigadas têm pouca ou nenhuma chance de conseguir uma nova apólice para garantir seus pleitos judiciais, o que acabou sendo benéfico para o mercado. “Aliado a tudo isso, tem a crise política. As grandes empreiteiras sempre foram tomadoras de seguro garantia e estão enfrentando problemas políticos O mercado ressegurador e as empresas internacionais ficam mais conservadoras e talvez não tão receptivas para alguns riscos que aceitavam antes. Os grandes projetos eram movimentados por essas empreiteiras, por isso os investimentos foram concentrados na modalidade judicial nos últimos dois anos”, ressalta Daniela.

O apetite muda, mas as companhias encontram maneiras de navegar, ainda que em mares agitados. “Os próprios resseguradores internacionais vêm ao Brasil para conhecer a operação e entender porque há tantos processos judiciais aqui. Lá fora não existem tantos litígios e quando há são resolvidos rapidamente. No País, um processo pode durar 10 anos. Muitos resseguradores estrangeiros tiveram aumento considerável em suas carteiras por aqui”, comenta Stephanie, da JLT.

Ampla aceitação

Com a crescente aceitação do seguro Garantia Judicial, as modalidades bancárias se tornaram, de certa forma, obsoletas. Mas isso não faz com que o seguro esteja totalmente finalizado. As mudanças de 2015 foram importantes e trouxeram mais corretores com desejo de especialização, mas alguns ajustes legais podem ser necessários. “Pensando desde 2007, quando houve o primeiro registro na lei, até os dias de hoje o produto evoluiu bastante. Na esfera cível, ele já tinha previsão legal, na esfera fiscal, com a reforma na lei de isenções, em 2014, ele passou a ser previsto como uma modalidade apta para garantir essas isenções. Quando olhamos para a esfera trabalhista, acreditamos que a recente reforma da CLT também passará a aceitar a garantia em seus processos”, elucida Daniela.

Loureiro observa que, embora a legislação possa ser repensada e, quem sabe, melhorada, isso dependerá muito de fatores externos. “As seguradoras estão tentando aprovar uma nova legislação, aumentando o percentual de importância segurada em contratos públicos, porque hoje eles entendem que é baixo [5%] – as companhias querem 30%. Mas isso só vai passar no congresso depois de todas as reformas que o governo pretende. Essa matéria é secundária agora”, sinaliza.

Já Stephanie vê mais mudanças possíveis e necessárias. “Muita coisa ainda pode mudar para melhorar a aceitação dos juízes e fazê-los entender melhor como funciona o produto. Quando acompanhamos o cliente, vemos que as dúvidas são menos em relação ao seguro do que às seguradoras. Pois elas não são as mesmas que atuam no ramo de automóveis, por exemplo. São desconhecidas aos olhos do magistrado. Por isso, eles precisam saber bem o quanto aquela companhia pode assegurar, de fato”, explica.

O otimismo é claro em quem atua com o produto, porque ele começa a aparecer em um momento que os créditos bancários são baixos e que nunca se precisou tanto de uma alternativa para arcar com as obrigações e fazer ao má- ximo para que as empresas não quebrem enquanto passam por mais esse momento de turbulência.

gerenciamento de riscos | transportes

O destino das cargas

Transportadores, corretores de seguros e seguradores procuram maneiras de continuar a proteger a circulação em rodovias em meio ao aumento da criminalidade

Por Amanda Cruz

Para um País que depende majoritariamente de transporte rodoviário para fazer as cargas circularem, a condição desse modal não vai muito bem. Além das estradas com condições inadequadas, o roubo de cargas acendeu o alerta vermelho para os transportadores e faz especialistas do mercado pensarem na possibilidade das seguradoras deixarem de atender o risco nas localidades mais preocupantes. Os prejuízos com esses sinistros registraram, nos últimos seis anos, custo de mais de R$ 6 bilhões. O País foi considerado o 8° lugar mais perigoso para essa modalidade pelo comitê do setor de cargas do Reino Unido. O Rio de Janeiro é o expoente dos riscos, com mais de 9 mil roubos de cargas registrados em 2016. “Historicamente, o setor de logística sempre sofreu com a falta de investimentos no Brasil. Os investimentos sempre estiveram aquém das necessidades de um país de proporção continental”, atesta Adailton Dias, diretor de Transportes, Sinistros e Planejamento Estratégico da Sompo Seguros. Ele afirma que as organizações criminosas têm sido bem sucedidas em atingir um nível de sofisticação que supera os investimentos do Estado.

“Há uma soma de fatores que levam a esse cenário: crises institucionais, o foco em roubo de cargas – por conta da facilidade de distribuição dessas mercadorias – e a redução da fiscalização da Polícia Rodoviária Federal. É um moO destino das cargas Transportadores, corretores de seguros e seguradores procuram maneiras de continuar a proteger a circulação em rodovias em meio ao aumento da criminalidade Amanda Cruz mento de tensão e as seguradoras estão muito mais críticas na aceitação do risco, mais criteriosas. Mesmo assim, há espaço para expansão”, explica Iramil Bueno de Araújo, gerente geral Comercial de Transportes e Gerenciamento de Riscos da Rodobens Corretora de Seguros.

Seguro e segurança

O mercado de seguros faz sua parte, oferecendo diversas coberturas e até participando de obrigatoriedades de proteção. Por isso, apesar dos cuidados redobrados, a carteira apresenta aumento de procura. Esse movimento era esperado, já que em época de ameaças as pessoas tendem mais a procurar mais proteção. O seguro de Responsabilidade Civil do Transportador é de contratação obrigatória e há também o RC Facultativo, que, de acordo com Araújo, é bastante contratado. “Quanto às coberturas adicionais, depende muito do tipo da carga que é transportada. Quem entrega muito na região do Pantanal, contrata a cobertura de trajeto fluvial, por exemplo”, explica. Há ainda o risco de avarias para quem transporta bebidas, móveis e coisas frágeis em geral; transporte de máquinas que necessitam de outro maquinário para fazer a carga e a descarga e içamento, entre tantas outras opções.

Ainda que existam essas modalidades obrigatórias, mesmo com tanta utilização, a contratação está aquém do que deveria. Um espaço para o mercado crescer, sem dúvidas, mas também a preocupação sobre a efetividade do avanço da cultura de seguro às pessoas responsáveis pela movimentação de boa parte da produção nacional.

Imprescindível, mas com muita necessidade de especialização, o produto precisa ter, não somente no segurador mas também no corretor, a figura de quem entende o que está fazendo. O transportador sabe na prática quais são as dificuldades, mas apenas o especialista pode dizer a ele, como, quando e onde contratar, esclarecendo os riscos e as leis que permeiam cada contratação. Para o corretor de seguros que quiser especializar-se, esse sem dúvida, pode ser um bom caminho, porque há muito mais a ser avaliado e aprendido sobre a carteira. “Mesmo que o roubo seja um problema muito sério, também há ocorrências igualmente críticas como acidentes no trajeto, derramamento de carga, acidentes durante o embarque, atrasos na entrega, entrega de mercadorias com avarias e outros fatores externos que podem impactar economicamente a operação”, lembra Dias.

O maior engajamento dos transportadores que estão próximos aos corretores na hora de fechar a apólice é muito positivo. Eles entendem o que contratam e pensam mais em como mitigar seus riscos. “As circunstâncias levam o transportador para isso. Ele sabe que, se houver muitos sinistros, pode ter dificuldade de renovar a apólice ou ter seu custo muito mais elevado. Ele precisa participar, pois não é um trabalho possível de ser feito isoladamente”, enfatiza Dias.

Só que na visão de Jamil Badreddini, diretor da Monte Líbano Corretora de Seguros, localizada em Goiânia, o processo de trazer o transportador para perto é um trabalho árduo para os corretores. “O empresariado goiano ainda não tem a cultura de buscar por essa proteção nos processos dos embarcadores, pois grande parte de suas cargas são terceirizadas para as transportadoras. Cresce através dos corretores a divulgação do ramo de Transporte Nacional a esse público”, pondera.

Escoamento agropecuário

A região Sudeste é, certamente, muito afetada, mas outros locais também têm visto esse assustador crescimento. O Estado de Goiás, nacionalmente conhecido pelo transporte por conta da movimentação agropecuária, é um exemplo desse aumento. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária, em 2016 o índice de roubos nas estradas cresceu 30% – em comparação com 2015. “Estamos falando do estado que é o quarto produtor de grãos, com ampla área voltada às culturas de soja, sorgo, milho, cana-de-açúcar, leguminosas, entre outras. Goiás também é detentor do terceiro maior rebanho bovino do Brasil, além da sexta posição tanto na suinocultura quanto na avicultura. Números como esses não podem ser ignorados”, destaca o executivo da Sompo.

Qualquer tipo de carga é alvo. Eletroeletrônicos, pneus, produtos alimentícios, bebidas etc. “Dentro do ramo alimentício, o que chama atenção é que houve aumento na parte de laticínios, que antes não tinha uma incidência tão grande”, exemplifica Iramil Araújo. Adaílton Dias completa a informação, afirmando que na região de Goiás, produtos do agronegó- cio também são um risco. “De grãos até cargas vivas (bovinos, suínos etc), que há um tempo era um tipo de carga menos visada”, explica.

No início de 2017, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, além da Polícia Militar de Goiás cumpriram 82 mandatos judiciais na ação intitulada Hicsos, elaborada para parar uma quadrilha de saqueadores responsável por, em média, 25 roubos por mês, causando um prejuízo estimado em R$ 30 milhões. A investigação leva a crer que empresários financiavam essas ações. Os produtos roubados eram, posteriormente, vendidos como se fossem mercadoria legal.

Badreddini atesta no cotidiano esse momento. “Tínhamos clientes que não haviam passado por sinistros e, de repente, chegaram até a ter quatro sinistros em uma mesma vigência. A recessão e os problemas de ordem política da nossa nação levaram ao caos, especialmente em 2016, afetando os resultados técnicos”, afirma.

O medo de roubos é tão alto que, em algumas estradas, muitos motoristas só trafegam em comboio, por ser uma iniciativa que coíbe a ação dessas quadrilhas. “Outro problema é a condição das estradas. Há rodovias na região [ Goiás] com falta de manutenção, esburacadas, com sinalização precária ou até mesmo sem pavimentação, intransitáveis. Isso aumenta substancialmente o risco de quebra de veículos e de acidentes como colisões e derramamento de cargas”, aponta Dias.

Gerenciamento de riscos. Esta é a palavra de ordem, nesse e em qualquer outro setor que esteja passando por momentos críticos. Ao contrário de áreas como a de Garantias de Obras, que ficou parada, os transportes não só crescem como têm despertado mais cuidados. “Estamos acreditando bastante no ramo. Com a procura maior, o que buscamos fazer como corretores é uma pré-seleção de alguns riscos, orientando o cliente, aliando as coisas para um resultado bom e de contínua perspectiva de crescimento”, diz Araújo.

A única desconfiança que fica está além do que qualquer player do mercado pode alcançar. O seguro existe para proteger a sociedade de eventualidades, mas quando isso se torna recorrente, fica insustentável para as companhias oferecer a proteção. “O roubo de carga é um mal que tem elevado substancialmente o ‘custo Brasil’. O resultado, em última instância, é que a conta não fica apenas para a seguradora, para a transportadora ou para o dono da carga. Ele está gerando uma conta alta que é paga por toda a sociedade. É importante uma mobilização por parte dos agentes do setor”, afirma o executivo da Sompo.

O corretor da Monte Líbano acredita que uma medida que deve ser tomada é “dar mais liberdade para a Delegacia de Roubo de Cargas e sua política de atuação na região, para que possam agir e fechar o cerco das fronteiras do Estado”. O engajamento parece existir também entre os corretores. “Não precisamos apenas de equipamentos de monitoramento, mas de toda a logística associada ao tema, vinda de todos os players. Aliado a isso, precisamos pressionar os órgãos públicos para melhorar a situação. Por mais que você tenha um aparato de seguro, de gerenciamento de riscos, logística, se o poder público não puder ser mais efetivo, as coisas ficarão cada vez mais difíceis”, finaliza Araújo.

mercado | seguro de crédito

Saúde financeira em dia

Com a inadimplência crescendo no mundo corporativo, é importante que as empresas que vendem produtos ou serviços a prazo protejam seus recebíveis 

Por Lívia Sousa

Palavra bem conhecida e presente no dia a dia dos consumido – res, o endividamento cresceu ainda mais nos últimos meses. Enquanto em dezembro passado o nú – mero de brasileiros com as contas no vermelho chegava a 58,3 milhões, no primeiro trimestre deste ano saltou para 59,2 milhões, de acordo com o indicador do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

A inadimplência, entretanto, preocu – pa não só as pessoas físicas, mas também as empresas. Outros dados divulgados pelas duas instituições indicam que o volume de companhias com contas em atraso cresceu 4,05% em junho, frente igual mês de 2016. Na comparação com o mês de maio, a variação foi positiva em 0,42%, após queda de 0,16% observada no levantamento passado.

Toda empresa que vende produtos ou serviços a prazo corre o risco de ter algum prejuízo com o possível não pagamento por parte dos clientes, o que se agrava ainda mais em tempos de crise econômica. Para evitar esse tipo de situa – ção, o ideal é que as companhias contem com um seguro de crédito, que indeniza o segurado (empresa que vendeu) em caso de não pagamento pelo cliente (empresa que comprou). “A cobertura pode ser bastante ampla, cobrindo todas as vendas, ou restrita a um ou poucos compradores que representem um risco de crédito maior para o vendedor. Pode incluir até o efeito da mora prolongada por parte do devedor”, explica Marcos Galantier D’Agostini, diretor geral da TSB Global Consultoria de Riscos e Seguros.

Indústrias em geral, especialmente multinacionais, são as principais contra – tantes do produto, que também se mostra interessante a prestadores de serviços, investidores e instituições financeiras. Segundo D’Agostini, securitizações recentes no mercado de capitais têm contado com o seguro de crédito para os investidores naquilo que se relaciona aos recebíveis cedidos para a carteira securitizada – isso reduz a taxa de juros exigida e oferece proteção ampla contra a perda por inadimplência dos recebíveis, por exemplo –, assim como as empresas do comércio exterior – tanto os exportadores, abrindo e mantendo mercados não-tradicionais, como os importadores, que podem economizar recursos substanciais ao substituir as cartas de crédito. Também estão na lista os exportadores e importadores de máquinas e equipamentos, que exigem prazos mais longos de pagamento, tomando limites de crédito muitas vezes escassos das suas institui- ções financiadoras.

Apesar deste tipo de seguro cobrir as vendas apenas para pessoas jurídicas, existe cobertura para o empreendedor individual, desde que possua um CNPJ válido. Em geral, não há diferenças nas coberturas para as empresas individuais.

“Quando se fala de cobertura para todas as vendas, é possível incluir as vendas para compradores pessoas físicas. Exemplo disso é encontrado no agronegócio, onde muitos produtores rurais são pessoas físicas e tomadores de crédito em volumes bastante acentuados”, afirma D’Agostini. Segundo ele, com poucas exceções, é difícil encontrar algum fornecedor de insumos para o agronegócio que venda integralmente à vista, sendo o prazo safra o melhor para o produtor. “Afora o aspecto mercantil das vendas, financiadores da safra que adiantaram recursos aos produtores, tradings que estão interessadas na entrega física dos produtos, instituições financeiras de maneira geral e investidores nos diversos instrumentos de financiamento ao setor do agronegócio são todos, sem exceção, interessados e compradores de seguro de crédito.”

Pontos fortes

São vários os critérios avaliados para aprovar ou renovar uma apólice de seguro de crédito e todos eles dependem da aceitação de riscos de cada seguradora. Mas, de maneira geral, são analisados individualmente todos os clientes para os quais o segurado venda a prazo. É verificado também o setor de atividade do segurado, o prazo de vendas praticado para cada cliente e os atrasos e perdas registradas nos últimos anos. Todas levam em consideração, principalmente, o histórico de inadimplência e perdas contabilizadas, além das faixas de limite de crédito concedidos e de prazos para pagamento praticados.

“Essas informações servem de base para o cálculo do prêmio do seguro. Outras variáveis podem ser consideradas dependendo do critério de cada seguradora”, lembra Cristina Salazar, vice-presidente da Comissão de Riscos de Crédito e Garantia da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), acrescentando que a solução pode evitar uma inadimplência em cadeia e manter o fluxo de caixa das empresas, principalmente em épocas de grave crise econômica.

A facilidade na busca de novos negó- cios é uma das vantagens adicionais, visto que não depende da empresa decidir se o potencial cliente pagará em dia. Caso aprove o valor solicitado, a seguradora concederá cobertura para as vendas a prazo, mesmo que o segurado não tenha histórico de relacionamento com o cliente. No caso do seguro de crédito à exportação, essa vantagem é ainda mais perceptível, pois é mais difícil conhecer e decidir sobre valores de vendas a prazo para clientes em outros países. “Com o seguro fica bem mais fácil exportar com garantia de recebimento”, garante a executiva.

Outro benefício é o custo de cobran- ça, principalmente no exterior. A empresa que contrata o seguro não terá que se preocupar em cobrar as dívidas vencidas e incorrer em custos com recuperações e advogados: será função da seguradora realizar as gestões de cobrança dos cré- ditos em atraso.

Com ou sem crise

O aumento da inadimplência, agravada pelo crescimento do número de recuperações judiciais e falências, contribuem para o maior interesse no seguro de crédito. “O cenário atual pede aos gestores planejamento, assertividade e impõem um painel de extrema eficiência para os negócios. A mudança nesta postura é confirmada pelo aumento do consumo do seguro de crédito interno, que cresceu aproximadamente 55% em três anos”, declara o CEO da Galcorr, Gustavo Tozo, que vê uma atuação mais criativa por parte do mercado segurador em geral e se mostra otimista com relação às mudanças deste setor no Brasil. “Com faturamento da ordem de R$ 10 milhões ao ano, o segmento tem crescido e se tornado mais sólido e conhecido, impulsionado pelo efeito da crise. As seguradoras desenvolvem produtos e serviços cada vez mais próximos às necessidades das empresas e clientes.”

Quem também encara o futuro do mercado com bons olhos é Edmur de Almeida, coordenador da Comissão de Crédito, Garantia & Fiança do Sindicato dos Corretores de Seguros no Estado de São Paulo (Sincor-SP). Ele não só destaca o potencial para o crescimento da venda desse seguro no país – atualmente o produto não soma 500 apólices emitidas – como afirma que o corretor exerce um papel importante nesse processo, trazendo maior proteção às empresas, fidelizando clientes, diversificando carteira e aumentando sua renda.

“É um ciclo virtuoso”, diz ele, que apesar da demanda aumentar naturalmente nos momentos de instabilidade econô- mica lembra que o seguro é importante em qualquer época, com ou sem crise. “O ‘contas a receber’ é um ativo tão importante quanto os demais para a empresa. Caso esse ativo não se converta em receita, dependendo do volume, a companhia pode quebrar”, declara Almeida, que espera um aumento gradativo do número de apólices compradas a partir da divulgação maior do produto e da conscientização dos empresários de que o seguro é importante em qualquer época.

Frequentemente difundido no mundo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o seguro de crédito ainda é pouco contratado no Brasil, embora esteja crescendo por aqui. Há a falta de informação de que ele existe, e, ao mesmo tempo, falta de cultura das empresas brasileiras. Muitas delas, inclusive, ainda concedem créditos elevados. Com análises, cadastram ou solicitam uma carta de fiança pessoal dos sócios das companhias e algumas solicitam garantias hipotecárias, que correm o risco de nunca serem executadas. Poucas exigem fiança bancária, com taxas proibitivas.

“É comum as empresas contratarem apólices patrimoniais para prédios e instalações e seguro de vida para os funcionários, e se esquecem dos recebíveis”, declara Luiz Mauricio Janela, diretor da Global Opsi Corretora de Seguros. “Com o tempo e os solavancos da economia, isso vai mudar e os produtos vão crescer quando descobrirem o seguro de crédito. Ainda há um vasto mercado para ser explorado. Isso significa muitas oportunidades para os corretores de seguros que queiram se especializar e para empresas que queiram gerir melhor os seus riscos”, acredita.

Uma apólice deste tipo pode representar um diferencial competitivo para a empresa, pois ao conceder prazo a seus clientes a exposição ao risco de não recebimento é alta. “É uma importante proteção da saúde financeira”, finaliza

Seguro de crédito x carta de crédito

Embora os nomes sejam parecidos, o seguro de crédito e a carta de crédito são instrumentos diferentes dentro de uma ação comercial e, em princípio, produtos concorrentes.

A carta de crédito é solicitada pelo exportador ao importador no exterior como garantia de um possível inadimplemento e o custo é pago pelo importador. Já o seguro de crédito é contratado pelo exportador (segurado da apólice), que paga o prêmio e solicita cobertura aos seus importadores. Caso a seguradora conceda a cobertura, ele não necessita mais solicitar carta de crédito para seus clientes (importadores). Apesar de no caso do seguro o custo ser pago pelo segurado, ele fica com maior flexibilidade para vender, pois não necessita esperar que o importador consiga a carta de crédito.

No caso do seguro de crédito o exportador pode vender o valor que desejar, desde que a seguradora aprove o valor, e não dependerá do valor de uma carta de crédito que lhe concede um terceiro. Dependendo do caso, o segurado consegue repassar o custo do seguro no preço da mercadoria vendida ao importador.

grandes riscos | césio 137

Uma lacuna a ser preenchida

 Tragédia radioativa completa 30 anos em setembro, mas não repercutiu de maneira acentuada no setor. Até hoje, os riscos nucleares são excluídos das apólices de seguro brasileiras. O que pode ser feito a partir de agora?

Por Lívia Sousa

Quando dois catadores de lixo encontraram um aparelho de radioterapia abandonado irregularmente no antigo Instituto Goiano de Radioterapia e o venderam a um ferro-velho acreditando ser apenas uma sucata, não imaginavam que ali davam início ao maior acidente radiológico mundial fora das usinas nucleares. O caso Césio 137, ocorrido em Goiânia, completa 30 anos em setembro e até hoje deixa traumas que dificilmente serão apagados.

“O clima era de pânico geral não só em Goiás, mas também em aeroportos, hotéis e cidades por onde passassem os goianos”, lembra o corretor de seguros Marcos Mariath Rangel, que na época ocupava a diretoria regional de uma seguradora. Instalada no Setor Aeroporto, bairro onde ocorreu o acidente, a sucursal da companhia ficava em frente ao Ginásio de Esportes, local onde foram examinadas as pessoas que de alguma maneira tiveram contato com o Césio, seja por meio de outras pessoas ou locais irradiados.

A cápsula de césio 137 foi aberta pelos funcionários de um ferro-velho. Atraído pela coloração azulada brilhante, o dono do estabelecimento levou o elemento para dentro de casa e mostrou o “pó mágico”, como foi batizado, a familiares e amigos. Em questão de horas surgiram as primeiras contaminações e, dias depois, os primeiros óbitos. Oficialmente foram registradas quatro mortes, número contestado pela Associação de Vítimas do Césio 137 (AVCésio), que afirma ser difícil mensurar o número de vítimas – muitas desenvolveram problemas de saúde anos depois –, mas estima mais de 100 vítimas fatais e cerca de 1.600 pessoas afetadas pela exposição ao material.

Passadas quase três décadas, os personagens dessa história ainda lutam contra o preconceito e se queixam da omissão do estado quanto à prevenção e ao atendimento adequado, apesar da justiça ter determinado que o governo estadual prestasse auxílio aos pacientes e familiares em até terceiro grau. Mas como o seguro poderia ajudar neste caso?

Efeitos estagnados

O acidente ocorreu quando o seguro ainda era incipiente no País. Sendo assim, naquela época não repercutiu de maneira acentuada no setor, até porque não existia nenhum tipo de cobertura securitária para a situação.

É fato que a legislação nacional e as medidas preventivas avançaram de lá para cá, mas os efeitos da tragédia continuaram estagnados quando são analisados sob a ótica do mercado segurador. O que era uma oportunidade para se iniciar discussões importantes, não evoluiu. Até hoje, praticamente todas as apólices de seguros do Brasil excluem os riscos nucleares de qualquer natureza, fazendo com que eles fiquem fora do radar dos subscritores das seguradoras e dos corretores.

“A larga utilização de material radioativo é encontrada em vários segmentos, nos processos industriais. De qualquer forma, o risco continua excluído nas apólices dos seguros de property, RC, vida etc.”, afirma o advogado e consultor Walter Polido. Ele lamenta que o mercado segurador nacional atue desta maneira em relação a outras ocorrências catastróficas, em que não se pontua ou se cria mecanismos que possam modificar o padrão existente, e cita como exemplo as mudanças climáticas e a poluição ambiental.

No primeiro caso, enquanto seguradoras e resseguradores mundiais se juntam aos centros acadêmicos financiando projetos de novas tecnologias e buscam medidas preventivas de riscos, por aqui o tema está praticamente estagnado. Já no segundo, Polido coloca os Estados Unidos no centro da discussão. Na década de 1980, mesmo diante de problemas jurídicos e judiciais, o país deixou de operar com o risco de forma primária e representada por cláusula adicional aos seguros de RC Gerais e criou apólices específicas de Seguros Ambientais (stand alone), com coberturas amplas e nomenclatura técnico-jurídica adequada. O Brasil, por sua vez, ainda adota o mesmo padrão praticado pelos norte-americanos há mais de três décadas, apesar de todos os problemas que também surgem diante de sinistros catastróficos, como o da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015.

“As empresas que compõem o mercado segurador privado ficam reféns do Estado e operam dentro dos limites diminutos de coberturas, adotando clausulados padronizados. Mesmo as seguradoras estrangeiras que aqui operam não modificam os padrões de subscrição existentes”, critica. “O seguro é dinâmico. A técnica e o pensamento não podem se perpetuar no tempo e deixar os riscos emoldurados por clausulados obsoletos.”

Tema delicado

Nem todos abordam ou gostam de falar sobre o cenário estagnante, mas ele é real e deve ser enfrentado abertamente. “Precisamos, sem alarde, conscientizar pessoas, empresas e governos sobre os riscos e suas consequências, bem como criar produtos securitários para cobrir danos e responsabilidades civis”, defende o corretor Marcos Mariath Rangel.

Como discutir um assunto tão delicado é a grande questão. Não se trata mais do que deveria ter sido feito em setembro de 1987, mas sim do que poderá ser feito daqui para frente. Advogado da área de seguros e coordenador acadêmico de cursos e palestrante da Escola Nacional de Seguros, Sergio Barroso de Mello defende que a melhor maneira de se fazer evoluir o setor de seguros de um país é dar-lhe liberdade de formulação negocial. Assim, privilegia-se aquilo que o segurador tem de melhor: a criatividade.

“Na medida em que os órgãos reguladores se preocuparem mais com a solvência econômica das empresas e menos com a formulação de seus produtos, certamente o maior beneficiário será o consumidor, que terá acesso garantido a produtos capazes de atender as suas demandas de forma específica e em condições econômicas justas, em razão da competitividade dos mercados abertos e pouco regulados no campo contratual”, explica.

Produtos da natureza do césio 137 são extremamente gravosos e aumentam o risco exponencialmente, razão pela qual são costumeiramente excluídos também nos seguros ambientais. De acordo com o especialista, a única forma de possibilitar cobertura para esse risco seria a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que fiscaliza o setor, liberar tais coberturas e deixar ao critério do mercado a sua aceitação e a respectiva taxação do risco. “Para isso será preciso alterar a Circular nº 437/2012, dada a sua velada vedação”, diz Mello.

Já a gerente Placement da Marsh Brasil, Katia Papaioannou, lembra que a questão relacionada a danos ambientais ainda é muito focada e difundida no âmbito corporativo, embora existam leis, decretos, normas e tópicos constitucionais sobre a responsabilidade ambiental particular. “A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente dito (dano ambiental público) ou por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva, fundada na teoria do risco integral. Mesmo com esses dispositivos a fiscalização ainda é ineficiente, o que expõe as pessoas e o meio ambiente a possibilidade de desastres ambientais como este e outros recém ocorridos”, diz.

Contudo, é possível conceder cobertura para danos a terceiros decorrentes de resíduos radioativos de baixa atividade – em que não há a necessidade de medidas protecionais contra radiações impostas pelos órgãos da saúde pública e do meio ambiente, mas depende de aprovação da seguradora.

“No Brasil temos um número limitado de seguradoras operando nesta modalidade. O mercado restrito dispõe de clausulados amplos (padrão internacional), capacidade para contratação de limites elevados e condições competitivas, mas ainda assim a adesão para contratação de apólice é baixa, apesar deste seguro já ser considerado uma ferramenta importante para gestão ambiental e gerenciamento de áreas contaminadas e de efetivamente minimizar a exposição a riscos, prevenindo perdas e a descontinuidade dos negócios.”

Com a palavra, a Susep

Procurada pela Revista Apólice, a autarquia afirma que a atividade securitária é regida, primordialmente, pelo Código Civil; logo, impera na atividade a liberdade contratual naquilo que não contrariar a legislação vigente. “Por outro lado, a autarquia não determina a exclusão sumária dos riscos nucleares nas apólices de seguros. Essa exclusão é determinada por iniciativa do mercado, de forma espontânea e livre, sem ingerência da Susep. Há inclusive rubrica especial para os riscos nucleares (1872), prevista na Circular Susep nº 535/2016, que trata da classificação dos grupos e ramos de seguros, tendo as seguradoras, dessa forma, a liberdade para criar e registrar produtos próprios de riscos nucleares, junto à Susep”, declara, em nota, assegurando ainda que não verifica demandas provenientes de entidades representativas de consumidores de seguros, bem como das entidades que representam o setor regulado, para debate da questão junto à autarquia.

Condenação dos responsáveis

Nove anos depois da tragédia, três sócios do antigo Instituto Goiano de Radioterapia e um funcionário da clínica foram condenados a três anos e meio de prisão em regime semiaberto por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). No entanto, as penas foram trocadas por serviços comunitários.

Também condenadas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que deveria fiscalizar o césio na clínica, e o governo do estado de Goiás, foram obrigados a pagar as indenizações às vítimas e a seus parentes.

big data | Cesvi/Mapfre

Ferramenta do Cesvi/Mapfre reduz tempo de orçamento em 47%

A funcionalidade Smart utiliza banco de dados com mais de 1 milhão de sinistros para pré- definir orçamentos de reparo dos veículos

O Centro de Experimentação e Segurança Viária da Mapfre – Cesvi/Mapfre – pesquisa, acompanha e se antecipa às novidades de mercado desde sua funda- ção, há 23 anos. Agora, apresenta a Smart, uma funcionalidade do sistema Órion Orçamentos, destinado ao mercado segurador e reparador. A ferramenta utiliza o expressivo banco de dados de vistorias que o Centro possui para otimizar os orçamentos de reparo de veículos.

Da prancheta à moderna plataforma, a regulação de sinistros passou por diversos aprimoramentos, e o Cesvi/Mapfre esteve presente em cada um deles. Esse é mais um momento de implementar processos de inovação amplamente estudados. “Estamos sempre antenados e observando outros setores. Vimos que o Big Data é um caminho para sair na frente, e o que temos de mais valioso aqui são informa- ções sobre veículos compiladas de forma consistente”, observa Almir Fernandes, diretor executivo do Cesvi/Mapfre.

A ferramenta, inédita no Brasil, pode ser usada tanto por oficinas quanto por reguladores de sinistros do mercado de seguros e tem como diferencial a utilização de um banco de dados técnico e especializado com mais de 1 milhão de sinistros.

Desde 2003, o Cesvi/Mapfre armazena em sua plataforma Órion Orçamentos uma média de 88 mil novos sinistros por mês. Mas foi no final de 2014 que as informações começaram a ser enxergadas com potencial para criar a Smart. A funcionalidade agrega detalhes sobre quase 14 mil versões de carros, 10 mil peças e mil variações de colisões. Mesmo com uma base mais antiga, a escolha foi por compilar os dados a partir de 2008, alinhando-a aos veículos em circulação no Brasil atualmente.

“Essa funcionalidade traz uma inovação sem precedentes ao segmento, contribuindo para o aumento da produtividade ao reduzir etapas. A otimização do processo de orçamento traz ganhos operacionais para seguradoras e reguladoras, assim como para as reparadoras de veículos”, afirma Fernandes.

Ao selecionar o modelo, o ano do veículo e a região do impacto (se dianteira, traseira ou lateral), o sistema informa, por meio de um algoritmo que analisa informações históricas do banco de dados do Órion, um pré-orçamento, sugerindo as peças a serem trocadas e seus preços, tempo de reparo e o valor da mão de obra. A partir disso, o usuário tem a possibilidade de refinar a avaliação de custo do reparo, conforme sua expertise e particularidades do sinistro. Na comparação com a forma tradicional de fazer um orçamento, a Smart reduz o tempo de orçamentação em 47% e o número de cliques em 42%.

Lançada no início de agosto, a expectativa é que os usuários ganhem eficiência com a nova ferramenta. Fernandes afirma que seus parceiros estão ansiosos pela atualização, que já foi testada internamente e agora só precisa dos processos das companhias para que possa ser utilizada. “Haverá um período de integração, e as empresas que já estiverem preparadas podem começar a utilizar, as que ainda não estão podem continuar a usar o modelo tradicional até que esteja tudo pronto”, orienta.

A chancela para a ferramenta é, certamente, o conhecido know-how técnico do Cesvi. A confiabilidade, tão importante quando o assunto é tecnologia, já está certificada por quem usa o Órion, que passa a ser mais assertivo nos processos. “A solução possui um algoritmo eficiente e com um elevado nível de assertividade, que foi construído sobre a base estruturada do nosso banco de dados, aliado à capacidade e ao conhecimento técnico da equipe do Cesvi/Mapfre no processo de reparação e estrutura automotiva”, completa o executivo.

O Cesvi/Mapfre está confiante no rumo do mercado. As empresas parceiras, especialmente as seguradoras, há muito deixaram de lado os receios com o avanço e passaram a trilhar o caminho da tecnologia. A atualização é uma evolução e deverá impactar positivamente os players de mercado que buscam não apenas mais uma ferramenta, mas acompanhar as mudanças de comportamento e consequentes demandas de seus clientes finais.

ccs-sp | 45 anos

A voz ativa do setor

Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo completa 45 anos colaborando com as mudanças do mercado e focando na renovação da categoria

Por Lívia Sousa

Durante o regime militar, os sindicatos encontravam dificuldade para dialogar com os municípios, com os Estados e, sobretudo, com a União. Pensando nisso, 25 corretores de seguros de São Paulo se reuniram para melhorar essa interlocução. A ideia dos profissionais era criar uma entidade para dar voz ao mercado segurador paulista, que assim como outros segmentos estava impedido de manifestar seus anseios. Fundaram, no dia 5 de outubro de 1972, o Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo, (CCS-SP), que trabalhando estreitamente com o Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sincor-SP) deixou claras as ideias e reivindicações da categoria.

“Se havia dificuldade em falar como sindicato, a partir daquele momento não havia mais de colocar as nossas situações, angústias e propostas como Clube dos Corretores. O Clube tirava a conotação de embate junto ao governo, de movimentos, tudo o que os militares não gostavam”, lembra o atual mentor da entidade, Adevaldo Calegari.

A criação do CCS-SP abriu as portas para que uma série de outros clubes surgisse no estado e até mesmo fora dele – todos com a finalidade de colaborar com os sindicatos, de reunir corretores e de estreitar o relacionamento com os seguradores. Prestadores de serviços também se engajaram na causa e passaram a desenvolver soluções junto com a entidade. Até hoje, muitos deles lançam novidades em primeira mão durante os almoços realizados mensalmente pelo Clube.

Evoluindo junto com o mercado

Calegari define o Clube dos Corretores como um fórum de grandes mentes profissionais na área de seguros que trabalham em prol do setor. Mas para acompanhar o ritmo do mercado segurador, hoje bem mais dinâmico do que há quatro décadas, é necessário contar com cabeças capazes de entender, assimilar e colaborar com as mudanças. “O corretor não é mais simplesmente um vendedor de seguros. Ele é muito mais que isso. É um consultor do seu cliente, um solucionador dos problemas, e isso exige a competência que é preciso ter para participar do CCS- -SP”, alega.

O ingresso de novos associados segue um ritual que busca exatamente essa qualificação. É preciso ter dois padrinhosestar ligado ao Sincor há mais de dois anos, passar pela junta de conciliação da entidade e participar de projetos, sejam referentes à cidade ou ao estado de São Paulo ou em âmbito nacional. “Isso mostra bem a evolução do profissional e a necessidade de atualização, da busca interativa de participação em todos esses sistemas”, diz o mentor.

A busca pela renovação, inclusive, está entre as principais pautas do Clube, que tem trabalhado bastante a questão do empreendedorismo, tema que se aplica à responsabilidade do corretor como distribuidor do seguro. “O corretor precisa fazer isso com muita inteligência, conhecimento e tecnologia. Essa tecnologia passa exatamente pela atualização das informações. Por isso insisto de que devemos olhar para a sucessão”, declara Calegari, lembrando que os próximos anos serão de grandes desafios, seja pela comunicação ou pela exigência e conhecimento cada vez maiores dos consumidores.

Próximos passos

As comemorações aos 45 anos do Clube dos Corretores se estenderão até o mês de dezembro. Um dos marcos mais importantes será no dia 5 de outubro, quando a entidade receberá a Salva de Prata da Câmara Municipal de São Paulo. Além disso, já estão programados almoços mensais e a tradicional desta de fim de ano.

“Um dos planos desta gestão para os próximos meses está na transição nos processos de comunicação com os sócios e com mercado, sem perder a tradição dos 45 anos da história do CCS-SP”, adianta Evaldir Barboza de Paula, diretor secretario do Clube. “Vamos propiciar novos eventos, além dos convencionais, junto ao mercado de seguro para os nossos sócios e estreitar ainda mais o relacionamento com os patrocinadores, a fim de acompanharmos a evolução dos seus negócios depois da apresentação nos almoços tradicionais.”

Há também uma agenda pré-definida para o primeiro semestre de 2018 e a continuidade dos planos da atual gestão, que permanecerá à frente da entidade até outubro do mesmo ano. “Já estamos conversando sobre esse trabalho. Temos no Clube pessoas capacitadas para assumir a mentoria e continuar e melhorar o trabalho de levar aos associados e ao mercado uma visão moderna, positiva e atualizada dos fatos. Nosso objetivo final é oferecer ao cliente, que é a razão de todas as coisas, o melhor produto e o melhor serviço, da melhor condição”, finaliza Calegari.

Fatos marcantes

〉 Desde 1972, todos os presidentes de sindicatos saíram das bases do Clube. Mesmo depois da mudança do governo, a entidade não perdeu o viés de colaboração, seja através de ações, ideias, fóruns, movimentações, e de colaboração do ponto de vista das execuções das tarefas;

〉 A Fenacor nasceu dentro do Clube dos Corretores, em 1975. Os integrantes do grupo que comandavam o CCS-SP foram os primeiros presidentes da Federação;

〉 O Clube também foi responsável pelo surgimento do Jornal dos Corretores de Seguros (JCS), na década de 1970. Posteriormente, o Sincor-SP assumiu a publicação como seu veículo principal de comunicação. O jornal, que até então contava com 3 mil exemplares distribuídos no estado de São Paulo, passou para 15 mil unidades que circulam em todo o Brasil.

Gestões

  •  Antonio D’Amélio 1972/1974 1978/1980
  • José Francisco de Miranda 1974/1976
  • Renato Rubens Rocchi Guedes de Oliveira 1976/1978
  • Mariano Luiz Gregnanin 1980/1982
  • Enrico Lindenhem 1982/1984
  • Petr Purn 1984/1986
  • Paulo Rubens de Almeida 1986/1988
  • João Leopoldo Bracco de Lima 1988/1990
  • Milton D’Amélio 1990/1992
  • Luiz López Vazquez 1992/1994
  • Henrique Elias 1994/1996
  • Nelson Fontana 1996/1998
  • Antonio Carlos Scatolini 1998/2000
  • Pedro Barbato Filho 2000/2002
  • Ornaldo César Bertacini 2002/2004
  • Boris Ber 2004/2006 2006/2008
  • Nilson Arello Barbosa 2008/2010 2010/2012
  • Alexandre Camillo 2012/2013
  • Adevaldo Calegari 2014/2016 2016/2018

 

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